domingo, 31 de março de 2019

Não começou

O insano revisionismo (ditaduras militares, nazismo) do governo federal é patológico por querer negar a história e, por vezes, a ciência (Ernesto Araújo, Ricardo Salles). Nessa insanidade, ou querem dar nomes novos a atrocidades do passado ou querem delegar a outros, que não os autores, responsabilidades por crimes cometidos ou querem destruir conquistas de governos anteriores, sejam elas quais forem.

O problema de se governar desse modo é que tal abordagem nada constrói, justamente por estar preocupada em destruir e em achar eufemismos para barbaridades (chamando-as, por exemplo, de "probleminha"). Destruir é a coisa mais fácil que há, não somente na política. O difícil é edificar, pois isso requer alguma vontade e alguma inteligência. É por isso que o governo federal não tem prontas nem sequer as bases de alguma construção.

Em vez de governar no presente, o que não implica fingir que não houve passado, para um amanhã melhor, o que se vê é o governo federal e seus familiares do alto escalão recrudescendo discursos bélicos, em vez de apresentarem projetos e de agirem para executá-los. Sintomaticamente, em vez de tentar resolver problemas, o governo vai à caça deles; exemplo disso foi o caso da tentativa de transferência da embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém. Embora tenha sido promessa de campanha, o que haverá em Jerusalém não é uma embaixada, mas um escritório comercial. Três meses se passaram e o Brasil segue à deriva.

O governo tem na abjeta reforma da previdência, que será aprovada, a esperança de que ela dê algum fôlego para ele. Quando isso ocorrer, enquanto o governo estiver inspirando, a vida dos pobres começará a piorar. Terá sido esse o legado de uma equipe sem programa político. Uma equipe que insiste em negar a história e que somente sabe demolir. 

sexta-feira, 29 de março de 2019

Livros meus à venda

Confirmando: meus livros estão à venda na Livraria Cultura.  

Tabata Amaral

Em meio a figuras desprezíveis e perniciosas como um Ricardo Vélez, figuras sem verdadeiro espírito público, figuras com pouca inteligência, é um alento haver pessoas como a deputada Tabata Amaral, vinte e cinco anos. Ela passou por Harvard, tendo estudado ciências políticas e astrofísica.

Um político não tem de ter obrigatoriamente um belo currículo acadêmico, mas teria de ter pelo menos espírito público. Tabata tem razão em reclamar do PowerPoint do ministro da educação, que, ademais, não apresentou até agora nenhum projeto, mas o que a deputada chamou de lista de desejos.

Tabata Amaral é exceção na câmara dos deputados; está rodeada de um monte de gente elitista, tosca, careta, machista. Gente que não sabe falar, que não sabe o que fazer, que não tem proposta, que não está a fim de trabalhar para o bem público. Tão infrutífero é o cenário que, suspeito, Tabata Amaral não irá longe na política, por ser ela bem maior do que a politicagem feita no país. Estando eu errado, caso ela siga carreira política, terá sido oásis em terras inóspitas. Aliás, ela não terá sido oásis. Ela é. 

quarta-feira, 27 de março de 2019

E conhecereis a mentira, e a mentira vos aprisionará

Das estratégias políticas, a chantagem é uma das mais baixas. Vinda do atual governo, é esperada. Paulo Guedes, que vinha se mantendo um tanto silencioso, se comparado com os demais ministros, começou a se manifestar, por saber que precisa ir a campo defender a hedionda reforma da previdência. Não demorou e foi logo chantageando: sem reforma da previdência, sem pagamentos dos servidores.

A chantagem dele inspirou empresários. Capitaneados por Flávio Rocha, dono da Riachuelo, e por Luciano Hang, dono da Havan, declararam: sem reforma da previdência, sem emprego. Hang já havia chantageado ou amedrontado seus funcionários durante a campanha para as últimas eleições.

Caso políticos e empresários a favor da reforma percebam que chantagens não estejam sendo eficazes, partirão para o WhatsApp, disseminando, novamente, notícias falsas, pois sabem que parte da população não confere a veracidade do que recebe no aplicativo; empresários e políticos sabem que as pessoas são tolamente crédulas. Aguardemos que item ou que mentira vai substituir a mamadeira de piroca.

Enquanto isso, hoje, estudantes da universidade Mackenzie, em São Paulo, não quiseram receber a visita do presidente, que, tendo sido informado dos protestos dos discentes, não foi ao local. Ontem, o ministro da economia não foi à Comissão de Constituição e Justiça. Todavia, não nos iludamos: esses políticos sabem o que fazem. Se há uma legião sectária e que não se dá o trabalho de buscar informação ou dados, é mais fácil chantagear, inventar inimigos, mentiras e ameaças. 

terça-feira, 26 de março de 2019

“Performando” sinapses desequilibrantes

Sempre que o assunto é o vocabulário de alguém, eu me lembro de uma frase do Proust, a qual vivo citando: “Todos chamam de claras as ideias que estão num mesmo grau de confusão que as suas”. Recentemente, eu me lembrei da irônica máxima por causa do palavrório de que o Tite tem se valido.

Sebastião Lazaroni foi técnico da seleção brasileira. Também se aventurou num português menos futebolístico; ele usou expressões como “galgar parâmetros”, “lastro físico” e “losango flutuante”. A gororoba verbal não resultou em sucesso com a seleção.

Que me consta, Lazaroni não é modelo para Tite, que, mesmo assim, soltou expressões do tipo “sinapses no último terço”, “extremos desequilibrantes” e “performar o resultado”; por certo, o técnico deve ter escutado “performar” em palestra de algum empreendedor, pois os chamados palestrantes empreendedores adoram importar anglicismos, que não raro denotam desconhecimento do português.

No caso do Tite, a despeito da vitória no amistoso de hoje, anglicismos e expressões técnicas passam a impressão que são usados como tentativa, ainda que inconsciente, de camuflar o óbvio: o futebolzinho mixuruca que a seleção tem jogado. Mais cedo, não acompanhei a coletiva do técnico, de modo que não sei como ele performou; não sei se achou que os extremos desequilibrantes jogaram bem ou se ficou satisfeito com as sinapses. Sei que foi mais um joguinho da seleção. 

segunda-feira, 25 de março de 2019

Sobre vendas de fotos em bancos de imagens

Comecei a fotografar de modo mais intenso em 2004. Três anos depois, passei a vender fotos minhas num banco de imagens, o Alamy. Recentemente, imagens de minha autoria estão à venda também na página da Adobe Stock

Gosto da foto desta postagem. Foi tirada no dia vinte e dois de dezembro de 2005. Está à venda no Alamy, mas foi recusada pela Adobe Stock. A justificativa da Adobe ao não aceitar a imagem: “Percebemos que há pós-processamento e/ou ruído excessivo e, por isso, não podemos aceitá-la em nossa coleção. Artefatos/ruído excessivos podem ser causados por pouca luz, configurações de câmera ruins, forte compactação ou pós-produção excessiva”.

Mesmo levando-se em conta que o registro foi feito com uma Canon EOS 20D, que já produzia ruído com ISO 400, o que usei na captura, a imagem não me parece “ruidosa” demais. Também não havia pouca luz. Quanto às “configurações de câmera ruins”, não sei se estão se referindo ao ISO. Os demais ajustes foram 1/800 e F/8.0. Velocidade de 1/800 e abertura F/8.0, por si, não são problemas, e me pareceram ajustes adequados para o que era minha intenção.

Não haveria sentido argumentar com a equipe da Adobe, tentando fazer com que mudassem de ideia quanto à recusa da foto, pois já haviam explicado possíveis razões para não comercializarem o registro. A imagem, embora tenha passado pelo controle de qualidade do Alamy, não passou no da Adobe Stock. É preciso entender que não há o menor problema na recusa, ainda mais que, no meu caso, o número de aceitações é superior ao número de recusas, tanto no Alamy quanto no Adobe Stock.

Relato essa história a fim de ilustrar que a não aceitação de um trabalho seu por determinado banco de imagens não significa que você seja ruim; além disso, é a recusa que pode fazer com que você busque melhorar. Critérios variam. Isso, obviamente, não pode ser justificativa para que você deixe de buscar a excelência. O Adobe Stock é mais flexível quanto a aceitar contribuições dos usuários, ainda que um número razoável de imagens tenha, a princípio, sido recusado. Quando comecei a comercializar minhas imagens no Alamy, pediam um determinado número de imagens no primeiro envio (não me lembro do número exato de fotos que podiam ser enviadas nessa primeira remessa). Noventa por cento dessas imagens deveriam ser aprovadas, para que o fotógrafo pudesse dar início à comercialização de suas fotos no banco de imagens.

Na busca da excelência, o domínio da técnica, ainda que ele não resolva tudo, é imprescindível para o êxito quando se tem a intenção de fazer registros profissionais. Esse domínio, não raro, é negligenciado; quem assim faz, alega que coisas como intuição, inspiração, olhar e concepção de mundo são mais importantes do que a técnica. De fato, são, mas é preciso entender que a técnica é poderosa aliada de coisas como intuição, inspiração, olhar e concepção de mundo. A técnica não deve ser encarada como algema, mas como ferramenta de libertação, como possibilidade de se ir mais longe no universo da fotografia, ainda que haja recusas no meio do caminho. Sempre haverá recusas. Não somente na fotografia. Bons cliques. 

domingo, 24 de março de 2019

Um dia como outro

Raposas políticas sabem negociar. Nem sempre a favor do povo, mas sabem negociar. A única coisa em comum que o presidente tem com as raposas políticas é o desinteresse que boa parte desse pessoal tem pela vida dos mais pobres. O que o presidente não tem é a manha para a conversa, o traquejo para o diálogo. Ele é tão inábil que não consegue se entender nem com aqueles que são a favor do grande desejo do governo federal — a aprovação da desumana reforma da previdência.

A grande mídia, obviamente, é a favor da reforma; grandes empresas são a favor; parte dos políticos são a favor. Nada disso surpreende, bem como não surpreende a falta de habilidade do presidente em dialogar com os que estão em sintonia com o que é até agora o grande desejo do governo federal.

Ainda no terreno da inabilidade ou da gafe, no Chile, o presidente brasileiro agradeceu ao povo venezuelano. Sebastián Piñera, presidente chileno, posteriormente, criticou o colega brasileiro, não pelo lapso deste, mas por não concordar com frases já ditas pelo mandatário brasileiro. Para fechar, um dos filhos do presidente disse que “será necessário o uso da força” contra a Venezuela, para, depois, amenizar, dizendo, que o Brasil “não pensa em intervir militarmente”.

A família do presidente (ele incluído) e integrantes do primeiro escalão do governo federal não levam em conta que em assuntos internacionais palavras podem ter consequências nefastas (em postagem anterior, comentei o quanto pegou mal a declaração de Onyx Lorenzoni, sobre o “banho de sangue” da ditadura chilena). Temperança e jogo de cintura, quando o assunto é a relação entre países, são pedra de toque que levam, no mínimo, a uma imagem de civilidade.

Enquanto isso, no Congresso, há a possibilidade de mais uma derrota do governo federal, que concedeu a turistas da Austrália, do Canadá, dos Estados Unidos e do Japão dispensa de visto para entrar no Brasil. Mesmo partidos simpáticos ao governo atacaram o decreto presidencial. Já houve derrota do governo federal quanto a decreto, o que alterava a Lei de Acesso à Informação.

Num país desinformado que acredita em mentiras disseminadas via WhatsApp, pleno de pessoas que nem se dão o trabalho de conferir a veracidade do que recebem via celular, a convivência interna continua dando sinais de degenerescência: a conta no Youtube do garoto conhecido como Michelzinho, filho de Michel Temer, teve comentários grotescos após a prisão do ex-presidente, como se o filho dele tivesse culpa pelo que fez o pai, e ontem, em São Paulo, durante o incêndio na favela do Cimento, houve motoristas que, passando perto do local, comemoraram o acontecimento. Há quem prefira não enxergar o incêndio. 

"Banho de sangue"

A perigosa patuscada continua. Dessa vez, protagonizado por Onyx Lorenzoni, que elogiou as “bases macroeconômicas da ditadura de Pinochet. Lorenzoni defendia então a reforma da previdência no Brasil. Anteontem, em entrevista à Rádio Gaúcha, ele tentou justificar a reforma da previdência, afirmando que no período de Pinochet, o Chile teve de dar um banho de sangue. Triste, o sangue lavou as ruas do Chile.

Ivan Flores, presidente da Câmara dos Deputados chilena, afirmou que Lorenzoni afrontou os que perderam familiares na ditadura do país. Jaime Quintana, presidente do Senado no Chile, disse não se lembrar de declarações desse teor vindas de um mandatário de governo.

Lorenzoni deveria se lembrar de que nem todo mundo é como o chefe dele, que, por exemplo, em evento oficial, elogia ditador pedófilo. Pelo cargo que ocupa, Lorenzoni deveria entender que as palavras que profere têm peso, têm consequências. Mas, novamente, ele não tem no chefe exemplo do que poderia ser considerado retidão ou comedimento.

O legado de Araújo

“Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria”.
Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas

O Guimarães Rosa, que foi médico, escritor e diplomata, disse certa vez, numa entrevista, que o trabalho dos diplomatas é consertar os estragos dos políticos. Só que no caso do Brasil, a diplomacia não vai consertar os estragos do governo federal, cuja avaliação positiva, aliás, caiu 15 pontos, segundo o Ibope. Ernesto Araújo, ministro das relações exteriores, defende ideias como a de que o aquecimento global é trama marxista (sic). Não é de se esperar que alguém com um pensamento assim conserte trapalhadas diplomáticas.

A congressista norte-americana Alexandria Ocasio-Cortez tem consciência plena de que o aquecimento global não é trama marxista. Ela afirma que é legítimo não querer ter filhos por causa do aquecimento global, alegando que as vidas das crianças serão muito difíceis por causa das mudanças climáticas no planeta. Em nome da consciência, Ocasio-Cortez acha digno não trazer novas vidas à tona; em nome de anacronismo patológico, Araújo se alinha com aqueles para quem não há aquecimento global, o que, em consequência, dá passe livre para destruição ainda mais intensa da natureza.

Ocasio-Cortez não propõe método deliberado para que não haja mais pessoas, o que é a proposta de David Benatar, autor do livro Better never to have been (algo como Melhor nunca ter nascido); na obra, o pensamento de que a saída mais digna para a humanidade é a extinção, defendendo que nascer é sempre um mal e que a procriação deveria parar. Benatar não defende nem assassinato nem suicídio.

A revista Jacobin foi incisiva em matéria que é retrato acurado do Brasil recente, chamando Ernesto Araújo de “o pior diplomata do mundo”. A diplomacia brasileira, que já teve intelectuais como o já citado Guimarães Rosa e inteligências como a de Celso Amorim, tem agora de lidar com Araújo.

Pode-se não concordar com Ocasio-Cortez nem com David Benatar. Todavia, não se pode acusá-los de não estarem preocupados com a condição humana; nenhum deles pode ser acusado de ignorar a complexidade da existência. Suspeito eu de que seremos extintos não por ideias similares às de David Benatar e às de Ocasio-Cortez, mas por mentes distorcidas como as daqueles que atribuem aquecimento global a inexistentes complôs ideológicos. O que mata é a ignorância.

quarta-feira, 20 de março de 2019

Vão

No salão oval,
o carrasco ordenou.
O serviçal se pôs de joelhos.

A casa é branca.
A ducha é dourada.

Agradecido,
feliz 
e úmido,
o deslumbrado
lambeu
as botas
do algoz.

Agora, o vassalo 
está em casa.
Foi-se embora o brilho
de quem implorava
para ser dominado.
Tristonho, 
sem receber notícias,
o capacho
anseia pelo cheiro
daquele que o
subjugou.

Frágil, 
rendido,
apaixonado,
inconsolável,
apaga a luz do quarto,
louco para
preencher 
o vão
que ficou
atrás de si. 

domingo, 17 de março de 2019

Engavetamentos

Crer que a esquerda inventou a degeneração e que a direita resgatou a virtude é de uma ingenuidade que não é tocante porque é perigosa. Acreditar em coisas assim é, antes de tudo, revelador de um total desconhecimento do que significa ser humano, é ignorar que todos temos a devassidão e a castidade, o bem e o mal. Somos todos capazes dos atos mais nobres e das atitudes mais torpes. Atribuir condutas éticas ou comportamentais absolutas a espectros ideológicos é deletéria ignorância ou asquerosa má-fé. 

Conclusão

Ele homenageia milicianos.
Ele contrata milicianos.
Ele é amigo de milicianos.
Ele tira foto com milicianos.
Ele abastece milicianos.
Por eles é abastecido.

De tudo isso,
concluo eu,
concluem os de
senso atilado,
concluímos nós:
miliciano não é;
anjo de bem 
é o que ele é, 
anjos de bem,
o que somos. 

quinta-feira, 14 de março de 2019

Fotos minhas à venda

Desde hoje, fotos minhas à venda no banco de imagens da Adobe, o Adobe Stock. Pouco a pouco, vou inserir outros arquivos.

Para conferir, clique aqui

Coincidência

A casa de um miliciano fica ao lado 
da casa de uma autoridade: 
o perigo mora ao lado.

A casa de uma autoridade fica ao lado 
da casa de um miliciano: 
o perigo mora ao lado.

Onde mora a coincidência? 

sábado, 9 de março de 2019

Da recusa em atacar

Não sou torcedor nem do Vasco nem do Flamengo, que jogaram há pouco no Maracanã. Houve empate por 1 a 1. O jogo foi movimentado, o Vasco empatou aos noventa e cinco minutos de jogo.

Já nos acréscimos, aos noventa e dois minutos, em contra-ataque, o Flamengo quase fez dois a zero. Na conclusão da jogada, houve escanteio. O Flamengo, em vez de jogar a bola na área ou tentar, de algum modo, atacar, no momento de bater escanteio, tentou chutar a bola sobre defensor vascaíno; em vez disso, houve tiro de meta para o Vasco.

Podem duvidar do que vou escrever, mas no momento em que houve esse lance, pensei comigo: “Ridículo, um time se recusar a atacar, ainda que esteja perto do fim. O Vasco ainda pode fazer um gol, o que seria merecido, devido à recusa do Flamengo em atacar”. O Vasco, então, cobrou o tiro de meta, atacou e teve pênalti a seu favor. Maxi López bateu e empatou a partida.

O lance do Flamengo foi um retrato do que é futebol brasileiro, em que boa parte dos times considerados grandes se recusa a atacar, ainda que esteja empatando. A despeito de Vasco e Flamengo terem feito um jogo cheio de oportunidade para gols, coisa rara no futebol brasileiro, os lances dos acréscimos ilustram bem a indolência, o comodismo e a pobreza técnica do futebol nacional.

Repito: futebol nacional. A maioria das equipes tidas como grandes do futebol aqui jogado tem uma abordagem pobre, sem criatividade, sem ousadia. Menciono a partida terminada há pouco no Maracanã por ser o jogo a que assisti e por ter eu pensado que o Flamengo poderia ser punido por decidir não atacar quando teve o escanteio a seu favor.

É claro que o Flamengo poderia levar gol ainda que tivesse tentado atacar quando da cobrança do escanteio. Mas isso é cogitação. O que não é: tomando a decisão de não atacar, ao propor enrolar no campo de ataque, o rubro-negro levou o gol de empate. Nada mais típico do pouco criativo e pouco combativo futebol brasileiro.

quinta-feira, 7 de março de 2019

Um

Um alega que religiões africanas causam terremotos. Um declara que escreveu livro em coautoria com Tocqueville. Um acredita que a Terra é plana. Um declara que universidade é para a elite. Um diz que adora a natureza; apoia quem derruba árvore. Um diz que caixa dois era crime; agora não é. Um acredita que a corrupção foi inventada recentemente e foi desinventada recentemente. Um declara que era contra a reforma da previdência; agora não é. Um se regozija quando um compatriota político é ameaçado de morte (Schadenfreude). Um se regozija quando alguém perde um ente (Schadenfreude). Um acredita que a escatologia foi inventada não há muito tempo. Um assina texto em cuja breve biografia é dito que ele estudou um Yale; não estudou. Um acredita que caudilhos não são corruptos. Um adultera mapa para beneficiar mineradores. Um afirma ter mestrado sem ter. Um nunca leu nada; diz saber muito. Um afirma que o aquecimento global é trama marxista. Um diz que é cidadão de bem; defende ditador pedófilo. Um diz que os índios são latifundiários. Um deseja câncer para o outro. Um diz que é cidadão de bem; tem ligação com milicianos.

Um de cada vez. São um corpo. 

quarta-feira, 6 de março de 2019

Enquanto isso no carnaval

Multidões entoaram “mantra” dizendo para o presidente do país ir tomar no c*. O presidente posta vídeo de um homem enfiando o dedo no c*. Esse carnaval entrou para os... anais da república.

terça-feira, 5 de março de 2019

Cortando o sete

Para que ele não seja confundido com o nove, há quem prefira cortar o sete, em vez de melhorar a caligrafia. Armar a população é cortar o sete.