quinta-feira, 7 de maio de 2009

A HISTÓRIA POR TRÁS DA FOTO (51)

A feitura desta imagem foi um tanto engraçada. Antes da foto que seria pra valer, fiz o enquadramento, “ensaiando” com uma garrafa de água. Eu já havia tomado um pouco do vinho. Combinei com a minha mãe pra ela tomar o que eu derramasse na taça depois de capturada a imagem. Minha mãe topou. Só que acabei demorando: a câmera estava sobre um tripé. Eu a programei para disparar dez segundos depois de apertado o obturador. Quando a luzinha na parte da frente do equipamento parasse de piscar, eu derramaria o vinho – e eu não estava a fim de fazer várias fotos, pois a bebida foi comprada com a intenção de ser tomada, e não fotografada. Houvesse mais gente por aqui, mais fotos poderiam ter sido tiradas, mas só estávamos eu e minha mãe. Só que depois de feita a foto, fui chamá-la para tomar e ela... já estava dormindo. Tive então de tomar mais uma dose – não que isso tenha sido um suplício...

UM PEDACINHO DO PARAÍSO

Recentemente, Manoel Almeida lançou o blogue Epitaphius. Em conversa que mantive com Manoel há tempos, ele me perguntou qual seria meu epitáfio. Eu disse na ocasião que seria uma frase do Leonardo da Vinci: “Quanto mais se conhece, mais se aprecia”. Contudo, uma inteligente e espirituosa aluna que tive há muito tempo me disse que o dela seria: “Dei sossego”. Gostei tanto que pedi a ela a autorização para que eu usasse essa frase no meu. A autorização foi concedida.

Mas toda essa história é para falar da frase do Leonardo da Vinci e de uma canção. Se a máxima do renascentista será ou não meu epitáfio, ainda não sei. O que sei, é que sempre que começo a me dedicar a seja o que for, a frase me ocorre. Neste momento, escuto por intermédio de fone de ouvido a canção “One inch of heaven”, do grupo The Silencers. A epígrafe de meu livro Algo de sempre é extraída de um dos versos da letra: “There’s a rock in my heart that can’t be broken”.

A canção é sobre um sujeito que na maturidade se flagra amando. É madrugada e ele caminha por uma rua deserta, a Rua Jamaica. Chove. Por perto, há um rio. De repente, ele se vê um novo homem, ele se pega amando. O amanhecer não vai demorar. Ele caminha e reflete sobre o quanto as coisas podem vir inesperadamente. Ele vai caminhando, o rio por perto flui, fluem os pensamentos, fluem as reflexões...

Enquanto digito estas palavras, presto atenção no arranjo da canção. Meu ouvido para a música sempre foi uma lástima. Tanto que somente agora, por intermédio do fone, percebo no arranjo sutilezas até então desconhecidas por mim. Se tiver a chance de escutar, preste atenção num teclado que faz a marcação junto com a caixa da bateria. Há também um teclado que somente agora consegui escutar e que faz a base enquanto o vocalista canta. Esse teclado pode ser escutado bem ao fundo, sutil, discreto, bonito. (Preste bastante atenção quando o vocalista começar a cantar.)

A música é longa, não tem pressa (dura mais de sete minutos). O andamento não é rápido. Tudo isso combina com o sentimento do eu lírico, sujeito velhaco e cínico (“eu era o rei do verso cínico”), mas que numa madrugada, enquanto caminha sob a chuva perto de um rio, pega-se, ainda na escuridão da madrugada, amando.

Quer saber? “Quanto mais se conhece, mais se aprecia”.