“Paixão obsessiva” é um filme sinistramente suave. Sim, o título que deram em português não ajuda. O título original é sarcástico — “The good doctor”. Martin Blake (Orlando Bloom), o doutor a que o título em inglês faz menção, tem domínio do ofício. Todavia, tal domínio não implica equilíbrio psicológico.
É um filme suavemente sinistro. A cadência é lenta, quase monótona. O tom monocórdio, curiosamente, evidencia a perversidade e o caráter doentio de Blake. Que coisa... Não é um filme de terror, mas é um filme assustador. Blake desenvolve fixação por Diane Nixon (Riley Keough), que é paciente dele. Para que ela não receba alta, ele a mantém “medicada”.
O filme é de 2011. Tem a direção de Lance Daly. O roteiro ficou por conta de John Enbom. “Paixão obsessiva” evidencia de modo brilhante a velha ideia de que é preciso separar o homem de sua obra. Blake domina a técnica, sabe o que faz. Sua competência, entretanto, é inversamente proporcional à sua ética.
Blake é o grande doente. Ele irrita porque, tendo inventado para si um personagem, engana, manipula, trapaceia, burla, convence. Ele é um monstro competente. No fim das contas, não precisamos ficar em dúvida se ele é médico ou se é monstro. Blake é talentoso, mas não é médico. Ele é outra coisa. É uma imitação do que é um médico. Eficaz no arremedo, mas arremedo.
O filme é assustador sem querer assustar. A perversidade não vem embrulhada em clichês. A quase ausência de artifícios destaca a personalidade doentia de Blake e joga holofotes sobre o estupendo trabalho realizado por Orlando Bloom. A película é um retrato horrendo do que um bom “médico” é capaz de fazer, do que uma “boa” pessoa pode realizar.
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