domingo, 23 de setembro de 2012

SOBRE A FOTOGRAFIA

Em meus cursos de fotografia, sempre digo a meus alunos que o ato de fotografar começa antes que se aperte o obturador – começa com o treino do olhar.

Para a fotografia, não bastar ver; é preciso olhar. A título de exercício, peço aos alunos que façam o seguinte dever de casa: fotografar algo que não lhes pareça convidativo para o olhar, algo que lhes pareça feio ou algo em que ainda não haviam reparado.

Peço a eles que prestem atenção em suas casas, em seus quintais, em suas cozinhas... Há um mundo de possibilidades diante da gente pedindo para ser transformado em fotografias. Isso não implica abrir mão de temas considerados clássicos, como paisagens, cachoeiras, pessoas lindas...

Tento incutir a ideia de que não há um tema mais nobre do que outro. O que há são preferências, inclinações, referências pessoais e estéticas. Dominar a técnica fotográfica é fundamental, mas não resolve tudo. Há muito de sensibilidade, de espírito aberto, de paixão.

O Manoel de Barros escreveu que “besouro na merda se sente no palácio”. É por aí. À medida que o senso do olhar vai se aguçando, à medida que a pessoa começa a reparar a seu redor e começa a fotografar, as temáticas preferidas vão se insinuando, vão se aproximando num flerte sutil e gostoso.

Além do mais, a convivência com a fotografia e o treino do olhar não impedem o ecletismo. Nada impede que haja temáticas, em vez de uma única temática eleita. Não impede que o fotógrafo se sinta à vontade para fotografar assuntos díspares como produtos comercias e natureza, por exemplo.

O que vale é que a foto seja feita do melhor modo possível. Que a técnica seja dominada, a ponto de se tornar algo natural e espontâneo – mas que não sejamos escravos dela. Que o olhar se enriqueça a ponto de perceber que o mundo está aí, diante de nós, doido para ser fotografado. A fotografia tem o poder de nos mostrar que qualquer canto do mundo pode ser bonito.

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