Certa vez, tive de participar, em Belo Horizonte, de um evento promovido pela escola em que eu então trabalhava; uma escola aqui de Patos de Minas. Da programação, constava uma palestra sobre ética. Logo, logo, torci o nariz, supondo de antemão ser mais uma daquelas palestras a que tantas e tantas vezes eu havia assistido: carregada de chavões, de humor duvidoso e forçado e temperada por constrangedoras obviedades.
Com exceção das primeiras palavras do palestrante, de cujo nome não me lembro, não me recordo de mais nada do que ele disse. Todavia, essas primeiras palavras sempre me acompanham desde então. Ao iniciar a fala dele, o conferencista disse que se estávamos lá reunidos para discutir ética, isso seria sintoma de que ela estava faltando. A seguir, sim, afirmou o que foi marcante para mim: “Além do mais, a gente percebe se o sujeito tem ética pelo modo como ele abre uma porta”.
Somos metonímias, metáforas, indícios, índices, signos. Dizemos o que somos em corpo, em palavras e em silêncios. Somos o que dizemos e aquilo que queremos dizer. Nós nos “denunciamos” o tempo todo; em cada gesto nosso dizemos ao outro o que somos; mesmo no silêncio (ou, talvez, principalmente nele), contamos para o outro o que somos. Em contrapartida, no todo, somos maus leitores do que o outro nos envia.
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Estou com forte impressão de que já contei sobre o palestrante mencionado acima e de que já escrevi as digressões contidas neste texto.