“O Sal da Terra” (2014) é um belo documentário sobre a vida e a obra de Sebastião Salgado. É dirigido por Wim Wenders e por Juliano Ribeiro Salgado, o qual é filho de Sebastião Salgado. O roteiro, além de Wenders e de Ribeiro Salgado, conta com David Rosier. Mesclando a vida e a obra do fotógrafo, Wenders e Ribeiro Salgado realizam um filme que é denso e lírico.
Sebastião Salgado viajou o mundo todo, registrando a dura existência de diferentes povos do planeta. O que emerge dessas fotografias e do testemunho do fotógrafo, que comenta algumas das imagens que fez, é uma humanidade cruel, impiedosa. Os trabalhos fazem com que sintamos vergonha do que temos feito contra nós mesmos.
A despeito desses contundentes registros, “O Sal da Terra” é um tributo a um talento, a uma vida. Depois de assistido, o tom com que ficamos é poético, esperançoso, apesar das desgraças que são exibidas por intermédio das fotos de Salgado. São décadas dedicadas a um ofício. “O Sal da Terra” é o... retrato de um fotógrafo profundamente envolvido com suas origens e com a humanidade.
Sebastião Salgado é o cosmopolita perfeito, o homem do mundo que, por intermédio de seu talento, convida à reflexão; ao mesmo tempo, esse cidadão do mundo não deixa de interferir, de modo radicalmente positivo, como bem exibido no documentário, na terra em que nasceu. Sebastião Salgado é, antes de tudo, um homem preocupado com o destino humano aqui neste planeta.
Ele já foi acusado de estetizar a tragédia ou de com ela lucrar. Não encaro desse modo. Sempre que dizem isso acerca do trabalho dele, penso que seria o mesmo de acusar o dentista de lucrar às custas de nossas cáries. Seria o mesmo que acusar Émile Zola ou Victor Hugo por terem escrito obras-primas que retratam as mazelas que podem afligir os homens.
Em narrativa cronológica, “O Sal da Terra” traz à tona o homem por trás das lentes, sem deixar de evidenciar o que as lentes de Sebastião Salgado têm produzido ao longo das décadas. O fim do documentário tem uma poderosa e comovente mensagem ecológica, não só por mostrar um pouco do “Genesis”, trabalho em que Salgado retrata a natureza, mas também por exibir o que o fotógrafo fez na fazenda que pertencera a seu pai.
O perfil que Wenders e Ribeiro Salgado realizaram é tão gigante quanto a vida e a obra do fotógrafo. O título do documentário, além de clara referência ao nome do artista, resgata Mateus: “Vós sois o sal da terra”. Aproveito a metáfora para dizer que Sebastião Salgado é um de seus talentosos e humanistas grãos.
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