quarta-feira, 10 de setembro de 2008

APONTAMENTO 22

Uma teia de intrigas no local de trabalho faz com que amigo meu se lembre de um enredo shakespeariano. Não conhecesse ele o texto de Shakespeare, obviamente não faria a comparação. O vate inglês acaba fazendo com que se compreenda melhor a vida – e vice-versa – e não necessariamente nessa ordem.

HAICAI 4

Futebol de garoto.
Garrincha vai, vem.
O gênio é torto.

HAICAI 3

Aquosa jornada.
Ele peleja, labuta.
Quase nada.

EXCELENTE!

Freqüentemente nos queixamos, com muita razão, da precariedade e da burocracia dos serviços públicos. São na maioria das vezes ineficazes, pachorrentos e nos tratam como se estivéssemos atrapalhando a existência dos funcionários, como se fôssemos um incômodo para o bem-estar deles, que, a rigor, são mantidos por nós, por intermédio dos impostos e taxas que pagamos.

Mas, um dia desses, tendo saído logo pela manhã, a fim de resolver pendengas burocráticas, tive de ir a um desses serviços públicos. Já cheguei armado e fazendo cara de quem deixa bem claro que estar ali não era nada bom. Como sempre, fila, mas não demorei a ser entendido. Não tive nem tempo de começar a pensar na vida e no que devo fazer para que tudo seja diferente. Eu já estava com a senha de atendimento em mãos; em menos de dois minutos eu seria chamado.

Quem me atendeu foi um senhor. Já calejado e ciente de que a burocracia impede o bom senso na maioria das vezes, após corresponder ao “bom dia” do funcionário, fui logo adiantando que talvez eu não estivesse no lugar certo para resolver o problema com as faturas. Mas o atendente, após me perguntar de que conta se tratava, foi logo dizendo que eu estava no lugar certo.

Revendo-o agora, creio que deve ter uns cinqüenta anos. O sorriso com que me recebeu era cordial mas não era exagerado. Por isso mesmo, convenceu. Entreguei-lhe os comprovantes de pagamento de contas que estavam atrasadas e ele começou a digitar. Digitava e olhava para a tela, digitava e olhava para a tela. Eu tentava ler em seu rosto algum problema, alguma irregularidade com os comprovantes. Mas ele continuava digitando. Num dado momento, perguntou-me alguma informação técnica sobre minha mãe, pois os documentos estavam no nome dela. Como eu havia pedido a ele segunda via de um documento, ele me disse que tal segunda via não seria necessária, pois a conta já havia sido paga. E mais: acrescentou que uma outra conta, paga momentos antes, também há havia sido quitada. Por fim, esclareceu que eu não precisava me preocupar, pois o dinheiro seria restituído por intermédio de créditos (acho que foi essa a palavra que ele usou).

Enquanto o senhor digitava, reparei que, sobre o balcão, havia um mecanismo vertical, de uns quinze centímetros, que parecia proporcionar ao cliente a possibilidade de opinar sobre o atendimento que tivera. Havia quatro ou cinco botões, um de cada cor. Sob cada botão, havia uma palavra. Elas iam de uma gradação que começa com (salvo engano) “excelente” e vai até (salvo engano) “péssimo”. Deduzi que o dispositivo estava ali para que pudéssemos de fato avaliar o modo como havíamos sido tratados, como havia sido o serviço etc. Por dois ou três instantes, senti-me tentado a apertar o botão “excelente”, mas não o fiz por temer que talvez essa não fosse a utilidade do mecanismo. Também por dois ou três instantes, pensei em perguntar a serventia da maquininha, o que não fiz.

No término do atendimento, o funcionário virou o monitor do computador para mim e me mostrou a prova de que duas das contas já haviam sido pagas. Trocamos algumas palavras e fui embora. No caminho de volta para casa, fiquei remoendo meu vacilo, meu pestanejar: eu deveria ter perguntado a utilidade do equipamento. Caso servisse para o que eu tinha pensado que servia, eu poderia ter opinado sobre o atendimento que recebi. Nem tanto pela repartição, mas pelo tato daquele funcionário. Voltei para casa com a sensação de que eu perdera a oportunidade de exercer algo de bom em mim.

HAICAI 2

Manhã à mão.
Sol busca o céu.
Glorioso sertão.

DA PAZ

A paz é um céu
bem escuro
pontuado
por estrelas.
A paz é escura
e silenciosa.

APONTAMENTO 21

A mais curta das viagens, desde que não se queira fazê-la, torna-se a mais longa.

CONTO 11

Marcos havia sido o tipo literato até os quarenta anos. Estava sempre bem-informado e praticando os idiomas que aprendera – inglês, francês e espanhol. No exato dia em que completou quarenta anos, desistiu do mundo das letras (de vez em quando escrevia alguns versos). Na juventude, chegara a publicar por conta própria um livro de poemas chamado “Caminhos do olhar”. Depois que abandonou o mundo da literatura, passou a se dedicar à criação de coelhos. A seguir, entusiasmou-se pela música. Logo após, pela filatelia. Mesmo antes das letras já havia sido interessado em basquete, chegando a jogar no time principal da cidade. Hoje em dia, tem se dedicado ao direito. Fez vestibular e foi aprovado, mas já está cogitando a idéia de abandonar o curso e se dedicar à etologia. A intenção é se concentrar no estudo das formigas.

CONTO 10

O grande sonho de Cátia era ser modelo. O desejo de freqüentar as passarelas, ser fotografada, gravar comerciais, dar entrevistas, ser famosa, ganhar dinheiro e estar em outdoors começou a acabar quando ela completou dezesseis anos. Foi nesse instante que, inexoravelmente, passou a engordar. A princípio, ainda teve alguma esperança de voltar a ter o corpo esguio e o andar leve. Depois, percebeu que seriam em vão as esperanças, as dietas e as ginásticas. Nunca parou de engordar. Hoje, muito veladamente, sente uma pontinha de inveja quando vê cenas de um desfile ou fotos de alguma modelo. Nada grave: já que não há como jogar fora o peso do corpo, Cátia jogou longe o peso das gordas preocupações.

"HOW DO YOU DO"

Mais cedo (3/9/2008), tive de ir ao dentista. Como eu ainda não havia sido paciente do profissional, ele tratou ao máximo de me acalmar, nos momentos que antecederam os trabalhos; o que nem seria necessário, pois não me preocupo com esse tipo de intervenção.

Enquanto dente e gengiva eram cavoucados, bem baixinho, quase imperceptíveis, ao fundo, pude ouvir solos de flauta. Não conheci o artista. Mas eu estava mesmo é com a canção “How do you do”, do Roxette, na cabeça. Eu nem gosto muito dessa canção, mas ficou em minha cabeça, desde que a escutei, ontem, numa rádio.

APONTAMENTO 20

É muito fácil ser otimista quando se é ignorante. Mas nem todo otimista é ignorante.

APONTAMENTO 19

No sonho, a verdade. Na leitura, a ponte para o sonho.

FOTOPOEMA 19


POP POEM

Be “Close to me”
and be The Cure.

CONTO 9

Joaquim conheceu Andréia. Os dois se casaram e foram morar no fundo da casa de Estevão e Isoleta, pais de Andréia. Chegou um ponto em que Joaquim não estava mais suportando a falta de privacidade, os palpites da sogra, a falta de educação do sogro e os latidos agudos de Bidu, o cachorro de Estevão. Numa discussão, os sogros de Joaquim jogaram na cara dele que ele pegava o boi de morar lá, pois não pagava aluguel nem criava vergonha na cara e construía uma casa. Joaquim disse para a esposa que iria embora; perguntou-lhe se ela iria com ele. Diante do vacilo dela, o marido não disse mais nada: fez as malas e partiu. Até hoje, os familiares de Andréia lamentam a ausência de Bidu, que acabou seguindo Joaquim no dia da partida.

FOTOPOEMA 18


LETRA DE MÚSICA (CANÇÃO DESAJEITADA)

Você tem um jeito...
Essa coisa imprecisa que
ao mesmo tempo é tudo.
Seu jeito é você toda.

Seu caminhar, respirar...
Cabelos, roupas, gestos...
Fico sem jeito, mas olhar é preciso.

Sua voz, humor e gentileza.
Um quê de criança na mulher feita.
Finjo levar jeito e componho uma canção.
Oferta de um cético que de repente acorda:
o amor me pegou de jeito.

CONTO 8

O dia de seu casamento havia chegado, e Margarida não estava certa se deveria mesmo se casar com Amauri. Horas antes da cerimônia, não sabia se fugia para Lagamar ou se entrava na igreja. Por fim, decidiu ir embora – vinte e dois anos e três filhos depois de casada.

O IDH DA CHINA

Ontem (16/8/2008), sábado, eu estava num bar conferindo música ao vivo. Numa das vezes em que fui ao banheiro, chegou até mim trechinho de conversa mantida entre um casal. Olhei para o lado. Pela aparência dele, julguei que tem uns 55; ela, uns 50. Mas sou péssimo em atribuir idade. De qualquer modo, apesar da olhadela, tive a impressão de que não eram um casal estabelecido; fiquei com a sensação de que ele a estava cortejando, de que aquela era a primeira vez em que saíam juntos.

Achei um barato o trecho da conversa que chegou até mim. Momentos antes de entrar no banheiro, ele conversava sobre o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) da China. E como eu já compusera toda uma situação na mente, atribuindo aos dois um clima de paquera, que nem sei se de fato havia, fiquei pensando nos caminhos que uma conversa pode tomar no momento em que há uma tentativa de conquista.

Embora ela conversasse quando saí do banheiro, não pude escutar nenhuma palavra. A música ao vivo continuava agradável. Pouco depois de o músico terminar, vi o casal saindo.

De mãos dadas.

ASSANHAMENTO

Quero um corpo
amoroso e safado
para que eu seja
safado e amoroso.
Dê-me teu corpo
e seja amorosa e safada,
para que eu seja
safado, amoroso e teu.

RELAÇÃO

Da palavra,
posso vir a ser
senhor e escravo.

Senhor,
se fizer dela
o que quiser.

Escravo,
caso sem ela
não consiga viver.

APONTAMENTO 18

Polemizar é muito mais fácil do que ser simples.

APONTAMENTO 17

Minha melhor ficção não está no papel. Minha melhor ficção sou eu.

CORPOS DO AMOR

De fato,
o coração dispara.
Mas não se iluda:
da cabeça aos pés,
tudo é a língua do amor,
tudo são músculos do amor.
Tudo é corpo amoroso.

FOTOPOEMA 17


A HISTÓRIA POR TRÁS DA FOTO (33)

O que me levou à fotografia de aves e pássaros foram as aves de rapina. Sempre gostei delas. A partir do momento em que decidi levar fotografia mais a sério, logo veio o desejo de fotografá-las.

A foto acima é mais uma feita lá no bairro Copacabana. Mais uma feita na última rua do bairro, a que fica mais perto do Rio Paranaíba. Eu estava em minha moto; equipamento fotográfico pendurado no corpo e pronto para o disparo. Em velocidade bem reduzida, eu prosseguia, prestando bastante atenção nos arredores, a fim de flagrar alguma imagem. Súbito, à minha esquerda, avisto este gavião-carcará. Assim que parei a moto, ele já se alarmou. Com movimentos lentos, sutis e pacientes, tirei o capacete, peguei a câmera e disparei. Pude fazer duas fotos.

PALAVRA E MELODIA

Gosto demais quando as barreiras que separam o erudito do popular são derrubadas. Sempre me senti atraído pela tentativa de se fazer uma amálgama dos dois. Em mim, isso é tão forte, que chego a pensar que se algum dia eu tivesse de arriscar uma definição para o que é a arte, eu partiria desse princípio de fusão entre o que é considerado popular e o que é considerado erudito.

Canções e literatura sempre me atraíram. O John Lennon disse que quando começou a escrever letras, tentava imitar o Bob Dylan. Nessa tentativa, Lennon se esforçava por escrever letras complicadas cujo sentido permanecesse latente. Com o passar do tempo, mudou a abordagem e passou a escrever textos mais simples, mais diretos, com menos metáforas – “Imagine” é um exemplo dessa fase menos rebuscada. Contudo, Lennon reiterava que tentava escrever letras que pudessem ser também lidas, letras que funcionassem como um poema.

A música pop tem letras que são poemas. O que é pop não tem de necessariamente produzir textos que possam ser considerados peças literárias, mas isso não impede que a literariedade esteja presente no que é pop.

Penso em “The Unforgiven”, do Metallica. Com muita freqüência, eu me lembro de um dos trechos da letra. Diz o seguinte (tradução liviana):

What I’ve felt
What I’ve known
Never shined through what I’ve shown

(O que senti
O que conheci
Nunca brilhou por intermédio do que mostrei)

O trecho não precisa ser cantado para “funcionar”.

Neste momento, escuto algumas canções. Uma delas, “Misread”, do Kings of Convenience. Um trecho da letra foi o que me levou a escrever o texto que você está lendo agora. Diz o trecho (novamente, tradução liviana):

How come no one told me
All throughout history
The loneliest people
Were the ones who always spoke the truth
The ones who made a difference
By withstanding the indifference

(Por que ninguém me disse
Que por toda a história
Os mais solitários
Foram os que sempre falaram a verdade
Os que fizeram a diferença
Resistindo à indiferença)

A MPB é pródiga em letras-poemas. De Pixinguinha a Lulu Santos, há fartura. E assim, “a porta do mundo é aberta/Minha alma desperta/Buscando a canção”.

LIVRES

Caminham juntos, os dois.
Não sabem para onde
nem para quê.
Inimigos, somente os que
eles mesmos inventam.
Superam todos.
Sem laços,
sem saudades,
não se voltam
para as pegadas
que imprimem,
não concebem futuro.
Plenos do presente
e inconscientes de si,
não sabem,
mas são felizes.

BREU

A luz pode ser trágica.
Enquanto isso,
a escuridão me pacifica.

POEMA

Gradação(1)

Fascinante,
a história de teu corpo,
quando ele vai
do coração que dispara
ao grito que goza.
(1) Há uma versão diferente deste poema lida em liviosoares.com.

APONTAMENTO 16

Palavras não são tudo, mas viver é menos pesado e triste quando transformo as coisas em palavras.

INEXORÁVEL

Mesmo
no esquife,
tudo se esquiva.

FANTASIA

Amor,
minha fantasia é
também geográfica.
Tanto que
está no mapa;
tem longitude e
(l)atitude:
eu e você,
emaranhados,
em camas de
Lençóis Maranhenses.

SILÊNCIOS

Tenho de me segurar.
Se não me policio,
vou à tua casa,
escalo as muralhas,
trago-te comigo.
Por fora, sou calma e senso;
por dentro, furor e desejo.
Para não invadir teu espaço,
edifiquei redoma.
Daqui de dentro,
a esperança (vã?)
de que estou
no silêncio teu.

APONTAMENTO 15

Renato Russo no palco: um ator que cantava.

SITE

Rusimário Bernardes reformulou seu portal na internet.

Além do talento para escrever, ele também faz páginas para a internet. Eu me lembro de que certa vez, conversando com ele, comentei que eu tinha o interesse de ter um site; então perguntei quem poderia fazer a página para mim. Ele disse: “Eu”. Isso já deve ter uns três anos. Desde então, temos trabalhado juntos, o que muito me agrada, pois ele soube traduzir muito bem o que eu tinha em mente.

Aqueles que conhecem o carismático Rusimário também sabem que entre seus inúmeros dons está o da amizade.

Para conferir o portal dele, acesse
www.nhardes.com .

FOTOPOEMA 16


SOFISMA?

O Brasil
nasceu na Bahia.
Eu nasci no Brasil.
Logo, sou baiano.

DIA DE BONGÔ

Hoje (26/7/2008), comecei o dia surrando meu combalido e empoeirado bongô. Comecei a escutar algumas canções, entusiasmei-me e me desenferrujei.

Acompanhei as seguintes canções:

“Ventura highway” – America (Essa, preciso treinar.)
“A estrada” – Cidade Negra
“Hope of deliverance” – Paul McCartney
“À noite sonhei contigo” – Paula Toller
“When a man is wrong” – Seal (Essa, com a pandeirola.)
“Só pra te mostrar” – Daniela Mercury – participação de Herbert Vianna
“Misread” – Kings of Convenience (Nessa, embananei no meio.)
“All around the world” – Lisa Stansfield e Barry White (Essa, pensei que não ficaria legal, mas gostei.)
“Lady” – Mojo (Essa tem um andamento mais rápido; por eu estar fora de forma, passei apertado.)
“In your eyes” – Peter Gabriel
“Esse seu jeito sexy de ser” – Sempre Livre
“A horse with no name” – America (Essa, toquei duas vezes; a primeira, ficou muito ruim; a segunda, um pouco pior.)

Fiquei devendo nas duas do America que compuseram o repertório. Mas foi legal. De alma lavada, sigamos.

P.S.: Depois de lidar com alguns afazeres, voltei para o bongô e ainda batuquei ao som de duas canções do Zé Ramalho: “Garoto de aluguel” (versão acústica) e “Beira-mar”.

OFERTA

Para as mangas, mangueira.
Para as maçãs, macieira.
Para o amor, amoreira.

O MISTÉRIO

Queres um quê
de mistério?
Sê simples.

SINESTESIA

Meu silêncio
e o silêncio
de minha casa
têm a cor
do crepúsculo.

APONTAMENTO 14

Se fosse para contar sobre os que foram embora, eu teria um bom número de histórias, mas quero é contar sobre os poucos que ficaram.

FOTOPOEMA 15


CONTO 7

Juras

Tudo começou muito bem. Nos planos, seriam felizes, aumentariam o amor, aumentariam o patrimônio. Este aumentou, mas aquele diminuiu até acabar. O casal está agora às turras, principalmente quando a briga é por dinheiro. Vivem trocando juros de amor.

FOTOPOEMA 14


A HISTÓRIA POR TRÁS DA(S) FOTO(S) (32)

A natureza não é feita somente de idílicos ocasos ou bucólicas paisagens. Uma olhadela um pouco mais atenta já vai revelar o muito de sangue que há na diária e incessante luta pela sobrevivência. Por intermédio de cândidos passarinhos ou de opulentos gaviões, passando por humanos cheios de empáfia, tenho presenciado, desde quando comecei a fotografar a natureza, cenas de sangue e morte.

Às vezes, essa luta pela sobrevivência gera momentos um tanto engraçados. A tesourinha, por exemplo, é turrona e metida a valente: persegue adversários bem maiores do que ela. Já vi tesourinha afugentando tucano e gavião – o bem-te-vi também é assim. (Ainda quero conseguir uma foto de bem-te-vi ou de tesourinha perseguindo tucano.)

As imagens acima ilustram dois momentos em que uma tesourinha botava pra correr um gavião-carrapateiro, que momentos antes estava pousado num fio. Mesmo quando já estavam bem mais longe, não podendo ser mais fotografados, o assédio continuou, e em dose dupla, pois súbito surgiria uma outra tesourinha para dificultar a vida do gavião.

Eu estava no bairro Copacabana quanto tirei as fotos.

A HISTÓRIA POR TRÁS DA FOTO (31)

Desde pequeno, sempre tive o maior fascínio por urubus. Creio que isso teve início na época em que eu lia histórias em quadrinhos. Com freqüência, eu conferia as aventuras do Homem-Aranha, que tinha um inimigo chamado Abutre. Era meu vilão predileto.

Além do mais, a sensação que tenho é a de que antigamente havia mais urubus. Pode ser uma impressão incorreta; afinal, a infância é hiperbólica... Ou talvez haja de fato menos urubus hoje, pois de lá para cá destruímos muito da natureza. À parte isso, era um barato observar os urubus lá longe. Eu ficava impressionado com o quanto voavam alto.

O tempo passou e comecei a fotografar. Quando me decidi a realizar fotografias de pássaros e aves, rapidinho passei a procurar os urubus. Uma das fotos, postei no
TrekNature. Paul Bratescu, um dos integrantes do site (conhecido lá como AnimalExplorer), ressaltou o trabalho de limpeza que os urubus realizam. Gostei muito do comentário dele. Eu, que já gostava de urubus por causa de memórias dos tempos da infância, passei a gostar ainda mais depois do comentário do fotógrafo. Uns olham para a imagem de urubus na carniça e dizem que a cena é nojenta; outros, que os urubus estão realizando um trabalho de limpeza. São dois modos de verbalizar uma só coisa. Na ocasião, cheguei a pensar no poder que as palavras têm. Mas isso é uma outra história...

A foto acima foi tirada no bairro Copacabana, aqui em Patos de Minas.

FOTOPOEMA 13


SHOW DE BOLA

Agora há pouco (18/7/2008), estive conferindo show com o Mistura Fina e Wilmar Carvalho (voz e guitarra), num dos restaurantes da cidade. No repertório, clássicos do cantor e compositor Djavan.

O Mistura Fina tem como integrantes César Braga (piano digital), Castor (bateria) e Ivan Rosa (baixo). O trio tem mantido um trabalho à parte, já tendo se apresentado em bares e restaurantes, com música instrumental. Paralelamente, já realizaram com Wilmar Carvalho shows no Teatro Municipal Leão de Formosa, ocasiões em que apresentaram canções de Caetano Veloso.

A apresentação de há pouco teve um breve intervalo, de modo que o show foi divido em duas partes.

O que mais me chamou a atenção na história toda é que o espetáculo não teve cara de cover do Djavan. Pérolas como “Faltando um pedaço” (em belíssimo arranjo), “Lilás”, “Meu bem querer” e “Pétala” compuseram o repertório, mas foram executadas à moda do quarteto. Para se ter uma idéia, “Sorri” teve “pegada” jazzística. O efeito disso foi bacana. Ao mesmo tempo em que nós, platéia, estávamos escutando Djavan, havia um toque pessoal por parte de cada um dos integrantes da banda. Em conversa com eles depois do show, Castor disse que já são experientes o bastante para darem o toque personalizado no que estão tocando.

Terminada a apresentação com as canções do Djavan, o trio Mistura Fina ainda tocou por mais alguns minutos.

É intenção do quarteto continuar tocando junto.

Logo mais, apresentam-se novamente, no mesmo local. A noite de sexta está garantida.

FOTOPOEMA 12


FOTOPOEMA 11


PREFERÊNCIA

Teus cabelos?
Prefiro
quando estão
debelados
e desajustados.

FOTOPOEMA 10


FEROMÔNIO

Amo-te
por gostar
de teu cheiro
ou gosto
de teu cheiro
por te amar?

A HISTÓRIA POR TRÁS DA FOTO (30)

Como de praxe, nesse sábado (12/7), fui conferir música ao vivo num dos restaurantes da cidade. Estavam se apresentando Woodson (bateria eletrônica), Pedro (violão) e Rejane (voz).

A cantora havia me ligado para que eu fizesse algumas fotos da apresentação. Enquanto a música rolava, vi que a sombra do braço do violão, produzida por uma luz amarela atrás dos artistas, proporcionaria uma foto.

No intervalo de uma música para outra, pedi ao Pedro que posicionasse o braço do violão de modo que eu pudesse fotografar a sombra, que se projetava no chão.

SEM PALAVRAS

Mais cedo (9/7/2008), num dos bares da cidade, conferi show com o grupo Mistura Fina, que executa música instrumental. Os integrantes são Ivanir Rosa (baixo), Castor (bateria) e César Braga (piano digital). No repertório, clássicos do jazz, do samba e da MPB em geral. De Creedence Clearwater Revival, passando por Tom Jobim e Jorge Benjor, o repertório é executado com técnica e curtição pelos três experientes músicos.

Em conversa que mantive com eles depois da apresentação, disseram que têm a intenção de continuar com os shows. Além de realizarem o trabalho com música instrumental, é plano deles se juntarem a cantores e apresentarem mais uma faceta de seu trabalho. Já há apresentações agendadas com o cantor e músico Wilmar Carvalho. Nos dois primeiros shows por vir, vão apresentar músicas de Djavan (com Wilmar Carvalho, já se apresentaram no Teatro Municipal Leão de Formosa, em shows com clássicos de Caetano Veloso). Virão ainda apresentações com canções do Legião Urbana.

Os três são professores do Conservatório Municipal, onde se pode entrar em contato com eles.

CROMO 6

Mais uma de minhas fotos feitas com câmera analógica; mais uma da série feita com cromos.

Tirei a foto no Parque do Mocambo. Quando cheguei ao local, um dos vigias do parque, assim que me viu com equipamento fotográfico, fez gesto para que eu me aproximasse com vagar e silêncio de um lugar apontado por ele. Lá chegando, avistei o mico acima a alguns metros. Quando perguntei ao vigia o motivo de o animal estar ferido, foi-me dito que por certo havia sido alguma briga envolvendo os integrantes do bando a que o mico pertencia. Ou então, alguma pedrada...

Nas proximidades, havia um abrigo. O vigia foi até lá e pegou um pedaço de pão. Em seguida, aproximou-se do mico. Este reteve o pão mas não foi embora; talvez, na esperança de ganhar mais um pedaço. Enquanto ele se alimentava, pude tirar várias fotos.

APONTAMENTO 13

O astrônomo lê nas estrelinhas.

A HISTÓRIA POR TRÁS DA FOTO (29)

Eu me lembro de que no dia em que tirei esta foto (23 de julho de 2005), lamentei não ter, na época, uma objetiva de alcance maior, pois havia alguns urubus se alimentando ao longe, num pasto. Havia uma cerca, que não pulei. A noite estava prestes a chegar. Sem a possibilidade de fotografar de perto as aves, ainda assim, não vim embora. Permaneci nas proximidades, procurando mais alguma possível imagem. Foi então que percebi que, saciados, os urubus iam para uma árvore. Meio sem expectativa, tirei uma foto da árvore em que estavam e vim embora. Eu havia até me esquecido desta foto; ontem, mexendo em velhos arquivos, ela surgiu.

FOTOPOEMA 9




FOTOPOEMA 8


APONTAMENTO 12

Algo em mim muda a todo momento. Algo em mim permanece o mesmo a cada instante.

"VIAGENS PROFUNDAS", DE ROSE GONÇALVES

Hoje (1/7/2008), recebi correspondência que me deixou muito contente – foi-me enviado o livro “Viagens profundas”, de Rose Gonçalves.

Rose mora atualmente em Lavras/MG. Enquanto esteve em Patos de Minas, exerceu seu belo talento, dando aulas de canto e se apresentando em bares e restaurantes da cidade. Foi a partir de um encontro num bar que passamos a ter mais contato.

Rose tem passado por problemas de saúde. Em Lavras, conta com o apoio e a ajuda da família. Mas o bacana na história toda é que ela não larga mesmo mão de se agarrar à vida. A mais nova prova disso é o livro lançado por ela recentemente.

A obra reúne poemas escritos pela cantora. Foi publicado pela Câmara Brasileira de Jovens Escritores, do Rio de Janeiro.

Rose, que já conferia voz e sentimento a versos alheios, decidiu conferir palavras e páginas a seus próprios sentimentos, à sua própria voz. Que a viagem esteja apenas começando.

APONTAMENTO 11

A zebra é simetricamente pedrês.

APONTAMENTO 10

Fiquei esperando uma verdade súbita, mas isso não há. O que há é o devagarinho de cada instante.

MAIS NOVIDADE EM MEU SITE

Caras pessoas, agora, em meu site, há também textos em inglês lidos por mim. São letras de música pop e trechos de autores estrangeiros que curto. Caso queiram conferir, gentileza acessar liviosoares.com.

APONTAMENTO 9

Agora há pouco (29/6/2008, 1h12), estive dando uma olhada em algumas fotos que tenho tirado desde quando passei a me dedicar de modo mais intenso à fotografia. Sem pedantismo, digo que achei muito bom olhar as imagens. Não por elas em si, mas pelo que fiz em nome da paixão pelo ato de fotografar. Pegar o equipamento, pegar a moto e sair à caça de imagens. Cada foto, uma história. Por fim, regozijei-me, pois gostei da história que construí. (Se isso soa a vaidadezinha boba, relevem.)

A vida é precária; precária é a história que tenho feito. Mas é uma história que, por instantes, muito me agradou. Envolvi-me com textos e com imagens. Tudo mesmo para que eu me envolvesse com a vida.

NOVIDADE EM MEU SITE

Pessoas, agora, em meu site, há a leitura que faço de alguns textos meus. Caso queiram conferir, gentileza acessar liviosoares.com.
Valeu.

APONTAMENTO 8

Não sei bem se a literatura faz com que eu me aproxime de mim ou se faz com que eu me afaste de mim. O fato é que sem literatura viver seria muito mais perigoso ainda.

À MANEIRA ORIENTAL 2

Nem
a esquerda
nem a direita.
Quando muito,
à esquerda
ou à direita.
Mas já que
o caminho
é um, não há
à direita
ou à esquerda.
Não há
nem direita
nem esquerda.
Há apenas
o caminho.

À MANEIRA ORIENTAL

Se queres ser dono
da verdade,
sê dono
de nada.

A HISTÓRIA POR TRÁS DA(S) FOTO(S) (28)

Conforme combinado na postagem anterior, eis as fotos de um porco-espinho.

Eu estava no bairro Copacabana. Era o dia trinta de dezembro de 2006. Tempo nublado. O Rio Paranaíba estava cheio. Por causa disso, animais que geralmente ficavam do outro lado do rio vieram para o lado de cá ou se viram obrigados a êxodo temporário, por causa da enchente.

Parece-me ser o que ocorreu com o amigo acima. O curioso é que ao vê-lo no alto de uma árvore, pensei se tratar de um ninho qualquer, embora um ninho bem grande. Contudo, chegando mais perto, vi que era um animal que eu nunca tinha visto. Comecei a fotografar. O barulho de obturador o acordou, mas ele não fez nem menção de sair do lugar em que estava. Enquanto eu fotografava, uma viatura da Polícia Militar, patrulhando a área, parou. Havia dois ou três policiais no carro; desceram e me perguntaram o que eu estava fotografando. Quando lhes mostrei o porco-espinho, um deles se aproximou da árvore em que o animal estava e mexeu nos galhos. O porco-espinho então saiu de onde estivera até então e foi para outra árvore; uma das imagens acima registra o momento em que ele se movimentava.