Recentemente, perdi parte de meus livros, por eles terem mofado. Quando me dei conta de que o mofo danificara parte do acervo, retirei todas as obras da estante e comecei a escarafunchar livro por livro, separando os que teriam de ser jogados fora.
Desde então, tenho adiado o retorno deles para a estante. Uma infiltração na parede causou o mofo. O problema da infiltração já foi resolvido. Anteontem, deixei de lado a preguiça e comecei a voltar os livros para os lugares em que estavam.
O lado bom é que estou lidando com obras com as quais eu não tinha contato há um tempão. Revirar papéis antigos é um modo de visitar nosso passado. Os livros ou os papéis são também nossas circunstâncias. Assim, o retorno dos livros para a estante tem sido moroso nem tanto pelo tamanho do acervo, mas pelas lembranças que vão trazendo.
A despeito da perda de dezenas de livros, o contratempo teve algo de bom: há tempos eu dava como perdido o livro “The encyclopedia of things that never were” [A enciclopédia das coisas que nunca existiram], de Michael Page e Robert Ingpen. Para ser honesto, havia uma ambivalência em mim, pois, se por um lado eu dava como certo o sumiço da obra, por outro, a esperança de tê-la outra vez em mãos nunca me deixou.
Eu já poderia ter encomendado outro exemplar, mas ficava adiando. E não é que me reencontrei com o livro? Ele não foi nem um pouquinho afetado pelo mofo. Voltando, um por um, os livros para a estante, tive a felicidade de voltar a ter em mãos um dos mais inspirados trabalhos a que já tive acesso. Minha imaginação pega fogo, enche-se de entusiasmo quando o leio. O ludismo que tem faz bem para o espírito, levando-nos a criaturas, lugares e pessoas que existem graças a um dos maiores bens que temos — a imaginação.
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