terça-feira, 26 de julho de 2022

Reação

Cozinhar é um dos mais nobres usos que se pode conferir à química. 

terça-feira, 12 de julho de 2022

Helena e Beatriz

Helena — Amiga, você viu as notícias sobre aquele eleitor do presidente que invadiu uma festa dos petistas e matou uma pessoa?

Beatriz — Ah, vi, sim. Mas esse pessoal da esquerda não é confiável. Vivem provocando. Aquela decoração de péssimo gosto e exagerada pra comemorar um aniversário. Até demorou pra esse tipo de coisa acontecer. E que delícia, esse chá. Onde você comprou?

Helena — Oh, obrigada. Eu trouxe da viagem que fiz aos EUA recentemente. Aproveitei e trouxe umas coisinhas. O pessoal da alfândega encasquetou. Mas eu liguei pro João Alberto e tudo se resolveu.  E, sim, o nosso país tá muito violento. E concordo com você: esse pessoal da esquerda é muito bobo. Estão até levando as palavras do presidente ao pé da letra. O povo tá achando que ele tava falando sério quando disse que era pra fuzilar a “petralhada”.

Beatriz — O povo é bobo demais. Mas, cá entre nós, no fundo, e falo isso só pra você, a ideia do presidente não é das piores.

Helena — Também muito cá entre nós, eu também concordo. Mas é que ele tem mesmo o jeito destrambelhado dele. No fundo, é uma alma boa.

Beatriz — Sim. Talvez falte um certo refinamento. Mas não vejo isso como problema. Isso é questão menor. O importe é que ele consertou o Brasil. 

Helena — Consertou. Quem reclama é principalmente gente pobre que tá com preguiça de trabalhar e acha que o Estado é obrigado a sustentar. 

Beatriz — É verdade. No fundo, isso é a tramoia de sempre desse pessoal. E a intenção deles é queimar a imagem do presidente, mas não vão conseguir. Agora, virou modinha: o pessoal dos direitos humanos, imprensa, ONU e não sei mais o quê anda dizendo que o Brasil voltou ao tal mapa da fome.

Helena — Conversa fiada. Não me preocupo com o que dizem. Eu tô com a consciência tranquila. A minha família, por exemplo, faz doações para uma instituição de caridade. Tenho certeza de que a sua família também ajuda quem precisa.

Beatriz — Claro. Todo ano, na época do Natal, nós levamos brinquedos e alimentos pra algumas instituições, mas os tais defensores dos direitos humanos não reconhecem isso. Ah, ando cansada desse povo, sabe. Nada do que a gente faz tá bom. 

Helena — Deixa esse povo pra lá. A gente sabe que o progresso do país depende é de gente como a gente, que ama o país e que luta pelo bem dele. Nosso presidente vai cuidar desses esquerdistas. Se ele não cuidar, há quem cuide em nome dele. A gente continua fazendo a nossa parte. Enquanto isso, uma viagem aqui, outra ali... Não vale a pena ficar esquentando a cabeça com essa corja. Vamos falar de coisa boa. 

Beatriz — Sim, a gente ganha muito mais. Óh, fiquei sabendo de uma loja em Nova York que vai ter tudo o que você quer pra celebrar seus trinta anos de casamento.

Helena — Que fofo! Eles têm produtos relacionados à Disney?

Beatriz — Eles têm tudo da Disney. Sua casa vai ficar parecendo um castelo encantado. E vi um vestido deles que vai ser perfeito pra você. Aliás, você e o João Alberto vão formar um belíssimo casal na festa de vocês.  Vocês vão ar-ra-sar: você de Minnie e ele de Mickey vão ficar um charme só. 

Helena — Que delícia! 

domingo, 10 de julho de 2022

O horror

Viviane Forrester, no seminal O Horror Econômico, de 1996, comenta que em função de mudanças no mercado de trabalho e de mudanças no modo de produção ocorridas no século XX, uma boa parte da humanidade não tem mais utilidade econômica para os bilionários que detém a riqueza financeira.  Que se extermine, pois, com a obediência dos Estados, o excedente. No Brasil, os descalabros do governo federal em relação à pandemia de covid e a existência de trinta e três milhões de gentes passando fome são expressões desse horror econômico. Evidentemente, Bolsonaro não tem conhecimento teórico disso. Ele é o executor da prática de extermínio, um executor de barriga cheia. 

terça-feira, 5 de julho de 2022

A praga

Pragueja contra o vento.
Pragueja contra a chuva.
Pragueja contra o calor.
Pragueja contra o frio.

Pragueja contra
a primavera,
o verão,
o outono,
o inverno.

Pragueja contra dias nublados.
Pragueja contra céus azuis.
Pragueja contra Saturno.
Pragueja contra a Via Láctea.

Não se dá conta de que
a praga deste mundo
é quem pragueja,
quem não pragueja. 

sábado, 2 de julho de 2022

Fred

Fred não teve a menor culpa pelo vexame que foi a copa do mundo disputada pela seleção brasileira aqui no Brasil em 2014. As piadas sobre ele, veiculadas, principalmente, depois do fiasco da seleção, não eram justas. Prestes a encerrar a carreira como jogador de futebol, Fred protagonizou hoje, no Maracanã, há pouco, momentos inspiradores, emocionantes. Futebol é sobre o que ocorreu hoje com o Fred, é sobre o que ele causou. O resto são babaquices que inventaram e vão continuar inventando para estragar a beleza e a humanidade das coisas. 

sexta-feira, 1 de julho de 2022

Para-si-mesmos

Álvaro de Campos, um dos heterônimos do Fernando Pessoa, no poema “Tabacaria”, escreveu sobre aqueles que são “gênios-para-si-mesmos sonhando” com grandes realizações, sem, contudo, concretizá-las. O texto menciona “cem mil cérebros” se concebendo como gênios, mas que nada realizaram. Pior ainda do que um “gênio-para-si-mesmo” é um “gênio-para-si-mesmo” ressentido porque não tem seu talento-para-si-mesmo reconhecido. 

Medalha, medalha, medalha!

O deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) receberá  a medalha da Ordem do Mérito do Livro. A homenagem é concedida a acadêmicos, autoridades e intelectuais que contribuem para o universo da literatura. Conceder algo assim a Daniel Silveira seria o mesmo que conceder a Hitler o reconhecimento pela valorização das diversidades.