domingo, 30 de setembro de 2012

"INSIDE OUT"



Terminei de ler hoje o divertido “Inside out – a verdadeira história do Pink Floyd” (“Inside out – a personal history of Pink Floyd”), de Nick Mason, o baterista da banda. O livro foi publicado no Brasil pela Escrituras. A tradução é de Alan Ianke.

Mason tem senso de humor e capacidade de rir de si mesmo, duas grandes qualidades. O texto é leve, despretensioso e nada afetado. Além do mais, tem o grande mérito de humanizar os integrantes da banda – o que considero traço marcante das boas biografias.

Brigas, dificuldades, discussões e discordâncias são mencionadas. Contudo, Mason não está preocupado em revelar detalhes sórdidos. Se você é do tipo que gosta de ler em biografias revelações acachapantes, não leia “Inside out”.

Mas se é fã da banda ou se interessa pelo pop/rock como um todo, não deixe de ler. O Pink Floyd marcou o pop/rock no século passado; isso já é motivo o bastante para que conheçamos um pouco mais sobre os caras.

Há pouco, comentei sobre o tom despretensioso do livro e sobre as boas biografias humanizarem os personagens. “Inside out” tanto é assim que há trechos em que Mason chega a se confessar como não sendo um grande baterista; ele até menciona gravações em que ele não toca – de acordo com ele, por falta de competência...

Aqui e ali, a edição tem alguns errinhos, principalmente de digitação. Isso acaba depondo contra a versão brasileira do livro. Mas, pelo menos, esses pequenos erros não estragam todo o trabalho, pois a leitura flui contentemente na companhia do humor e da ironia de Mason.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

APONTAMENTO 155

Enquanto não chega a morte, não viver é impossível. Viver deveria ser simples, pois que outra alternativa não há enquanto não se morre. Mas o viver é complicado. Se não é, sabemos como torná-lo. A gente complica. A gente se complica. Depois a gente simplesmente morre.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

DICIONÁRIO (34)

branquear. Criar brânquias.
bronquear. Criar brônquios.

domingo, 23 de setembro de 2012

SOBRE A FOTOGRAFIA

Em meus cursos de fotografia, sempre digo a meus alunos que o ato de fotografar começa antes que se aperte o obturador – começa com o treino do olhar.

Para a fotografia, não bastar ver; é preciso olhar. A título de exercício, peço aos alunos que façam o seguinte dever de casa: fotografar algo que não lhes pareça convidativo para o olhar, algo que lhes pareça feio ou algo em que ainda não haviam reparado.

Peço a eles que prestem atenção em suas casas, em seus quintais, em suas cozinhas... Há um mundo de possibilidades diante da gente pedindo para ser transformado em fotografias. Isso não implica abrir mão de temas considerados clássicos, como paisagens, cachoeiras, pessoas lindas...

Tento incutir a ideia de que não há um tema mais nobre do que outro. O que há são preferências, inclinações, referências pessoais e estéticas. Dominar a técnica fotográfica é fundamental, mas não resolve tudo. Há muito de sensibilidade, de espírito aberto, de paixão.

O Manoel de Barros escreveu que “besouro na merda se sente no palácio”. É por aí. À medida que o senso do olhar vai se aguçando, à medida que a pessoa começa a reparar a seu redor e começa a fotografar, as temáticas preferidas vão se insinuando, vão se aproximando num flerte sutil e gostoso.

Além do mais, a convivência com a fotografia e o treino do olhar não impedem o ecletismo. Nada impede que haja temáticas, em vez de uma única temática eleita. Não impede que o fotógrafo se sinta à vontade para fotografar assuntos díspares como produtos comercias e natureza, por exemplo.

O que vale é que a foto seja feita do melhor modo possível. Que a técnica seja dominada, a ponto de se tornar algo natural e espontâneo – mas que não sejamos escravos dela. Que o olhar se enriqueça a ponto de perceber que o mundo está aí, diante de nós, doido para ser fotografado. A fotografia tem o poder de nos mostrar que qualquer canto do mundo pode ser bonito.

FOTOPOEMA 273

FOTOPOEMA 272

FOTOPOEMA 271

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

A HISTÓRIA POR TRÁS DA FOTO (69)

Deu um trabalhão tirar esta foto. Não que ela tenha algo de mirabolante. É que eu queria fazer ressoar as cordas do violão, a fim de produzir sensação de movimento nelas. Para tal, eu baixaria a velocidade (usei 1/5; F/3.5).

Contudo, o tripé que eu usava estragou. Assim, tive de fazer a foto segurando a câmera. Só que estava complicado segurá-la e fazer as cordas se movimentarem. Se eu baixasse mais do que 1/5, o risco de a imagem ficar tremida aumentaria.

Assim, com a mão direita, fiz o foco, enquanto tentava não mover a equipamento; com a esquerda, fiz vibrar as cordas o máximo que pude. “Corri” então com a mão esquerda, para que ela envolvesse, junto com a direita, a câmera. Por fim, apertei o obturador.

Foram cinco tentativas. Numa imagem como a que eu queria, haveria mais ação no encordoamento, seja por estar a câmera sobre um tripé seja por haver alguém aqui para causar o movimento nas cordas...

CONTO 52

Fernando Reis vivia dizendo que seu projeto de vida era comprar um sítio, mudar-se para lá e ficar o dia inteiro lendo Guimarães Rosa, fumando e tomando pinga – não necessariamente nessa ordem. Mas seu último trago, longe do sítio e cercado do barulho da cidade, foi bebido em companhia de um verso de Fernando Pessoa.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

LETRA DE MÚSICA (33)

Faço uma canção paro o filho que não tive
Faço uma canção para todos os filhos
O que não deixa de ser uma canção para nós

Os pais viram gente depois dos filhos
Os pais viram amor depois dos filhos
Os pais viram madrugadas depois dos filhos

Os filhos crescem e são do mundo lá fora
Felizes ou infelizes, os pais são de coração
Sejam felizes os filhos para serem felizes os pais

Faço uma canção para o pai que tive
Faço uma canção para a mãe que tenho
Faço uma canção para todos os filhos e pais

FOTOPOEMA 270

sábado, 15 de setembro de 2012

LETRA DE MÚSICA (32)

Haverá um momento em que
tudo fará sentido.
Chegará o dia em que
tudo terá valido a pena.
Quando chegar essa época,
estarei pronto para o que sou.
Estarei proto para chegar ou partir.
Estarei pronto para começar.
Saberei começar como se
tudo tivesse acontecido.

Eu sei da vergonha de rir,
entendo de caminhos claudicantes.
Cada segundo meu é complexo
em infantil paralisia.

A vida me fez capaz de muita atenção,
mas dependente de muita.
Eu quis um coração, mas o meu
nunca esteve pronto.
Quis que me aceitassem,
não aprendi a me aceitar.

Eu li, eu compreendi, eu escrevi,
mas dependo como nunca de
ser lido sem ter de me explicar.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

AUTORIA

Escrevo o destino.
Sou escrito por ele.

Escrevo o destino de todos.
Todos escrevem o meu.

Do destino,
sou autor
e personagem.

Há uma trama
que teço – e por
ela sou tecido.

Enquanto a caneta
desliza sobre o papel,
não sei se tramo
ou sou tramado.

O ponto a seguir
é trabalho meu e teu.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

ENSAIO (9)

Fotos tiradas no Parque Municipal do Mocambo, em Patos de Minas, na tarde do dia primeiro de setembro. No local, ocorreram apresentações de bandas dentro do Festival Marreco. Além da música, poesia, esporte e debates fizeram parte da programação do festival, que neste ano foi realizado pela quinta vez.







sábado, 1 de setembro de 2012

"MELANCIA"


Podem ser curiosos os caminhos que um livro percorre até chegar às mãos da gente. Larissa, minha aluna, comprou “Melancia” (Watermelon, Edições BestBolso, tradução de Sônia Coutinho) porque lera incorretamente o nome de Marian Keyes, a autora. Em vez de ler “Marian”, Larissa leu “Miriam”, nome de sua mãe. Foi esse o critério adotado por ela ao comprar o livro.

Em sala de aula, a conversa desembarcou em livros e leituras. Foi então que a Larissa começou a falar muito mal de “Melancia”, dizendo que é um dos piores livros que já havia começado a ler. Ainda de acordo com ela, bastaram algumas páginas para que ela largasse a obra. Ri e quis saber mais sobre “Melancia”, achando o título um barato.

Larissa disse ainda na ocasião que o título se deve ao fato de a narradora estar se sentindo enorme e gorda, tal qual uma... melancia. Achei engraçada a ênfase com que minha aluna falava mal do livro, engraçado o quanto o título era chamativo. Então pedi à Larissa que levasse o livro para mim no dia seguinte, quando voltaríamos a ter aula.

Aleatoriamente, eu o abri. Achei muito festivo um trecho aleatório que li. A seguir, percorri metade da primeira página. Então já era tarde: eu havia sido cativado; teria de ler o livro. Ainda brinquei com a aluna, dizendo que embora eu tivesse lido pouco, havia gostado de cem por cento do que lera.

O livro é muito divertido. É uma leitura leve, fácil e saborosa tal qual... melancia (desconsidere o trocadilho infame). Despojado e bem-humorado, conta a história de Claire, abandonada pelo marido, que vinha tendo um caso com uma vizinha de apartamento.

Bom, mas o que há de divertido numa história de abandono?... Nada. Só que Claire vai narrando seu infortúnio de modo que, paradoxalmente, embora estejamos lendo uma história de muita, muita dor sentida por uma mulher, a gente não deixa de rir.

Ademais, a mão solta (para me valer de uma feliz expressão de Manoel Almeida, advogado e chargista) de Claire, com seu senso de humor, impede que tudo caia num dramalhão piegas, grudento e açucarado demais. Mas, ao mesmo tempo, esse senso de humor, repetido e repetido, quase nos faz esquecer de que há um coração dilacerado. Quase.

O livro é considerado uma comédia. Acho difícil classificar dramas com pitada de humor de comédia. É como o filme “Separados pelo casamento”, que dizem ser comédia. Considero-o drama com doses de humor. No livro de Keyes, a piada vem em maior profusão, mas acho estranho chamá-lo de comédia.

Mas deixem de lado essas teorizações e divirtam-se com “Melancia”. Relevem o excesso de piadas (ou de drama, dependendo de como se veja) e se deixem levar pela cativante Claire, com suas dores, seu saboroso universo feminino, sua família tresloucada e sua imensa capacidade de autoironia.

FOTOPOEMA 265