domingo, 31 de janeiro de 2010

QUEM ÉS

Eu te amo porque
és quem tu és.
Houvesse a mais
um encanto ou
um defeito,
não serias quem és.

Serias diferente,
mas quem amo é
igualzinha a ti.
Amo aquela que és.

Nem menos.
Nem mais.
Nem mais ninguém.

sábado, 30 de janeiro de 2010

CAIU NA REDE (18)

Pessoas, a edição 18 do Caiu na Rede está no ar. Para baixar o programa, gentileza clicar aqui.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

SUJEITO A GUINCHO BLUES BAND

Ontem, conferi show com a Sujeito a Guincho Blues Band, formada por Júnior Martins (voz, guitarra), Moisés Martins (voz, guitarra) Wendell (baixo) e Cleanto (bateria). A banda não se apresentava desde 2006; foi um prazer revê-los num mesmo palco.

Paralelamente, todos estão sempre envolvidos com a música. A rigor, a Sujeito a Guincho é o projeto paralelo deles: Júnior é um dos integrantes da dupla sertaneja Os Lascadões; Moisés, além de tocar com duplas sertanejas, é integrante da Black Dog, banda de rock; Wendell e Cleanto também tocam com duplas sertanejas e também são integrantes da Black Dog.

No show de ontem, além dos clássicos do blues, pérolas nacionais, como “Sempre brilhará”, do Celso Blues Boy, foram executadas. Os dois ambientes da casa (havia um DJ se apresentando) estavam lotados.

Que a Sujeito a Guincho não demore mais tanto tempo para voltar aos palcos. São garantia de diversão e de qualidade musical. Depois da apresentação, enquanto um show do Led Zeppelin era exibido na TV, ficamos trocando figurinhas sobre o mundo da música. O pessoal da Sujeito a Guincho não somente tem competência – gosta de tocar, gosta de falar de música e é legal.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

MEU LUGAR

Aonde queres
que eu vá?

Ao altar?
Ao motel?
À tua casa?
Ao circo?
A Joinville?
Catar coquinho?

Basta que digas
 e irei – contigo.
Se estou
onde estás,
bem estou.
Se contigo
me quiseres,
bem estarei.
És o lugar
de minha vida.

SOBRE AVES, PÁSSAROS E DEVANEIOS

O bacana de um devaneio é que a gente não sabe bem como começa nem como vai acabar. Em meio a um, pensava eu na diferença entre ave e pássaro.

Numa explicaçãozinha: todo pássaro é ave, mas nem toda ave é pássaro. Pássaros são criaturas que pertencem à ordem dos passeriformes; é tudo aquilo que tem forma de... passarinho.

Simples: é tudo aquilo que lembra, na forma, um pardal ou um bem-te-vi, por exemplo. Um canário é um pássaro; já um gavião, não. Um gavião é ave falconiforme.

Devaneio vai, devaneio vem, eu me lembrei de um antigo desenho animado que se chama Homem-Pássaro. Lembro-me com nitidez da bela e poderosa voz de Márcio Seixas, o dublador, entoando: “Hoooooooomem-Pássarooo”.

Contudo, a forma do herói não me parece a de um pássaro, mas, sim, de uma ave. Só que pássaro é uma palavra que funciona melhor do que ave. Imagine só o Márcio Seixas durante o mantra: “Hoooooooomem-Aveee”. Convenhamos: perderia o impacto, a força.

Talvez, Homem-Falcão, já que ele lembra um falconiforme. Mas Vingador, o companheiro dele, já lembra um falcão ou algo que o valha – no episódio abaixo, é identificado como águia.

Homem-Gavião?... Mas gavião era gíria usada para se referir aos mulherengos. Homem-Abutre?... Além de ele não se parecer com um, o Homem-Aranha já tem o Abutre como inimigo.

Homem-Coruja... Homem-Tucano... Homem-Cormorão... Homem-Pombo... Homem-Anu-Branco... Homem-Bico-de-Pimenta...

Lidando com nomes mais específicos, não consegui um em nossa fauna que me soasse legal. Falta de hábito, talvez.


quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

BATALHA

LETRA DE MÚSICA (21)

Eu te amo com tudo o que sou.
É imperioso e inevitável
que eu diga que te amo
com tudo de que sou feito.

Eu te amo com minha voz
e com meus sonhos.
Eu te amo com meu silêncio
e na multidão.
Eu te amo em meu quarto
e na música.
Eu te amo em sexo
e em pensamento.
Eu te amo no alívio.
Eu te amo na insônia.
Eu te amo perdidamente.
Eu te amo em paz.
Eu te amo no calor e na tristeza.

Minha pele te ama,
meu coração te ama,
minhas sobrancelhas te amam.
Sou feito do amor
que tenho por ti.

Em meu amor pelo que és,
eu me amo.
Em me amando,
eu te amo mais.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

"SIDEWAYS"


Com muito atraso (o que é comum), assisti a “Sideways – entre umas e outras” (Sideways, EUA, 2004), do diretor Alexander Payne. Payne é também o responsável pelo roteiro, que por sua vez é baseado em romance de Rex Pickett.

Algumas pessoas que gostam de vinho já haviam me indicado esse filme. Fiquei enrolando e somente anteontem é que conferi. Não me arrependi.

Miles (Paul Giamatti) e Jack (Thomas Haden Church) são grandes amigos. Jack está a uma semana do casamento. Os dois saem em viagem pela Califórnia, percorrendo as regiões produtoras de vinho.

Miles é professor colegial deprimido pelo fim do casamento; Jack é um ator de TV relativamente conhecido. Miles está interessado em vinhos e em golfe; Jack quer transar o mais que puder na semana que falta para o casamento.

Na viagem, os dois se encontram com Maya (Virginia Madsen) e Stephanie (Sandra Oh). Jack logo se entende com Stephanie. Miles, em contrapartida, está indeciso e reticente quanto a Maya – ele não consegue mesmo esquecer a ex-esposa. Há ainda a expectativa dele em ter seu livro aceito por uma editora.

“Sideways” tem aquele astral de filme despretensioso que acaba dizendo muito em sua “simplicidade”. Vale pelo que mostra do mundo dos vinhos e pela riqueza dos personagens – mesmo Jack, o garotão imaturo, acaba sendo um ótimo contraponto ao casmurro Miles.

Senso de humor na medida certa; drama na medida certa. E algumas taças de vinho – que podem passar da medida “certa”; esse é “Sideways”. Se você gosta de vinho, compre algumas garrafas e chame seus amigos. Ou chame namorado, namorada, marido, esposa ou vizinho. Ponham o filme para rodar. Celebrem.

Um brinde.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

É TEMPO

Passei muito tempo
me despedindo.
Meus adeuses
eram medo.
Renovados
e em paz,
o corpo anseia,
a alma deseja,
a boca pede:
“Fica”.

domingo, 24 de janeiro de 2010

A HISTÓRIA POR TRÁS DA FOTO (63)



A postagem de hoje é literalmente caseira – a senhora acima é minha mãe; a foto foi tirada aqui em casa.

Ela não gosta de tirar fotos, mas de vez em quando a convenço.

A foto foi tirada ontem. Ainda no visor da câmera, já gostei da imagem. Quando a mostrei para minha mãe, ela também gostou.

Ela iria a um evento social. Momentos antes de eu tirar a foto, ela veio até mim e me perguntou se estava bonita, fazendo com que eu olhasse dos pés à cabeça.

Eu disse, em tom de brincadeira, que ela deveria perguntar isso para o Antônio, meu padrasto, que ainda não havia chegado. Ela achou graça, mas ainda assim quis saber de mim se estava bonita.
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FICHA TÉCNICA

Câmera: Canon EOS 40D
Lente: Canon EF 28-135mm f/3.5-5.6 IS USM
Comprimento focal: 135mm
Exposição: manual
F/5.6
1/125
ISO: 1000
Flash: não
Hora: 17h08

sábado, 23 de janeiro de 2010

CAIU NA REDE (17)

Pessoas, está no ar mais uma edição do Caiu na Rede.

Para baixar o programa, gentileza clicar aqui.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

CONDUTA

A palavra certa.
O texto da carta.
A declaração marota.

Saudade aperta.
Porta aberta.
Sentimento grita.

O mundo entorta.
A vontade aumenta.
O amor ata.

HAITI

Há pouco, conferi o vídeo abaixo pela página da CNN. As imagens são do resgate de um garoto que estava em meio aos escombros, sete dias depois da hecatombe no Haiti.

O vídeo é em inglês, mas a não-compreensão do idioma não impede  que se verifique a beleza do momento.

domingo, 17 de janeiro de 2010

BELEZA DEMAIS

Deveriam proibir beleza demais. É. É isso mesmo. É que não sei o que fazer quando há beleza demais. Tenho vontade de uivar, mesmo quando não é Lua cheia. Quando é, quase uivo; basta que haja beleza demais. Se não uivo, é por falta de coragem.

Não é preciso viajar para que a beleza demais seja vista. Não é preciso ser rico, não é preciso ser pobre, não é preciso ficar plantado num só lugar, não é preciso cultura. Não precisa ser gênio – mas não se deve ser tolo.

A beleza demais está longe, bem longe, mas também está aqui, bem aqui. Se você esticar o braço, vai desalcançá-la. A beleza demais está num ser humano, num marsupial, naquele breve instante que você dançou e naquele réptil que vi mais cedo.

Mas, reparo, beleza demais dói. Sou fraco. Quanta beleza você é capaz de suportar? Beleza demais aperta o coração, ao mesmo tempo em que o agiganta. Beleza demais corta, fere; ao mesmo tempo, edifica, engrandece.

A beleza demais está além do homem, embora, reparo, possa ser por ele produzida. Então a beleza demais pode ser coisa do homem, pode estar fora do homem e dentro dele. Esta é a questão: a beleza demais está em todo lugar.

Ah, este meu coração fraco que parece não estar sendo capaz de suportar tanta beleza. Nem sei mais o que fazer. Devo ir para a África? Mudar-me para Goiás? Conhecer o Japão? Curtir mais meu quarto? Escutar mais música? Ler mais? Mas isso vai é causar mais beleza...

Bah. Bobagem. Bobagem querer que proíbam beleza demais. É que a beleza demais existe apesar de mim, apesar de você e apesar daquele sem educação que ofendeu a irmã de seu amigo na fila do banco.

É que agora, somente agora, enquanto escrevo este texto, é que me dei conta de que beleza demais é para os fortes de coração, e que meu coração é fraco para essa quantidade esmagadora de beleza que existe no micro e no macro.

A beleza demais não sabe que existo. Eu é que, numa esquina escura e desabitada fui informado de que a beleza demais está à espreita e aberta para os fortes de coração. Eu é que soube num momento fatal que existe neste mundo beleza demais.

Sim, existe neste mundo beleza demais. Da eloquente feiúra, não falarei por enquanto. O que me contagia agora é a beleza demais. Há beleza demais neste mundo. Prometem-me beleza demais em mundos alheios, em mundos outros, em mundos além.

Não conheço nenhuma dessas belezas. Se conheci, delas já me esqueci. A beleza do beijo do namorado no rosto da namorada enquanto ele fazia café, a beleza daquele solo de guitarra, a beleza daquela alma-de-gato em sua discreta existência...

Do que me lembro, é da beleza do aqui, do agora. Há beleza demais alhures, em outro nível? Casa haja, estarei pronto para ela? Mas não estou nem pronto para a beleza daqui... A beleza que eu sinto é limitada; é a beleza que tenho sido capaz de sentir.

Não, não proíbam beleza demais. Problema meu se não sei o que fazer dela. Ou aprendo ou me consumo, por ter sido incapaz de suportá-la. Existe gente forte no mundo. Gente que engendra beleza demais, que é capaz de sentir beleza demais. Se não sou, melhor uivar.

sábado, 16 de janeiro de 2010

CAIU NA REDE (16)

Pessoas, no ar, a décima sexta edição do Caiu na Rede.

Caso queiram baixar o programa, gentileza clicar aqui.

BOCA

O amor tem a cor
de teus lábios.
Quando quero amar,
procuro as peripécias
de tua boca.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

EPITELIAL

Consultei cada poro de mim.
Todos te anunciam.
Todos te chamam.
Não houve um sequer
que não te respirasse.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

PIMENTA COM CEVADA & FOTOGRAFIA

Pessoas, o bar Pimenta com Cevada, que fica na Major Gote 781, está veiculando um DVD com fotos de minha autoria.

A toda a equipe do bar, meu obrigado.

FOTOPOEMA 145

sábado, 9 de janeiro de 2010

"UM BEIJO ROUBADO"


Na noite passada, liguei a TV. Um filme estava prestes a começar. O título não me chamou a atenção: “Um beijo roubado” (My blueberry nights, França, 2007). Embora seja produção francesa, o filme, dirigido por Wong Kar Wai, é falado em inglês.

Apesar de o título do filme não ter me atraído (nem no original – referência a uma torta que uma das personagens pedia num bar), conferi a sinopse: garota desiludida por amor sai pelos Estados Unidos afora. Em sua trajetória, encontra algumas “peças”: um policial que não consegue se esquecer da ex-esposa, uma viciada em jogos...

Continuou não me atraindo. Conferi então o elenco: Jude Law e Norah Jones. Pensei então: “Ei, será que essa Norah Jones é a cantora?”. E era.

Por ela, de quem sou fã como cantora, e por Jude Law, de quem sou fã como ator, decidi começar a ver o filme – e não me arrependi.

Antes de partir em suas andanças pelos Estados Unidos, Elizabeth (Norah Jones) frequenta, sempre tarde da noite, o bar de Jeremy (Jude Law). Elizabeth está inconsolável, devido a um amor que não deu certo – ela fica sabendo por intermédio do próprio Jeremy que o namorado dela estivera lá com outra.

Do nada, ela inicia então suas andanças. A fim de juntar grana para comprar um carro, descola empregos como garçonete. Num cassino, conhece Leslie (Natalie Portman), viciada em pôquer. Por intermédio da convivência entre as duas, Elizabeth acaba conseguindo comprar o carro. E a cena de despedida entre as duas é uma das mais belas que já vi por aí.

Enquanto realiza sua “turnê”, Elizabeth envia cartões postais para Jeremy, sem contudo lhe contar seu endereço ou mesmo onde trabalha. Por fim, acaba voltando a Nova York. O desfecho é bonito e não descamba para o dramalhão.

Gostei muito de como o diretor e os roteiristas (um deles é o próprio diretor; o outro é Lawrence Block) compuseram uma história de amor delicada e poética, sem incorrer em sentimentalismo bobo nem em cerebralismos chatos.

A trilha sonora é também de alto nível. Além da própria Norah Jones, que comparece com “The story”, há Otis Redding, Cat Power, Ry Cooder, Ruth Brown, Mavis Staples, Chikara Tsuzukii, Amos Lee, Hello Stranger, Gustavo Santaolalla e Cassandra Wilson.

Aliás, Cassandra Wilson está presente na trilha com uma bela, muita bela regravação de “Harvest moon”, do Neil Young – volto a falar sobre isso na próxima edição do Caiu na Rede. Pretendo executar as versões com o Neil Young e com a Cassandra Wilson.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

CAIU NA REDE!

Não há nada que possa ser feito: está no ar a décima quinta edição do Caiu na Rede.

O programa tem a participação de Rusimário Bernardes, que lê poema de seu livro “Agapantos”.

O repertório desta edição tem as seguintes canções:

Dolores O’Riordan – Apple of my eye
Legião Urbana – Eu era um lobisomem juvenil
The Beatles – Love me do
365 – São Paulo
Laid Back – Sunshine reggae
Marina Lima – Acontecimentos
Echo and the Bunnymen – Bring on the dancing horses
Cláudio Nucci – Acontecências
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Baixe o Caiu na Rede 15

AQUELES DOIS

Felipe espera.
Espera pelo dia em que a porta da sala vai se abrir.
Seu sono leve dirá que alguém chegou,
mas ele já saberá quem é.
Ele sabe.
Ele sabe que há de chegar o dia.
Há de chegar o dia em que Daniela virá.
Virá com seu andar sutil.
Não vai haver susto no sono dele nem anúncio no rádio.
Ela virá como se foi – silenciosamente.
Em silêncio, ela vai pegar a camisola e arredar a coberta.
Ele estará voltado para o canto, de costas para ela.
Ela vai se deitar voltada para ele.
A mão direita dele pousará sobre sua coxa.
Quando acordarem, já será manhã.

"O INCRÍVEL HOMEM QUE ENCOLHEU"


Certa vez, há muito tempo, numa dessas tantas vezes em que cheguei em casa de madrugada, conferi, pela TV, um filme chamado “O incrível homem que encolheu” (The incredible shrinking man – EUA, 1957). Desde então, eu sempre quis revê-lo – o que acabei de fazer há pouco.

O clássico é baseado no livro “The incredible shrinking man” (mais um livro atrás do qual correrei), de Richard Matheson, também responsável pelo roteiro do filme. A direção é de Jack Arnold.

Scott Carey (Grant Williams) e sua esposa, Louise Carey (Randy Stuart), estão em alto mar, a bordo de um iate, tomando sol. Scott pede a ela que vá buscar uma cerveja para ele. Enquanto ela está no interior da embarcação, buscando a bebida, o iate passa por uma estranha névoa.

Scott e Louise se esquecem do fato. No cotidiano, ele passa a observar que suas roupas estão ficando grandes para ele. Concluindo que ele está mesmo escolhendo, o casal busca ajuda profissional.

A princípio, os médicos dizem ser impossível estar ele se tornando menor, pois isso jamais ocorrera anteriormente. Mas a inevitável constatação vem em pouco tempo: Scott estava, de fato, encolhendo – e rápido.

Exaustivos exames são realizados. Numa das entrevistas que realizam com Scott, ele e Louise acabam se lembrando da estranha névoa, após pergunta feita por um médico. Apesar dos esforços científicos, o encolhimento é inexorável.

Logo a imprensa toma conhecimento do bizarro fato. O homem que encolhia se torna famoso. Tomara ele a decisão de escrever pensamentos, sensações, episódios, reflexões.

Vejo isso como um dos grandes méritos da produção, que não é “apenas” um filme de ficção com uma boa dose de ação. Enquanto vai encolhendo e encolhendo, Scott tece toda uma reflexão sobre quem ele é, sobre o Universo. O discurso de fechamento do filme é belíssimo (leia abaixo).

Já tendo se tornado bem pequeno, Scott é perseguido por um gato e vai parar no porão da casa. É então dado como morto pela esposa, que acha um pedaço de sua roupa manchado de sangue (o ferimento havia sido consequência do ataque do gato).

No porão, e sempre diminuindo, Scott tem de lutar por sua sobrevivência, tem de conseguir comida, tem de enfrentar um grande inimigo – uma aranha que também reside no porão, de onde ele acaba finalmente saindo e tomando o ar livre, passando por uma minúscula tela.

Reflexões sobre o macrocosmo e o microcosmo: num momento drástico, em que já era uma criatura minúscula (que continuava diminuindo e diminuindo), é que Scott descobre a verdade de sua existência. Descobrindo-a, liberta-se, dizima o medo.

Segundo o IMDB, “O incrível homem que encolheu” está sendo refilmado. Desnecessário dizer que os técnicos e o diretor farão a festa, devido aos recursos de hoje. Será uma grande aventura. Contudo, espero que não perca a dimensão filosófica da versão lançada em 1957.

Abaixo, as palavras finais do filme, em inglês e português. A tradução é minha. Curiosamente, o discurso final não são palavras de Matheson – elas não estão no livro dele nem no roteiro que ele fez. Quem as escreveu foi Jack Arnold, o diretor.

O estúdio, por querer um tradicional final feliz (em que Scott voltava a crescer), pressionava Arnold, que resistia. A fim de chegarem a um acordo, o diretor disse que proporia um final para a trama. Foi então que ele mesmo escreveu o discurso.
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I was continuing to shrink, to become... what? The Infinitesimal? What was I? Still a human being? Or was I the Man of the Future? If there were other bursts of radiation, other clouds drifting across seas and continents, would other beings follow me into this vast new world? So close... the Infinitesimal and the Infinite. But suddenly I knew that they were really the two ends of the same concept. The unbelievably small and the unbelievably vast eventually meet... like the closing of a gigantic circle. I looked up as if somehow I would grasp the heavens. The Universe, worlds beyond number, God's silver tapestry spread across the night. And in that moment I knew the answer to the riddle of the Infinite. I had thought in terms of Man's own limited dimension. I had presumed upon Nature. That existence begins and ends is Man's conception, not Nature's. And I felt my body dwindling, melting, becoming nothing. My fears melted away. And in their place came acceptance. All this vast majesty of creation, it had to mean something. And then I meant something, too. Yes, smaller than the smallest, I meant something, too. To God, there is no zero. I still exist!
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Eu continuava a me encolher, para me tornar... o quê? O Infinitesimal? O que eu era? Ainda um ser humano? Ou era eu o Homem do Futuro? Se houvesse outras explosões de radiação, outras nuvens singrando mares e continentes, outros seres me seguiriam neste vasto novo mundo? Tão próximos... o Infinitesimal e o Infinito. Mas de repente eu soube que eles eram de fato os dois polos do mesmo conceito. O inacreditavelmente pequeno e o inacreditavelmente vasto por fim se encontram... como o fechar de um círculo gigantesco. Olhei para cima como se de algum modo eu pudesse reter o paraíso. O Universo, mundos que estão além dos números, a tapeçaria prateada de Deus espalhada pela noite. E naquele momento eu soube a resposta para o enigma do Infinito. Eu havia pensado em termos da própria dimensão limitada do Homem. Eu havia pensado entender a Natureza. Que a existência começa e termina é concepção do Homem, não da Natureza. E eu senti meu corpo encolhendo, desvanecendo-se, tornando-se nada. Meus medos foram embora. E no lugar deles veio a aceitação. Toda esta vasta majestade da criação, isso tinha de significar alguma coisa. E então eu significava alguma coisa também. Sim, menor do que o menor de todos. Eu significava alguma coisa também. Para Deus, não há zero. Eu ainda existo!

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

"LIVRO DE UMA SOGRA"


Li recentemente “Livro de uma sogra” (Lacerda Editores), do romancista, dramaturgo, desenhista e diplomata Aluísio Azevedo (1857-1913), mais conhecido pelas obras “O mulato”, “O cortiço” e “Casa de pensão”.

Em sua segunda fase como escritor, Azevedo abandonara os ideais do Romantismo e abraçara as convenções do Realismo. O “Livro de uma sogra” (1895) pertence à segunda fase.

Assim que a história começa, dois amigos, Leandro e Leão, conversam sobre a sogra daquele, que diz abominá-la. Leão começa como o narrador da história; em sua narrativa, termos como “serpente” e “diabólica” são usados para se referir à sogra de Leandro.

Tempos depois, Leandro e Leão voltam a se encontrar. Este pergunta pela sogra de Leandro (“e a serpente?”). O genro responde que, infelizmente, dona Olímpia, a sogra, não mais existe.

Leão não entende a lamentação de Leandro, pois da última vez em que haviam se encontrado, dona Olímpia havia sido taxada como a mais  estranha, intransigente e enxerida das sogras.

Então Leandro, à guisa de explicação, mostra a Leão um escrito que havia sido deixado por dona Olímpia. Garantiu Leandro que após a leitura do manuscrito, Leão também passaria a ver dona Olímpia de modo totalmente diverso.

Assim, por intermédio desse truque literário, passamos a ler o livro da sogra; são as anotações de dona Olímpia. Valendo-se desse artifício, Aluísio Azevedo critica impiedosamente o casamento como instituição burguesa.

O livro ostenta as crenças científicas do século XIX, bem como traz as admoestações do antigo testamento quanto ao comportamento do homem em relação à sua esposa. Se por um lado tais crenças e admoestações podem soar anacrônicas, por outro, as ideias de dona Olímpia surpreendem – mesmo hoje.

O pensamento dela é o de que o casamento, tal como instituído pela burguesia, é uma farsa que violenta tanto o homem quanto a mulher. O manuscrito de dona Olímpia foi lido por Palmira (sua filha) e por Leandro somente após a morte da autora. Em seu libelo, Olímpia se justifica pela rabugice (principalmente para Leandro) e apresenta um modelo de casamento bem diferente do casamento burguês.

Naturalmente, o livro destrói os hábitos sociais do século XIX. Para dona Olímpia, o modelo de união (ainda) praticado pela burguesia levaria inevitavelmente ao enfado, ao cansaço e à infelicidade no casamento.

Em sua proposta, ela chega a “radicalizar”: durante a gravidez, por exemplo, o homem deveria simplesmente se afastar da esposa – mas é se afastar mesmo: ela chega a exigir do genro que ele vá para a Europa enquanto Palmira está grávida, no Rio de Janeiro.

Independentemente de se concordar ou não com as opiniões de dona Olímpia, “Livro de uma sogra” torna-se inevitavelmente um convite à reflexão sobre o casamento. Dos hábitos sexuais (Olímpia vocifera contra a falta se espontaneidade da lua de mel) à convivência em sociedade, as  várias facetas da vida de um casal são abordadas pela sogra.

Para Olímpia, o que mantém um casamento feliz é o amor sensual. Por intermédio de seu escrito, é intenção dela oferecer a Palmira um “manual” de como manter sempre aceso o desejo sexual entre marido e esposa.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

OS SIMPSONS

Geralmente, não incorporo vídeos alheios neste blogue. Mas sempre fui fã de Os Simpsons. Li há pouco uma entrevista com Matt Groening, que comentou sobre os vinte anos de trajetória da família que ele criou. Depois de ler a entrevista, assisti ao vídeo abaixo; achei um barato.

A pergunta que Marge faz a Homer é: "Por que você demorou tanto?".


terça-feira, 5 de janeiro de 2010

TRADUÇÃO DE "ONE INCH OF HEAVEN"

Hellen Dirley, a quem agradeço por frequentemente conferir este blogue, escutou a mais recente versão do Caiu na Rede, em que faço comentário sobre a canção “One inch of heaven”, do grupo The Silencers. Ela pediu então a tradução da letra. Tanto o original quanto a tradução, a qual fiz, estão abaixo.

Sempre gostei da canção. Gosto tanto, que usei o trecho “there’s a rock/ in my heart/that can’t be broken” como epígrafe de meu segundo livro, Leve poesia, lançado em 2003.

Vejo a letra como relatando um sentimento que não tem pressa; sentimento de quem já perdeu o ímpeto juvenil, mas que justamente por isso é maduro, convincente. Não há o desajeito da juventude, mas a constatação de algo novo que merece ser vivenciado – não com ingenuidade, mas com sereno entusiasmo.

O próprio arranjo da canção está em sintonia com essa atmosfera terna e madura que vejo. Não há pressa para começar (a introdução é longa), não há pressa para acabar (os mais de sete minutos da música não estão em sintonia com o formato pop das FMs).

A canção fez algum sucesso. Foi trilha sonora de uma novela da Globo, chamada “Vamp”. Eu gostava de tocar “One inch of heaven” no tempo em que trabalhei em rádio. No LP da novela, cortaram metade da canção. Eu pensava que o original tinha os tais três minutos e meio ou quatro das tradicionais canções radiofônicas. Quando escutei a versão integral, o prazer foi, literalmente, maior.

O original da canção é do CD “A night of electric silence”, de 2001. Desse trabalho, a faixa “The real McCoy, parece-me, foi a mais executada.
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The Silencers – One Inch of Heaven (J.O’Neill/Burns)

I was in love with the
Thought of perfection
Yes my world was just a
Skyscraper of dreams
Then I was crushed
To the floor
By a feeling
So strong
So strange
I had to scream
There’s a rock
In my heart
That can’t be broken
Now there’s
One inch of heaven
That is open for me
As I walk down a vacant street
With rain in my eyes
Call across the coal dark water
Waiting to see
Waiting to see
The sunrise

I was the King
Of the cynical line
Nothing was too dark
Or too cruel
Now I believe that there’s
Something worth trying for
Lover since you’ve chosen
This poor fool
There’s a rock in my heart
That can’t be broken
Now there’s one inch of heaven
That is open for me
As I walk down Jamaica Street
With rain in my eyes
Call across the coal dark water
Waiting to see
Waiting to see
The sunrise

Funny how you wake up
And start to see
Something in your eyes
Made a new man of me
Where would I be
Where would I be
There’s a rock in my heart
That can’t be broken
Now there’s one inch of heaven
That is open for me
As I walk down Jamaica Street
With rain in my eyes
Call across the coal dark water
Waiting to see
Waiting to see
The sunrise

Oh you know
There’s just no way of knowing
I’m walking down the street
And I just don’t know
Where I’m going
Out to the river
River flowing to the sea
Big black river
Rolling on out to the sea
Coal dark river
Washing away
Mirror
Mystery river
There’s no reason for me
To go home
There’s no reason for me
To go home
Go home

There’s a rock in my heart
That can’t be broken
Now there’s one inch of heaven
That is open for me

_____

The Silencers – Um pedacinho do paraíso (J.O’Neill/Burns)

Eu estava apaixonado pela
Ideia da perfeição
Sim, meu mundo era simplesmente um
Arranha-céu de sonhos
Então fui esmagado
No chão
Por um sentimento
Tão forte
Tão estranho
Que tive de gritar
Há uma rocha
Em meu coração
Que não pode ser quebrada
Agora, há
Um pedacinho do paraíso
Que está aberto pra mim
Enquanto desço uma rua deserta
Com chuva em meus olhos
Chamo através da água bem escura
Esperando pra ver
Esperando pra ver
O nascer do Sol

Eu era o rei
Da atitude cínica
Nada era negro demais
Ou cruel demais
Agora, acredito que há
Algo que vale a pena tentar
Amante desde que você escolheu
Este pobre tolo
Há uma rocha em meu coração
Que não pode ser quebrada
Agora, há um pedacinho do paraíso
Que está aberto pra mim
Enquanto desço a Rua Jamaica
Com chuva em meus olhos
Chamo através da água bem escura
Esperando pra ver
Esperando pra ver
O nascer do Sol

Engraçado como você acorda
E começa a ver
Algo em seus olhos
Fez um novo homem de mim
Onde eu estaria?
Onde eu estaria?
Há uma rocha em meu coração
Que não pode ser quebrada
Agora há um pedacinho do paraíso
Que está aberto pra mim
Enquanto desço a Rua Jamaica
Com chuva em meus olhos
Chamo através da água escura
Esperando pra ver
Esperando pra ver
O nascer do Sol

Você sabe
Simplesmente não há como saber
Estou descendo a rua
E simplesmente não sei
Pra onde estou indo
Rio afora
Rio correndo pro mar
Grande rio negro
Correndo pro mar
Rio bem escuro
Levando embora
Espelho
Rio mistério
Não há razão pra que eu
Vá pra casa
Não há razão pra que eu
Vá pra casa
Vá pra casa

Há uma rocha em meu coração
Que não pode ser quebrada
Agora, há um pedacinho do paraíso
Que está aberto pra mim

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

LINQUES

Manoel Almeida e Gabriela Maria haviam me pedido para continuar a inserir os linques que possibilitam baixar o Caiu na Rede. Estão abaixo.

NOVA EDIÇÃO DO CAIU NA REDE NO AR

Pessoas, está no ar mais uma edição do Caiu na Rede. Espero que gostem.

(Caros Manoel e Gabriela, hoje à tarde, vou inserir aqui os linques para as edições atual e anterior do programa.)

FOTOPOEMA 144

domingo, 3 de janeiro de 2010

ACORDEMOS

A tarde quente,
a tristeza queimante,
a despedida cabal:
a morte não sabe
que é primeiro de janeiro.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

"CAUGHT"

Um dia desses, graças a meu amigo Rusimário Bernardes (para acessar a página de seu livro “Agapantos”, gentileza clicar aqui), que descolou o filme para mim, assisti novamente a “Caught” (curiosamente, se bem entendi, o filme tem dois nomes no Brasil – “Desejo” e “Aprisionados”). A direção é de Robert M. Young; foi lançado em 1996.

Em sua rotina, Joe (Edward James Olmos) acorda em torno de 4h e vai trabalhar. Ele é dono de uma peixaria. Depois de madrugar para comprar os peixes, vai para o local de trabalho, onde é ajudado por Betty (a bela e sensualíssima Maria Conchita Alonso), sua esposa, que chega ao trabalho quando Joe já deu início à organização da peixaria para mais um dia.

Betty está cansada dessa rotina. Não gosta de lidar com peixes, está entediada e quer que o marido venda o imóvel da peixaria, assim como outros comerciantes da área estavam fazendo – empresários em Nova York, onde se passa a história, estão pagando muito dinheiro pelos imóveis da disputada região. Joe, contudo, recusa-se à venda.

Essa rotina é quebrada quando o jovem Nick (Arie Verveen), fugindo da polícia depois de um contratempo com outro andarilho, entra de repente na peixaria e pede ajuda ao casal, dizendo estar faminto. Joe recusa ajuda, mas acaba cedendo aos pedidos da mulher, que não somente faz com que o marido contrate Nick, mas também convence Joe a levar o jovem para a moradia do casal, onde ele passa a ocupar o quarto que é de Danny (Steven Schub), filho de Joe e Betty. Danny está em Los Angeles tentando a carreira de comediante na TV.

O triângulo amoroso toma lugar. À medida que Joe vai ensinando a Nick os truques do trabalho e passa a ver no jovem um amigo que injetara quebra de monotonia na vida dele e de Betty, ela e Nick vão se entregando a um tórrido romance. A situação se complica quando um fracassado (e patético) Danny volta para casa, levando consigo a namorada (Bitty Schram) e o bebê do casal.

O filme é maduro e muito bem conduzido. Um dos pontos altos são as cenas de amor extremamente sensuais entre Nick e Betty. E sem falsos moralismos, “Caught” aborda temas como o amor de uma mulher por um homem mais jovem, o adultério e a rotina de um casamento cheio de cansaço; há sonhos estilhaçados, fracassos revelados – o sonho americano tem seu lado feio. O roteiro percorre vielas difíceis, mas se sai vitorioso quando o destino dos personagens se define.

As cenas de abertura e encerramento, em que peixes são usados como metáfora – alguns se safam da rede e outros são agarrados (caught) – me remetem a uma frase do Einstein de que gosto demais: “O que sabe o peixe sobre a água em que nada a vida inteira?”.

O filme é baseado no romance (já estou correndo atrás para adquirir) “Into it”, de Edward Pomerantz, que é também o roteirista.