Assim que os olhos encontraram o dorso, o peito e os braços de Bernardo, foi inevitável: Samanta lembrou-se do Davi, do Michelangelo. Ficou encantada. Queria olhar, mas ficava sem jeito de encarar. Pelo canto do olho, observava, lamentando mais uma vez sua timidez congênita, enquanto malhava. Quando Samanta foi tomar água, Bernardo, de saída, passou próximo ao bebedouro. Foi quando a pequena toalha que estava sobre seu ombro caiu. Um vendaval tomou conta da cabeça de Samanta. Ela logo concebeu para o futuro uma história de amor que começou por conta de algo que havia caído. Interrompendo a água que bebia, Samanta apanha a toalha e vence a timidez: “Moço, você deixou cair”. Bernardo estica o braço, pega a toalha; não diz nada nem olha para a cara de Samanta. E vai embora.