Primeiro, o mandatário brasileiro disse que não parabenizaria o presidente eleito da Argentina, Alberto Fernández. Agora, Bolsonaro tem dito que não irá à posse do argentino. Ainda no rol das lambanças do clã da família bolsonarista, Eduardo Bolsonaro postou imagem em que, à direita, ele, Eduardo, está em meio a armas; à esquerda, Estanislao Fernández, filho de Alberto Fernández, está usando fantasia. Enquanto isso, Trump não se fez de rogado: ligou para o presidente eleito da Argentina e o parabenizou, ocasião em que teria dito: “Parabéns pela grande vitória. Vimos pela televisão. Você vai fazer um trabalho fantástico”.
Embora se possa elencar semelhanças entre Trump e Bolsonaro e embora o presidente brasileiro não esconda a admiração que tem pelo colega norte-americano, há uma diferença básica: Trump não é tão burro quanto Bolsonaro nem quanto a família deste. Trump é esperto o bastante para saber que inabilidade nas relações diplomáticas pode implicar perda de dinheiro para os países. Não há como eu saber o que de fato Trump pensa sobre Alberto Fernández. Isso não importa. O que importa é que ele não foi imbecil o bastante a ponto de não perceber que ele tem um papel diplomático e político a cumprir. Ao ligar para Fernández, Trump está no mínimo levando em conta que ele representa os EUA e que há parceria comercial entre o país dele e a Argentina.
Em âmbito mundial, a Argentina é o terceiro maior comprador de produtos do Brasil. Goste Bolsonaro ou não, Fernández foi eleito democraticamente. Além disso, há uma série de acordos comerciais que vêm sendo alinhavados ao longo do tempo; parte desses acordos ainda não foi implementada ou não foi concluída. Faniquitos não deveriam fazer parte do comportamento de um presidente, mas o nosso é pródigo em fricotes, seja quando não responde a questionamentos que são da alçada dele responder, abandonando coletivas de imprensa, seja quando não responde a questionamentos e prefere a falta de compostura nas palavras, seja quando é destemperado em transmissões ao vivo, seja quando não pensa no país e faz declarações infantis, rancorosas e toscas. Bolsonaro não tem de bajular Fernández, mas se Bolsonaro e família ficassem calados em questões que resvalam para a diplomacia, já estariam fazendo bem para o Brasil.