Muito se fala sobre o papel da escola, sobre o que ela deve fazer, o que não deve fazer, a quem deve prestar contas... Quem muito fala sobre a função da escola geralmente prefere deixar de lado a importante noção de que a escola tem limites e de que nem tudo é obrigação dela. Querem exigir cada vez mais do ensino, no mais das vezes não dando a ele aquilo de que ele necessita para realizar o trabalho que a ele compete, sem levar em conta que não é obrigação dele preparar para tudo nem ser responsável pelo que o cidadão vai fazer depois de não mais frequentar uma escola — ou pelo que ele vai fazer quando o horário de aula termina e ele toma as ruas.
Quando alguém incorre em erro de português, é lugar-comum culparem as escolas por a pessoa não escrever corretamente segundo a gramática; se alguém não sabe fazer uma simples regra de três, a culpa é da escola. Já afirmei anteriormente haver professores que se jactaram de nunca terem lido um livro depois de terminarem a faculdade: a escola tem imperfeições porque é feita por imperfeitos. Mesmo assim, não é justo culpá-la pelas mazelas intelectuais do país.
Sou testemunha de que a escola tem ensinado. Se o ensino não é eficaz enquanto a pessoa ainda está em sala de aula, os menos responsáveis por essa ineficácia são os professores. Não bastasse, boa parte das pessoas, depois de terminarem o período em que tiveram de ficar em salas de aula, entregam-se a uma preocupante indolência intelectual. Na expressão mais visível dessa apatia mental, qualquer texto que tenha cinco linhas é textão, qualquer frase que comece a exigir um pouco de concentração é abandonada. Há muitos não interessados em alguma atividade intelectual.
Não há como a escola reger em totalidade nem as vidas dos que ainda frequentam salas de aulas; exigir dela que o cidadão adulto domine um conhecimento de que ele pode nem ter feito questão enquanto estava em sala de aula e de que não faz questão agora que não tem de se sentar e assistir a alguém lecionando é exigir desonestamente da escola. Eu citaria miríadas de professores que ensinaram e ensinam a diferença entre “mas” e “mais” ou que ensinaram a calcular porcentagens ou que ensinaram como se dá a fotossíntese. Contudo, se o cidadão que não mais frequenta um ambiente escolar está mais preocupado em postar fotos exibindo armas de fogo, não há nada que a escola possa fazer. Por ele, o que ela podia fazer, ela já fez.
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