quarta-feira, 9 de março de 2016

(Não) Dito

Eu não deveria dizer,
mas sinto tua falta.
Nem deveria dizer
que penso em ti
o tempo todo.
Muito menos
que acordo
pensando 
em ti,
que adormeço
pensando em ti,
que habitas
meus sonhos.

Claro que eu
não deveria dizer
que comprei 
“aquele” vinho,
que aparei a barba,
que escrevi
um texto
para ti,
que estou
te imaginando
de vestido.

Eu não
deveria dizer
que vejo
teu rosto
na multidão,
que quero
te contar
o que acontece
comigo.
(Por exemplo:
voltei, de novo,
para a academia.)

Não deveria
eu te dizer
que é em ti
que penso quando
vou escolher
uma camisa
ou quando 
tomo café.

Sei que eu
não deveria dizer
o que digo agora.
Nem deveria
dizer da
vontade 
de dizer
o que nunca
foi dito.

Mas agora
é tarde.
Algo foi dito.
Que fique,
do dito e
do não dito,
este poema,
que é um
modo de dizer.
Por um lado,
muito calei;
por outro,
algo eu disse.

Depois de tudo,
silêncio.