Se Bolsonaro perder as eleições, seja amanhã, seja em segundo turno, não terá sido pelo desmatamento da Amazônia nem pelo projeto de destruição dos povos indígenas; não terá sido em função dos trinta e três milhões de pessoas passando fome, não terá sido pelos ataques contra as instituições, contra o STF; não terá sido pelo fato de Bolsonaro ter cruzado os braços enquanto o Brasil estava morrendo de covid, não terá sido pelos ataques contra o jornalismo, contra a ciência, contra a arte, contra a democracia; não terá sido pela campanha a favor das armas em mãos de civis, não terá sido pela mistura de “religião” com política, não terá sido pelas empresas estrangeiras que foram embora do Brasil, não terá sido pela defesa de tortura, de assassinatos...
Bolsonaro seguiu o roteiro sanguinolento que ele mesmo já vinha anunciando desde quando ainda era deputado. Não houve surpresas na presidência de quatro anos para cá. Bolsonaro cheirava a morte; tendo assumido a presidência, disseminou a putrefação que exala, enquanto um de seus ministros sugeria que restos de comidas fossem dados para os que têm fome. Mas nada disso é problema para o bolsonarismo. Se Bolsonaro perder as eleições, não terá sido por não ter agradado a quem o elegeu, pois quem o elegeu contava exatamente com o projeto nefasto ainda em voga no país. Bolsonaro tinha (e tem) o apoio dos barões da mídia brasileira, tinha (e tem) o apoio de parte do povo. Se Bolsonaro perder as eleições, terá sido por incompetência exclusiva dele. Essa incompetência, sabe-se, não é problema para o bolsonarismo. Se houver alguma civilidade no porvir, não terá sido porque o país tomou consciência de questões humanas básicas, mas porque um incapaz chegou à presidência.
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