quinta-feira, 7 de maio de 2009

UM PEDACINHO DO PARAÍSO

Recentemente, Manoel Almeida lançou o blogue Epitaphius. Em conversa que mantive com Manoel há tempos, ele me perguntou qual seria meu epitáfio. Eu disse na ocasião que seria uma frase do Leonardo da Vinci: “Quanto mais se conhece, mais se aprecia”. Contudo, uma inteligente e espirituosa aluna que tive há muito tempo me disse que o dela seria: “Dei sossego”. Gostei tanto que pedi a ela a autorização para que eu usasse essa frase no meu. A autorização foi concedida.

Mas toda essa história é para falar da frase do Leonardo da Vinci e de uma canção. Se a máxima do renascentista será ou não meu epitáfio, ainda não sei. O que sei, é que sempre que começo a me dedicar a seja o que for, a frase me ocorre. Neste momento, escuto por intermédio de fone de ouvido a canção “One inch of heaven”, do grupo The Silencers. A epígrafe de meu livro Algo de sempre é extraída de um dos versos da letra: “There’s a rock in my heart that can’t be broken”.

A canção é sobre um sujeito que na maturidade se flagra amando. É madrugada e ele caminha por uma rua deserta, a Rua Jamaica. Chove. Por perto, há um rio. De repente, ele se vê um novo homem, ele se pega amando. O amanhecer não vai demorar. Ele caminha e reflete sobre o quanto as coisas podem vir inesperadamente. Ele vai caminhando, o rio por perto flui, fluem os pensamentos, fluem as reflexões...

Enquanto digito estas palavras, presto atenção no arranjo da canção. Meu ouvido para a música sempre foi uma lástima. Tanto que somente agora, por intermédio do fone, percebo no arranjo sutilezas até então desconhecidas por mim. Se tiver a chance de escutar, preste atenção num teclado que faz a marcação junto com a caixa da bateria. Há também um teclado que somente agora consegui escutar e que faz a base enquanto o vocalista canta. Esse teclado pode ser escutado bem ao fundo, sutil, discreto, bonito. (Preste bastante atenção quando o vocalista começar a cantar.)

A música é longa, não tem pressa (dura mais de sete minutos). O andamento não é rápido. Tudo isso combina com o sentimento do eu lírico, sujeito velhaco e cínico (“eu era o rei do verso cínico”), mas que numa madrugada, enquanto caminha sob a chuva perto de um rio, pega-se, ainda na escuridão da madrugada, amando.

Quer saber? “Quanto mais se conhece, mais se aprecia”.

Um comentário:

Nélio Lobo disse...

Essa máxima davinciana também sempre me ocorre, Lívio, e cada vez extraio dela, e de sua leitura inversa, uma lição. A propósito, somente agora a associei com outro dito famoso: quanto mais se conhece [os homens], mais se aprecia [os cães]. Abraços.