Assisto novamente a filmes como se eu quase estivesse assistindo a eles pela primeira vez. Assim foi ontem com Newness (2017), dirigido por Drake Doremus e roteirizado por Ben York Jones. No enredo, Martin Hallock [Nicholas Hoult] e Gabi Silva [Laia Costa] são dois jovens que se conhecem por intermédio de aplicativo telefônico.
O filme pode ser entendido como o amor nos tempos do celular. Newness é um retrato poético e eficaz de como os jovens de relacionam com a tecnologia e com o que sentem. Ela é, por assim dizer, personagem, é extensão dos mundos de Martin e de Gabi.
Se, por um lado, o casal está antenado quanto a relacionamentos que começam na esfera eletrônica, por outro, os dramas, as dúvidas, as dificuldades de que padecem são os mesmos a que o amor pode levar, não importa a época em que ocorra. Newness é um filme sobre o amor, tem os ingredientes dele, com suas alegrias e seus pesos.
Martin e Gabi não sabem o que fazer com o que sentem. Ou assim se tornam quando entendem que gostam um do outro. E não há tecnologia que ensine o que fazer com isso; a resposta, se é que há, é de cada um. No que diz respeito à tecnologia, estão em sintonia com o tempo em que vivem; no que diz respeito ao amor, as dificuldades que enfrentam no dia a dia da relação são as dificuldades de sempre, as alegrias que vivenciam são as de sempre. Em meio à parafernália eletrônica, o amor, na ótica, do filme, permanece o mesmo.
A paleta da produção é pouco saturada, as cores são frias, as imagens são subexpostas, a profundidade de campo é reduzida. Nessas escolhas estéticas, Martin e Gabi são com frequência mostrados em contraluz. A câmera de Drake Doremus, quase sempre em movimento, ora enquadra os personagens em tomadas fechadas, ora os observa com discrição, seja através de uma vidraça, seja a partir de outro cômodo. Em imprecisos contornos, somos postos diante das imprecisões de Martin e de Gabi.
A despeito da estética descolada, Newness é filme cujos personagens principais são, no fundo, conservadores. Martin e Gabi se entregam à vida e ao amor, às diversões e às possibilidades de encontros que nasceram a partir de aplicativos para celulares. Os dois jovens não sabem ao certo o que fazer com o que querem nem o que fazer com o que supõem querer. Querem crer que o conservadorismo não combina com o modo de vida que elegeram; destrambelham-se, contudo, quando tentam não ser conservadores.
Martin e Gabi são o amor como ele sempre foi, embora tentem exercê-lo no que julgam ser contemporâneo. O celular substituiu as encardidas missivas. No entanto, o casal encarna o amor no que ele tem de antigo e, talvez, de perene. Ele, o amor, pode fazer com que, diante da tela de um telefone ou numa pista de dança, a pessoa tenha em si os mesmos sentimentos de quando bilhetes marcando hora e local de encontros eram entregues às escondidas.