quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Em novo espaço

Pessoas, a fim de organizar o que tenho escrito ao longo das décadas, esta é minha última postagem neste espaço. As postagens futuras serão postadas em outro blogue. Quem quiser continuar lendo o que escrevo, fique à vontade para entrar em contato comigo para que eu passe o endereço do novo blogue. Entre em contato seja por intermédio da seção de comentários, abaixo, seja por telefone, seja por e-mail, seja por intermédio de minhas redes sociais. Obrigado a todos pelas leituras. Quero continuar contando com a atenção de vocês. 

terça-feira, 4 de outubro de 2022

Bolsonaro, os maçons, os evangélicos, os católicos

Circulou hoje um vídeo  em que Bolsonaro, em tese, esteve num templo da maçonaria antes de se tornar presidente. Perguntei para alguns evangélicos a opinião deles sobre a maçonaria. Disseram não simpatizar com os maçons. Dois deles chegaram a dizer que a maçonaria é uma “seita satânica”.

Também não sei como a igreja católica encara atualmente a maçonaria. De todo modo, em 1983, um documento aprovado pelo então papa João Paulo Segundo diz: “Os fiéis que pertencem às associações maçônicas estão em estado de pecado grave e não podem aproximar-se da Sagrada Comunhão”.
 
Como não sou maçom, nada sei deles a não ser o que se acha em qualquer verbete na internet. Li no Guerra e Paz, do Tolstói, uma detalhada descrição do que seria um ritual maçônico. Em pesquisa que realizei quando da leitura do livro, há uns seis anos, nada achei sobre Tolstói ter sido maçom. Perguntei a um dos integrantes da maçonaria se a descrição de Tolstói corresponde ao que ocorre nas cerimônias maçônicas. O maçom disse que conferiria e que me daria um retorno. Nunca deu, o que entendo.

É que, não estando eu enganado (e se eu estiver, que alguém fique à vontade para me corrigir, pois, como dito, não sou maçom), recomenda-se não divulgar o que ocorre nas cerimônias maçônicas. Não sei se Tolstói era maçom, se obteve detalhes do ritual a partir de algum maçom que teria dado com a língua nos dentes, se na época os rituais maçônicos podiam ser divulgados, se ele, Tolstói, caso fosse maçom, teria, mesmo quebrando o combinado, revelado como se dá determinada cerimônia ou se, por fim, o que é descrito no livro, quanto aos detalhes do ritual, é ficção.

Parte importante da maçonaria apoiou a campanha de Bolsonaro em 2018.  Sabe-se também que Hamilton Mourão, o vice-presidente, é maçom. E Bolsonaro apontou para o STF Kassio Nunes Marques, que já se declarou mestre da maçonaria. Por fim, o registro de que, embora não sendo bem vista por parte dos evangélicos nem pela cúpula de João Paulo Segundo (não sei o que os atuais chefes da instituição pensam da maçonaria), ela, a maçonaria, não se define como religião, apresentando-se como instituição que afirma haver um suposto “Grande Arquiteto do Universo”. 
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(As informações contidas neste texto estão neste link.) 

segunda-feira, 3 de outubro de 2022

O nome

Serra da Saudade.
Pode haver lugar mais bonito.
Não há lugar com
o nome mais bonito. 

Horário

Nasci num domingo.
Exatamente às 15h.
Não me lembro de
muita coisa, não. 
Quando percebi,
já era tarde demais. 

A cura

Com exceção, é claro, dos males físicos, não há mal em mim que a leitura não cure. 

O morto e o vivo

O morto não lê.
O vivo esbanja ignorância.

O morto não enxerga.
O vivo divulga cegueira.

O morto não ama.
O vivo tortura.

O morto não furta.
O vivo trapaceia.

O morto não sonha.
O vivo tem pesadelo.

O morto não adoece.
O  vivo é doentio.

O morto não tem pressa.
O vivo fura o sinal vermelho.

O morto não ressuscita.
O vivo inventa o terceiro dia. 

Sobre a literatura

A literatura é útil. Só que a utilidade dela é atemporal e não é imediatista. Não se toca a utilidade da literatura; o espectro de cores dos benefícios dela, os olhos não alcançam. É por não ser imediatista, por ser atemporal e por ser profunda, que se troca a literatura por engodos como empreendedorismo e "coaching". Eles têm aspecto de solução real por as pessoas enxergarem neles soluções imediatas. Eles são a maquiagem sobre a mancha na pele. Quem usa essa maquiagem acredita que a mancha desapareceu. A literatura retira a maquiagem, e muitos não são capazes de olharem para si mesmos sem filtros de ilusão. A literatura não constrói ilusões, mas sonhos; não alimenta ingenuidades, mas faz nascer imprescindíveis malícias; não é o óbvio fácil, mas a sutileza iluminadora; não disfarça os feios que somos: escancara-nos; não promete felicidade fácil, mas assegura a base uma felicidade que, se vier, será madura. 

Corporal

Elevar-se não é sair do corpo, mas passar por todo ele, começando pelo que ele tem de mais básico, de mais atávico, de mais primitivo. O frêmito da elevação não se dá sem que o corpo reconheça a matéria antiga e ancestral que ele sempre foi. A elevação começa quando o corpo se acha. Um corpo que se ignora ou um corpo que não se conhece não consegue se elevar.   

Proximidade

Há uma fraternidade de leitores. Ler é estar próximo de todos os leitores dessa fraternidade, que é atemporal. Se tenho um livro de Manuel Bandeira em mãos, estou mais próximo não somente do Bandeira autor, mas também do Bandeira leitor; se leio, estou mais próximo de todos os leitores, como estamos próximos agora. 

Cansaço

Cansado de Brasil, 
cogitou mudar de país.
Cansado de Brasil, 
pensou em desistir de si.
Cansado de Brasil, 
ficou sem ver gente o dia todo.

Cansado de Brasil, 
tomou longo banho,
descansou por horas,
refugiou-se em si.
Voltou à tona,
não descansado de Brasil,
mas revigorado no país
que, há décadas, faz em si. 

domingo, 2 de outubro de 2022

Breves notas de um eleitor

• A colinha que levei:

1313
13123
555
55
13

• Entrei na fila para votar às 12h06; votei às 12h47.

• Assim que cheguei ao local de votação, bem na entrada do prédio, um homem, suponho, de uns setenta, setenta e cinco anos, usando chapéu e segurando um berrante, disse: “A esquerda não gosta do agronegócio. Tô aqui representando o agronegócio”.

• Encontrei alguns conhecidos de infância ou de adolescência com quem não tenho mais contato há décadas. Alguns deles tornaram-se adultos que defendem ideias fascistas.

• Escutado na fila para votação: “Quem morre descansa. Quem sofre é quem fica aqui”.

• Algumas camisetas da CBF, na metonímia em que o produto de uma empresa é usado para, em tese, simbolizar preocupação com a nação.

• Também escutado na fila de votação: “Por que tá demorando tanto?”.

• Ainda na fila: “Não sei como a pessoa tem coragem de vir aqui e apertar branco. Depois, quando tudo tiver fodid*, não adianta reclamar”.

• Mais uma na fila: “Papai, quero ir embora”. “Filho, na sua escola você não fica na fila pra comer? Isso aqui é uma fila”.

sábado, 1 de outubro de 2022

O incompetente

Se Bolsonaro perder as eleições, seja amanhã, seja em segundo turno, não terá sido pelo desmatamento da Amazônia nem pelo projeto de destruição dos povos indígenas; não terá sido em função dos trinta e três milhões de pessoas passando fome, não terá sido pelos ataques contra as instituições, contra o STF; não terá sido pelo fato de Bolsonaro ter cruzado os braços enquanto o Brasil estava morrendo de covid, não terá sido pelos ataques contra o jornalismo, contra a ciência, contra a arte, contra a democracia; não terá sido pela campanha a favor das armas em mãos de civis, não terá sido pela mistura de “religião” com política, não terá sido pelas empresas estrangeiras que foram embora do Brasil, não terá sido pela defesa de tortura, de assassinatos... 

Bolsonaro seguiu o roteiro sanguinolento que ele mesmo já vinha anunciando desde quando ainda era deputado. Não houve surpresas na presidência de quatro anos para cá. Bolsonaro cheirava a morte; tendo assumido a presidência, disseminou a putrefação que exala, enquanto um de seus ministros sugeria que restos de comidas fossem dados para os que têm fome. Mas nada disso é problema para o bolsonarismo. Se Bolsonaro perder as eleições, não terá sido por não ter agradado a quem o elegeu, pois quem o elegeu contava exatamente com o projeto nefasto ainda em voga no país. Bolsonaro tinha (e tem) o apoio dos barões da mídia brasileira, tinha (e tem) o apoio de parte do povo. Se Bolsonaro perder as eleições, terá sido por incompetência exclusiva dele. Essa incompetência, sabe-se, não é problema para o bolsonarismo. Se houver alguma civilidade no porvir, não terá sido porque o país tomou consciência de questões humanas básicas, mas porque um incapaz chegou à presidência.