domingo, 4 de outubro de 2015

IMPRENSANDO

Veja como isto é revelador de uma época: a imprensa se denuncia pelo que não cunha. 

"O SAL DA TERRA"

“O Sal da Terra” (2014) é um belo documentário sobre a vida e a obra de Sebastião Salgado. É dirigido por Wim Wenders e por Juliano Ribeiro Salgado, o qual é filho de Sebastião Salgado. O roteiro, além de Wenders e de Ribeiro Salgado, conta com David Rosier. Mesclando a vida e a obra do fotógrafo, Wenders e Ribeiro Salgado realizam um filme que é denso e lírico.

Sebastião Salgado viajou o mundo todo, registrando a dura existência de diferentes povos do planeta. O que emerge dessas fotografias e do testemunho do fotógrafo, que comenta algumas das imagens que fez, é uma humanidade cruel, impiedosa. Os trabalhos fazem com que sintamos vergonha do que temos feito contra nós mesmos. 

A despeito desses contundentes registros, “O Sal da Terra” é um tributo a um talento, a uma vida. Depois de assistido, o tom com que ficamos é poético, esperançoso, apesar das desgraças que são exibidas por intermédio das fotos de Salgado. São décadas dedicadas a um ofício. “O Sal da Terra” é o... retrato de um fotógrafo profundamente envolvido com suas origens e  com a humanidade.

Sebastião Salgado é o cosmopolita perfeito, o homem do mundo que, por intermédio de seu talento, convida à reflexão; ao mesmo tempo, esse cidadão do mundo não deixa de interferir, de modo radicalmente positivo, como bem exibido no documentário, na terra em que nasceu. Sebastião Salgado é, antes de tudo, um homem preocupado com o destino humano aqui neste planeta.

Ele já foi acusado de estetizar a tragédia ou de com ela lucrar. Não encaro desse modo. Sempre que dizem isso acerca do trabalho dele, penso que seria o mesmo de acusar o dentista de lucrar às custas de nossas cáries. Seria o mesmo que acusar Émile Zola ou Victor Hugo por terem escrito obras-primas que retratam as mazelas que podem afligir os homens.

Em narrativa cronológica, “O Sal da Terra” traz à tona o homem por trás das lentes, sem deixar de evidenciar o que as lentes de Sebastião Salgado têm produzido ao longo das décadas. O fim do documentário tem uma poderosa e comovente mensagem ecológica, não só por mostrar um pouco do “Genesis”, trabalho em que Salgado retrata a natureza, mas também por exibir o que o fotógrafo fez na fazenda que pertencera a seu pai. 

O perfil que Wenders e Ribeiro Salgado realizaram é tão gigante quanto a vida e a obra do fotógrafo. O título do documentário, além de clara referência ao nome do artista, resgata Mateus: “Vós sois o sal da terra”. Aproveito a metáfora para dizer que Sebastião Salgado é um de seus talentosos e humanistas grãos. 

MEETING DE NEGÓCIOS

Eram 14h. Tião Lira Matos Conde de Sá Silva e Mendes e Smith e Brown e Oliveira começa a reunião:

— Vivemos uma época de transição. É preciso startar um novo modelo. Não dá mais pra continuarmos com essa preguiça. Vamos erguer as bundas das cadeiras! A hora é agora. Now! A vida não é uma realidade que é printada e arquivada num celular a partir de um app qualquer. Não! No! O que a vida quer da gente é iniciativa. É preciso dare! É preciso be there!

“Sei que muitos podem não ter entendido o trocadilho. O que quero é mostrar que os tempos são outros. A linguagem needs ser outra. Por isso me valho de foreign palavras. Estou in tune com o que há de mais moderno. Dizia eu que os tempos são outros. As atitudes precisam ser outras. Nós precisamos ser outros. Não podemos settle down. A vida pede action, não podemos give upar quando as dificuldades estão por perto. Precisamos de renovação, precisamos gritar se somos bons, precisamos gritar se não somos bons. Precisamos escrever em negrito, precisamos be bold!

“Relevem mais esse trocadilho. Sou fã de puns. É preciso aguçar a inteligência, é preciso criar something new. É preciso startar (relevem a repetição do verbo) a todo momento. Chega de conservadorismo. No more traditions! Arregacem as mangas, sejam seus próprios líderes. Se estão em dúvida, mirem-se em mim. Mas não quero seguidores. Quero just ser o exemplo para vocês. Se estão em dúvida, follow me. Não encarem isso como pretensão. Estou apenas sendo realista.

“Eu era pobre. Eu agora troco de carro todo ano, tenho cargo de destaque onde trabalho. Sou um winner, mesmo quando há winter. Na academia, dizem: “Publish or perish”. Adaptei o sábio dito acadêmico. Em nosso meio, “be seen or perish”. Grite, esperneie, imponha-se. Não importa ter razão, não importa ser legal. Importa, sim, ser visto, ser alvo de comentários, não importa se bons ou ruins. That’s the way it is.

“O mundo é dos espertos. Quem não concordar com isso que vá embora. Quem não for esperto que vá plantar alface no seu quintal. O que temos aqui é a vida como ela é, sem maquiagem, sem truques, sem mimimi. Fiquem espertos, people. Não se chega a lugar nenhum sendo um bunda-mole. A gente tá aqui é pra mandar ver. Fuck all the rest. Relevem o palavrão. Sou espontâneo, sou autêntico, sou um victorious.

“Aqui não é lugar de silêncio nem de humanidades inúteis. Sejamos práticos, convincentes, rápidos, dinâmicos, produtivos. Shout, man. O mundo precisa escutar você. Não é mergulhando em fruitless reflexões que você galgará os degraus que levarão ao êxito. A escadaria para o céu é difícil. Ce n’est pas facile! Quem quer moleza que fique em casa lendo seus livrinhos. Este é um lugar para guerreiros. This is war. Sou o líder de vocês. Adianto que sou exigente. Mas garanto que valerá a pena.

“Posso listen to you, pra não dizerem que sou um dictator. Não, não sou um dictator. Sou apenas um cara do interior que agora sabe o que fazer, que agora sabe o caminho, que agora está pronto para teachar. Vocês estão aqui para learnar, para growar, para obeyar. Para tal, basta que se mirem no que fui capaz de buildar. Thanks a lot. Sem mais o que dizer, resta este último lembrete: vamos todos, agora, startar a workar. The meeting is over”.