terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Lista de compras

— Hoje é dia de compras, tá ok? Lê a lista. Não quero que falte nada.

— Alfafa, chiclete, geleia de mocotó, picolé, sagu, vinho.

— Beleza.

— É pra comprar vacina também?

— Não. Nada de gastar com coisa inútil. 

Haicais

De gritar, ficou rouco.
Milhões em leite condensado.
Gritou que era pouco.
_____

Na lista, alfafa.
O ruminante engole.
A milícia se safa.

Haicai lácteo

Miliciano empossado.
Não adianta chorar sobre
o leite condensado.

Camuflagem

Dos que defendem torturadores, ditadores e viciados em leite condensado, os mais sórdidos não são os que se declaram a favor de torturas e de ditaduras; esses são sórdidos, mas pior do que eles são os que posam de civilizados, de amantes do belo e da(s) humanidade(s), camuflando o que de fato são: endossadores de genocidas. 

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

“Impeachment” e diferenciações

Não é somente sobre aqueles que não sabem diferenciar um camelo de um dromedário que o chefe do executivo federal tem influência. Ele tem influência também sobre quem acredita em cloroquina no tratamento contra covid-19, quem acredita que ele é um ungido, um enviado que é bom demais para estar pisando solos tão mundanos, pois o pastor ou o padre assim disseram, quem acredita que ele é competente e trabalhador, quem acredita que não houve corrupção durante a ditadura militar ou quem acredita que a corrupção acabou de dois anos para cá...

Não bastassem os milhões acima, há outros milhões: os que agem de má-fé, os que são a favor de que não haja alíquotas de importação para armas e defendem impostos sobre livros, os que se julgam cientes por lerem a Veja, os que acreditam em qualquer coisa que for dita pela tal da chamada grande mídia, os que enxergam sagacidade em seres como Alexandre Garcia, os que defendem “espiões” embutidos em vacinas, os que querem torturas e ditadores, os que admiram Luciano Hang, os que são adeptos do tribalismo masculino, os que não se importam com o que está ocorrendo em Manaus, os que desdenham do isolamento social...

A chamada grande mídia finge faniquito quando o mandatário berra a ignorância dele (o que ele tem berrado há décadas). Essa mesma grande mídia convence milhões de que ela nada tem a ver com a tragédia que é ter colaborado para que esteja no poder um cara sem o menor senso de algo que soe como espírito público, civilidade ou empatia. Para piorar, em meio à classe política, há muitos deles lucrando, seja de modo literal, seja de modo figurado, com o estado das coisas como estão. A parcela dos hipócritas que se fingem arrependidos (hipócritas porque o próprio chefe do executivo federal divulga há tempos a crueldade e a preferência por dizimações) é pequena e não está a fim de exercer pressão sobre políticos. Pelo que escrevi até agora e por questões que eu nem saberia anunciar, não vai haver o “impeachment” presidencial.

Por fim, é preciso escrever com justeza. Nem todo mundo que não sabe diferenciar o camelo do dromedário, o rato do camundongo, o coelho da lebre, o jacaré do crocodilo, o vírus da bactéria, a guitarra do contrabaixo, o coentro da salsa, a Winona Ryder (em qualquer filme) da Keira Knightley (em Desejo e reparação), o Brasília do Variant votou no defensor de torturadores. Muita gente não sabe diferenciar nada disso, mas não ignorou a obviedade escancarada pelo próprio defensor de genocídios e por tantos outros que desde que surgiu para a cena política, o político que diz ter histórico de atleta já gritava ser o que tem sido. Quem nega isso não sabe diferenciar um burro de um presidente.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

O ar não é para todos

Nada novo vindo de um chefe de Estado que continua (e continuará) não se importando com a vida alheia. Ele mesmo vive defendendo torturadores e ditadores. Se o outro morre sob tortura ou sem ar, isso é irrelevante para quem a vida desse outro é inútil. Muitos votantes concordam com o votado, pois, ainda que alguns deles posem de sofisticados e de defensores do próximo e da natureza como um todo (são os mais cínicos), endossaram, por intermédio do voto, alguém que, há décadas, tem deixado claro que já era o que tem sido — um sujeito para o qual o outro é um mal a ser eliminado. Insisto, repito, reitero, reescrevo: o que tem vindo do chefe de Estado não surpreende. Só um hipócrita, um imbecil ou um adepto de torturas e afins poderia alegar ter suposto que seria diferente: quem sempre defendeu a violência não vai se tornar de repente um estadista preocupado com o destino do outro. Asfixiado, o país vai morrendo. Todavia, sejamos justos: o governo federal não é o único a defender a crueldade. Ele tem adeptos. Os corresponsáveis pela debacle podem estar num gabinete político, numa mansão ou numa mercearia (este, contando os trocados, verificando se o dinheiro vai ser o bastante para comprar o arroz). 

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Sangue meu

O índio é o outro.
O índio sou eu.
Eu sou o índio.
O outro sou eu.

O preto é o outro.
O preto sou eu.
Eu sou o preto.
O outro sou eu.

Meu sangue da África,
meu sangue da floresta,
vermelho como 
sangue do preto,
vermelho como 
sangue do índio. 

sábado, 2 de janeiro de 2021

Praia Grande

 — Não há plano de vacinação, há pessoas morrendo... E o que o comandante faz?

— Nada.