segunda-feira, 31 de outubro de 2016
Poema do livro Amor de palavra
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domingo, 30 de outubro de 2016
Tito, o Incansável
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sábado, 29 de outubro de 2016
O vendedor lógico
A mercearia ficava a duas quadras aqui de onde moro. A rigor, não era somente uma mercearia, pois o comerciante vendia material escolar. Talvez fosse na verdade uma pequena livraria fazendo as vezes de uma mercearia. Lembro-me de ter ido lá apenas uma vez.
Assim que entrei, foi inevitável: tive medo da cara do dono; ele era a única pessoa que estava como atendente no local. Ele morava aqui perto. Eu sabia que ele era o proprietário do pequeno estabelecimento. Todo empertigado, vestindo camisa de mangas compridas, calças de tecido fino e exibindo um penteado impecável, olhou-me como se estivesse me pedindo para sumir de lá. Eu devia ter uns sete ou oito anos. O proprietário deve ter percebido minha cara de assustado. Num tom ríspido, grave, perguntou:
— Cê quer o quê?
A única coisa que me ocorreu dizer:
— Tem caderno?
— Como assim? Você está me perguntando se tem caderno?
— Estou.
— Essa pergunta não faz o menor sentido.
A fala dele, ao mesmo tempo em que me fez sentir que minha existência não fazia sentido, deixou-me com vontade de dizer que ele estava sendo muito sem educação. Eu só estava lá para comprar um caderno. Eu não precisava ser tratado daquele jeito. Falei:
— Não estou entendendo.
— Ora, você chega aqui e me pergunta se tem caderno. O que mais tem aqui é caderno. Você por acaso chega numa farmácia e pergunta se lá tem remédio?
Fiquei num silêncio tolo. Ele continuou:
— Vamos, me responda! Você chega numa farmácia e pergunta se lá tem remédio?!...
Continuei tolo e silencioso. O dono do lugar voltou a falar:
— É claro que você não chega numa farmácia e pergunta se lá tem remédio. Você chega lá e pede um remédio. Por isso, você não deveria chegar aqui e perguntar se aqui tem caderno. Está na cara que aqui tem caderno. Em vez de chegar aqui e fazer essa pergunta imbecil, você deveria chegar aqui e perguntar: “Tem caderno pequeno de capa mole, cinquenta folhas?”. Ou então: “Tem caderno grande, capa dura, duzentas folhas?”. Se você chega aqui e me pergunta se tem caderno, não posso fazer nada. Olha — disse ele, enquanto fazia um gesto que abarcava todo o ambiente —, tem muito caderno aqui. Que tipo de caderno você quer? Pequeno? Grande? De capa dura? De capa mole? Caderno para desenho ou para escrita?... Aprendeu como se pede?
Eu estava estático. Com os olhos arregalados, num mutismo imóvel, eu procurava um jeito de resolver a situação. O comerciante continuava com os olhos furiosos cravados em mim. Passou pela minha cabeça xingá-lo, mas não tive coragem. Peremptório, tomei a decisão de sair correndo de lá.
_____
Por muito tempo, fui cronista na imprensa local. Escrevi para os jornais Correio de Patos, Folha Patense, O Tablóide (quando o jornal existiu, o ditongo do nome dele ainda era acentuado) e Novo Tempo. Escrevi ainda para as revistas Diga e Phatos. Depois, mantive uma coluna no Patos Hoje e no Correio de Uberlândia. Hoje, não mais escrevo esse tipo de texto.
Há tempos, venho adiando a publicação de um livro de crônicas. Ele seria uma coletânea das que escrevi. Já descartei os textos que não fariam parte da reunião. Depois que fiz a seleção dos textos, meio que desisti da ideia de publicar o volume. É que, num certo sentido, eu me senti envergonhado por ter escrito os textos.
Há neles a leveza que eu buscava; não considero que errei no tom. Contudo, os textos me pareceram ingênuos. Há um tempão não os releio, embora, ultimamente, tenha me ocorrido a vontade de ler outra vez as crônicas. Caso haja a releitura, se eu continuar as achando ingênuas, desisto de vez da publicação. Se não, pode ser que haja ainda um volume reunindo minhas crônicas. A desta postagem foi escrita por eu ter me lembrado um dia desses do episódio nela relatado.
Um amor
A estudante Thamara Oliveira faz o primeiro ano do curso de eletrotécnica integrado ao ensino médio. Há alguns dias, em conversa casual, combinamos de eu entregar a ela uma letra, para que ela fosse musicada.
A rigor, entreguei um poema (quando escrevi o texto, não pensei nele como letra de música). Quando a Thamara o leu, ela disse que tentaria musicá-lo. Ontem, ela me enviou o resultado, em gravação caseira.
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Visita ao Colégio Fonseca Rodrigues
Na quinta-feira (27/10), tive o prazer de voltar ao Colégio Fonseca Rodrigues, escola em que trabalhei durante catorze anos. Na ocasião, bati um papo com estudantes do terceiro ano sobre meus livros, sobre literatura como um todo, sobre política, sobre o papel da mídia e sobre o ato da leitura e da escrita. Não bastasse isso (o que já é muito), tive a oportunidade de rever amigos.
Obrigado demais à Dulcimar pelo convite. Também agradeço demais aos professores Agostine, Eunice e Ana Maria, que estiveram presentes no bate-papo. Também agradeço à Terezinha, a dona da escola, que sempre tão bem me recebe.
Gostei demais de estar lá. Foi uma conversa honesta, agradável e gentil. Gostei das perguntas que me foram feitas, e não somente das que diziam respeito à literatura. Numa época de PECs desumanas e num tempo em que querem banir o debate das escolas, é um alento estar diante de estudantes para discutir ideias.
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O olhar de quem ama
Sou professor do IFTM (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia), campus Patos de Minas. Na quarta-feira (26/10), tive o privilégio de escutar as estudantes Geovana e Luana lendo trechos do prólogo do Dom Quixote. Leram no original. Um dos trechos que citaram está a seguir, segundo tradução de Viscondes de Castilho e Azevedo: “Acontece muitas vezes ter um pai um filho feio e extremamente desengraçado, mas o amor paternal lhe põe uma venda nos olhos para que não veja as próprias deficiências; antes as julga como discrições e lindezas, e está sempre a contá-las aos seus amigos, como agudezas e donaires”.
O texto de Cervantes alega que o amor do pai pelo filho põe nos olhos daquele uma venda que o impediria de enxergar os defeitos deste. O amor do pai tornaria esse mesmo pai “cego” para os defeitos que o filho por ventura tivesse. No prólogo do Dom Quixote a relação pai e filho é usada para se referir ao escritor e o livro criado por ele; o autor seria o pai do livro, embora Cervantes afirme ser não o pai, mas o padrasto de Dom Quixote.
A temática do olhar do amante sobre o objeto amado me é instigante demais. Tomo a liberdade de estender o amor tal qual está na analogia do prólogo de Cervantes, mencionando, assim, não o amor paternal, mas o amor carnal, o amor não ligado a parentesco, o amor de pessoas que se desejam sem ter entre si elos de família.
Esse amor, o carnal, faz com que o amante tenha uma venda nos olhos ao contemplar o ser amado ou faz com que o amante enxergue o ser amado em essência, muitas vezes enxergando nele, ser amado, coisas de que nem ele se dera conta? Nos olhos de quem ama, esse amor carnal põe venda ou clarividência? Aquele que ama embeleza o objeto amado. Mas embeleza por estar cego ou por ter sobre quem é amado um olhar que tem maior acuidade?
Amor maduro enxerga os defeitos do outro. Ao mesmo tempo, se maduro, sem exagerar as qualidades, embeleza quem é amado. Aquele que ama embeleza o objeto amado. É por isso que devemos amar: não só a fim de sermos em troca amados, mas para que tenhamos o poder de embelezar o outro. Quem embeleza o outro fica mais bonito.
O terrível encontro
Em sentido amplo, a afinidade musical não é imprescindível para que artistas se juntem e façam música. Nesses casos, quando se tem alma de artista, a música, por si, é o elo. Sendo linguagem universal, ela faz com que o encontro flua: o repentista e o roqueiro podem conviver num mesmo palco.
Isso, é claro, não quer dizer que não haja afinidades musicais. Se, por um lado, o encontro pode se dar entre artistas que não as têm, por outro, essas mesmas afinidades podem motivar a celebração.
Caso se leve em conta os trabalhos musicais de Luiz Salgado e de Alan Delay, Ciro Nunes e Lucas de Paula (que fizeram parte da banda O Berço), a princípio, poder-se-ia dizer que Luiz Salgado tem a vertente do cancioneiro popular, ao passo que Alan Delay, Ciro Nunes e Lucas de Paula estariam numa vertente mais voltada para o rock.
Todavia, um olhar mais aproximado revelaria que há entre esses artistas afinidades instigantes. Em Luiz Salgado, existe a pesquisa da cultura popular e o diálogo com sonoridades contemporâneas — sonoridades essas que são evidenciadas em seu mais recente trabalho, “Quanto mais meus óio chora, mais o mar quebra na praia”. Já os ex-integrantes da banda O Berço, em que pese a pegada roqueira que têm, deixam claras em seus trabalhos musicais as influências da cultura popular.
Tem-se, pois, diferentes abordagens diante do fazer musical. De um lado, um cantor popular que bebe nas novas sonoridades; do outro, artistas sintonizados em tendências contemporâneas bebendo em fontes populares. Partindo de pontos diferentes, as produções deles acabam chegando a resultados com mais semelhanças do que diferenças.
Tal sintonia poderá ser conferida no Teatro Municipal Leão de Formosa, hoje e amanhã, quando Luiz Salgado, Alan Delay, Ciro Nunes e Lucas de Paula farão um show. No repertório, além de canções deles, releituras de trabalhos de outros artistas. Haverá participação de convidados.
“O Terrível Encontro” será o nome do espetáculo. Segundo Lucas de Paula, esse nome é uma homenagem a um cantador violeiro que conhecem; ainda de acordo com Lucas, sempre que o cantador chega, diz: “É um prazer terrível estar aqui”. Sei que será um prazer terrível conferir esse show.
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segunda-feira, 24 de outubro de 2016
Regra
Não há regra para a palavra que vem:
pode surgir no silêncio ou na boate.
Não há regra para a palavra que busco:
pode estar em meu quarto ou na multidão.
Sem regra, nem sempre vem quando quero;
ou pode vir quando não a estou buscando.
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Noite
A magia da noite
é negra,
pontuada
por estrelas.
Ainda que
estejam
encobertas.
Ainda que
sejam pessoas.
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Amor sem números
Se eu quisesse um amor sensato,
eu teria estudado matemática.
Não tenho a sensatez de quem
estuda a beleza dos números.
Mas tenho o fervor de quem
ama equações.
Não tendo eu o acerto
de um amor matemático,
no fim das contas,
amo com desrazão.
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quinta-feira, 20 de outubro de 2016
Necedade
Se é tempo de colher,
não é hora de plantar.
Se é hora de colher,
não é tempo de garfo.
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O bolo
Um bolo ultraneoliberal está sendo preparado. Se ele será considerado saboroso ou não, isso é relativo. No caso do pobre, ele será enfiado goela abaixo; no caso da classe média, incluindo aí a parte dela que tem a ilusão de ser rica, ele será enfiado goela abaixo. Quem vai mesmo achá-lo delicioso são os ricos.
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quarta-feira, 19 de outubro de 2016
Eduardo Cunha
Eduardo Cunha não ficará muito tempo preso; não haverá por parte dele delações escatológicas (parece-me ingenuidade supor isso). E ainda que houvesse, essas delações não respingariam em Temer. O jogo é mais complexo. Se por um lado, evidentemente, não tenho acesso aos bastidores desse jogo, por outro, não custa nada lembrar que Cunha é uma das peças dos que apoiaram a tomada do poder pelo atual presidente. Nesse interesseiro jogo de xadrez político, a cujas regras não temos acesso, a prisão (temporária) de Cunha é mais uma mexida no tabuleiro, mas não é o xeque-mate.
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terça-feira, 18 de outubro de 2016
Tempo verbal
Minhas palavras,
torno-as públicas,
o que é outro modo
de me enviar para ti.
Se teus olhos
as lerem,
isso vai ser
outro modo
de eu te tocar.
Se teu coração
as guardar,
isso vai ser
outro modo
de eu ficar.
O que é hoje
o tempo do verbo,
que seja amanhã
o tempo do corpo.
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domingo, 16 de outubro de 2016
Conto 88
De sua casa, Baltazar podia escutar as badaladas do sino da igreja marcando as horas. Em noites insones, ele gostava de contá-las. Numa noite assim, contou dez. Uma hora depois, onze. Quando veio a meia-noite, Baltazar contou as doze badaladas. Só que um segundo depois veio outra; logo após, outra e outra e outras. O sino já havia martelado onze mil, trezentas e setenta e quatro badaladas. Baltazar seguia contando. Quando o Sol nasceu, o sino continuava no ritmo. Baltazar, acordado, perdera a conta e a razão.
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sábado, 15 de outubro de 2016
Tesourinha
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Anu-branco
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sexta-feira, 14 de outubro de 2016
quinta-feira, 13 de outubro de 2016
Um amor
Sou feito de amor.
Do amor que sinto por ti.
Amor que me move,
me leva,
me traz,
me agita,
me acalma.
O que faço
é por amor.
Por amor,
o que eu não
deveria fazer.
É amor que
me faz desistir
e me causa de novo
a esperança.
Por amor,
aprendo e esqueço,
praguejo e sou terno,
sou ato e silêncio,
escrevo e apago,
escrevo e não envio.
Esse amor me torna
divino e terráqueo,
forte e humano.
Ora me transforma
em verso,
ora me deixa
em limbo.
O amor que
tenho por ti
nunca será,
mas insiste
em ser.
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Vem aí mais um livro
Pessoas, há minutos, recebi, via e-mail, o sim: vou lançar mais um livro pela Chiado, editora portuguesa. Em breve, mais detalhes...
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Mais uma sobre Bob Dylan
Desculpem-me por voltar ao Bob Dylan. A rigor, eu deveria ter escrito tudo numa só postagem. Todavia, deixei me levar pelo entusiasmo assim que li o anúncio de que ele é o Nobel de 2016. A indicação dele já vem de alguns anos (um dos intelectuais da Fundação Nobel já havia se declarado a favor de se conceder o prêmio ao compositor americano).
Pareço me esquecer de que existe algo chamado Youtube. Lendo matéria sobre o Bob Dylan publicada hoje no site da New Yorker, há um “link” para uma entrevista concedida por Dylan numa ocasião em que ele esteve em Roma. No bate-papo, de pouco mais de uma hora, o compositor, que se mostra um tanto amuado no início da entrevista, vai, ao poucos, parecendo ficar mais à vontade, chegando até a brincar com os jornalistas. Se quiser escutar, eis o “link”.
A primeira coisa que me chamou a atenção assim que comecei a conferir a entrevista é o quanto a voz de Bob Dylan é grave quando ele não está cantando, mas falando. Como cantor, seu timbre fanhoso e médio é conhecido. Quando ele conversa, o tom fanhoso está presente, mas ao se valer do chamado “vocal fry” ao conversar, Dylan confere um tom grave à voz, um tom que não vem à tona quando ele canta.
Para encerrar esta postagem, e para evitar que eu escreva outra somente sobre a história de que me lembrei agora, faço referência a algo bastante divulgado; acho até que o John Lennon chegou a falar sobre isso em alguma entrevista. A história dá conta de que quando os Beatles fumaram maconha pela primeira vez, estavam na companhia de Bob Dylan, que é quem teria apresentado a eles a Cannabis sativa.
Ainda Bob Dylan
Em 1986, li uma entrevista com o Bob Dylan publicada pela revista Bizz, de que eu era leitor fervoroso. Nunca me esqueci dessa entrevista. Dentre outras coisas, ele disse considerar Freud uma fraude, alegando que a psiquiatria não ajudou ninguém.
Também me lembro com nitidez de ele ter falado sobre o Herman Melville. Foi a partir da entrevista do Bob Dylan que tive a vontade de ler o grandioso “Moby Dick”. Dylan diz na entrevista: “Mas aí você pensa em alguém como Herman Melville, que escreve a partir da experiência, como em ‘Moby Dick’. Acho que há um tanto de fantasia no que escreveu. Dá para vê-lo cavalgando numa baleia?”. Quando fui ler o livro, fiquei o tempo todo aguardando o momento em que alguém (talvez o narrador) cavalgaria numa baleia; não me lembro de tal cena no livro.
Por fim, menciono algo que eu já mencionara num texto que publiquei em 1994, em coluna que eu mantinha em jornal daqui (o nome da coluna era Letras e Músicas): para Bob Dylan, o que mais lhe chama a atenção numa mulher é a voz.
Também me lembro com nitidez de ele ter falado sobre o Herman Melville. Foi a partir da entrevista do Bob Dylan que tive a vontade de ler o grandioso “Moby Dick”. Dylan diz na entrevista: “Mas aí você pensa em alguém como Herman Melville, que escreve a partir da experiência, como em ‘Moby Dick’. Acho que há um tanto de fantasia no que escreveu. Dá para vê-lo cavalgando numa baleia?”. Quando fui ler o livro, fiquei o tempo todo aguardando o momento em que alguém (talvez o narrador) cavalgaria numa baleia; não me lembro de tal cena no livro.
Por fim, menciono algo que eu já mencionara num texto que publiquei em 1994, em coluna que eu mantinha em jornal daqui (o nome da coluna era Letras e Músicas): para Bob Dylan, o que mais lhe chama a atenção numa mulher é a voz.
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O poeta Bob Dylan
Bob Dylan foi anunciado o Nobel de literatura de 2016. Lembro-me da primeira vez em que li a letra de “Blowin’ in the wind” — eu tinha uns doze anos; a escola de inglês em que eu estudava havia distribuído um livreto com as letras de algumas canções populares dos Estados Unidos. Uma delas era o clássico do Bob Dylan.
Sempre digo que letras de músicas podem ser literatura, mesmo não tendo obrigação de. Numa atitude nada simpática, compartilho, abaixo, texto escrito por... mim... Eu o publiquei em meu blogue no dia 10 de setembro de 2008.
_____
Gosto demais quando as barreiras que separam o erudito do popular são derrubadas. Sempre me senti atraído pela tentativa de se fazer uma amálgama dos dois. Em mim, isso é tão forte, que chego a pensar que se algum dia eu tivesse de arriscar uma definição para o que é a arte, eu partiria desse princípio de fusão entre o que é considerado popular e o que é considerado erudito.
Canções e literatura sempre me atraíram. O John Lennon disse que quando começou a escrever letras, tentava imitar o Bob Dylan. Nessa tentativa, Lennon se esforçava por escrever letras complicadas cujo sentido permanecesse latente. Com o passar do tempo, mudou a abordagem e passou a escrever textos mais simples, mais diretos, com menos metáforas – “Imagine” é um exemplo dessa fase menos rebuscada. Contudo, Lennon reiterava que tentava escrever letras que pudessem ser também lidas, letras que funcionassem como um poema.
A música pop tem letras que são poemas. O que é pop não tem de necessariamente produzir textos que possam ser considerados peças literárias, mas isso não impede que a literariedade esteja presente no que é pop.
Penso em “The Unforgiven”, do Metallica. Com muita freqüência, eu me lembro de um dos trechos da letra. Diz o seguinte (tradução liviana):
What I’ve felt
What I’ve known
Never shined through what I’ve shown
(O que senti
O que conheci
Nunca brilhou por intermédio do que mostrei)
O trecho não precisa ser cantado para “funcionar”.
Neste momento, escuto algumas canções. Uma delas, “Misread”, do Kings of Convenience. Um trecho da letra foi o que me levou a escrever o texto que você está lendo agora. Diz o trecho (novamente, tradução liviana):
How come no one told me
All throughout history
The loneliest people
Were the ones who always spoke the truth
The ones who made a difference
By withstanding the indifference
(Por que ninguém me disse
Que por toda a história
Os mais solitários
Foram os que sempre falaram a verdade
Os que fizeram a diferença
Resistindo à indiferença)
A MPB é pródiga em letras-poemas. De Pixinguinha a Lulu Santos, há fartura. E assim, “a porta do mundo é aberta/Minha alma desperta/Buscando a canção”.
Sempre digo que letras de músicas podem ser literatura, mesmo não tendo obrigação de. Numa atitude nada simpática, compartilho, abaixo, texto escrito por... mim... Eu o publiquei em meu blogue no dia 10 de setembro de 2008.
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Gosto demais quando as barreiras que separam o erudito do popular são derrubadas. Sempre me senti atraído pela tentativa de se fazer uma amálgama dos dois. Em mim, isso é tão forte, que chego a pensar que se algum dia eu tivesse de arriscar uma definição para o que é a arte, eu partiria desse princípio de fusão entre o que é considerado popular e o que é considerado erudito.
Canções e literatura sempre me atraíram. O John Lennon disse que quando começou a escrever letras, tentava imitar o Bob Dylan. Nessa tentativa, Lennon se esforçava por escrever letras complicadas cujo sentido permanecesse latente. Com o passar do tempo, mudou a abordagem e passou a escrever textos mais simples, mais diretos, com menos metáforas – “Imagine” é um exemplo dessa fase menos rebuscada. Contudo, Lennon reiterava que tentava escrever letras que pudessem ser também lidas, letras que funcionassem como um poema.
A música pop tem letras que são poemas. O que é pop não tem de necessariamente produzir textos que possam ser considerados peças literárias, mas isso não impede que a literariedade esteja presente no que é pop.
Penso em “The Unforgiven”, do Metallica. Com muita freqüência, eu me lembro de um dos trechos da letra. Diz o seguinte (tradução liviana):
What I’ve felt
What I’ve known
Never shined through what I’ve shown
(O que senti
O que conheci
Nunca brilhou por intermédio do que mostrei)
O trecho não precisa ser cantado para “funcionar”.
Neste momento, escuto algumas canções. Uma delas, “Misread”, do Kings of Convenience. Um trecho da letra foi o que me levou a escrever o texto que você está lendo agora. Diz o trecho (novamente, tradução liviana):
How come no one told me
All throughout history
The loneliest people
Were the ones who always spoke the truth
The ones who made a difference
By withstanding the indifference
(Por que ninguém me disse
Que por toda a história
Os mais solitários
Foram os que sempre falaram a verdade
Os que fizeram a diferença
Resistindo à indiferença)
A MPB é pródiga em letras-poemas. De Pixinguinha a Lulu Santos, há fartura. E assim, “a porta do mundo é aberta/Minha alma desperta/Buscando a canção”.
PEC Men
Para que conseguisse a aprovação da PEC 241 em primeiro turno, Temer fez banquete para duas centenas de deputados. Agora, haverá segunda votação na câmara. Sendo aprovada (e será), a PEC vai para o senado, onde também será votada em dois turnos. Renan Calheiros, presidente do senado, já declarou que está se empenhando pessoalmente para que a PEC seja aprovada na casa.
O que ainda não está certo é se haverá outro banquete para a votação em segundo turno na câmara dos deputados. Alguns deles já deram birrinha, dizendo que se não houver outro jantar, votarão contra a PEC, o que acabou levando à manifestação, por enquanto, discreta de alguns senadores. Disse um deles, que pediu para não ter o nome divulgado: “Se houver dois jantares para a câmara dos deputados, exigimos dois para o senado. E ainda que haja só um, estamos pensando em exigir dois. No interesse do povo, precisamos ser bem tratados”.
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terça-feira, 11 de outubro de 2016
Renato Manfredini Júnior
Há exatos vinte anos, eu era professor numa escola particular local. Acabadas as aulas, fui direto para casa. Lá chegando, minha mãe me deu a notícia: “Lívio, o Junim [meu amigo de infância] ligou. Disse pra eu te falar que um tal de Renato Russo morreu”.
Nasci em 1970. Eu havia passado uma grande de minha juventude escutando Legião Urbana. Minha mãe, ainda que não quisesse, acabava escutando (mas ela nunca reclamou de eu escutar). Não me lembro, mas acho que eu não tinha computador nessa época. Sei que liguei para o Junim, que disse ter escutado num programa de TV sobre a morte do Renato Russo.
Então liguei na TV Cultura, que, na época, tinha um jornal que começava, se não estou enganado, às 12h. Deram a notícia sobre a morte do Renato Russo. Naquele mesmo dia, já havia sido divulgado que o vocalista morrera em decorrência da Aids.
Sempre fui ruim para guardar datas. Há pouco, li que vinte anos se passaram desde a morte do vocalista da Legião Urbana. Eu não suporia que tanto tempo já havia se passado. Enquanto digito este texto, escuto “Giz”.
Suponho que o legado de Renato Russo vai perdurar. Um dia desses, eu estava dando aula para uma turma de primeiro ano do ensino médio. Quando nasceram, Renato Russo já havia morrido. Durante a aula, pedi a eles que me dissessem o nome de uma canção cuja letra curtem. Dois deles mencionaram “‘Índios’”.
Nasci em 1970. Eu havia passado uma grande de minha juventude escutando Legião Urbana. Minha mãe, ainda que não quisesse, acabava escutando (mas ela nunca reclamou de eu escutar). Não me lembro, mas acho que eu não tinha computador nessa época. Sei que liguei para o Junim, que disse ter escutado num programa de TV sobre a morte do Renato Russo.
Então liguei na TV Cultura, que, na época, tinha um jornal que começava, se não estou enganado, às 12h. Deram a notícia sobre a morte do Renato Russo. Naquele mesmo dia, já havia sido divulgado que o vocalista morrera em decorrência da Aids.
Sempre fui ruim para guardar datas. Há pouco, li que vinte anos se passaram desde a morte do vocalista da Legião Urbana. Eu não suporia que tanto tempo já havia se passado. Enquanto digito este texto, escuto “Giz”.
Suponho que o legado de Renato Russo vai perdurar. Um dia desses, eu estava dando aula para uma turma de primeiro ano do ensino médio. Quando nasceram, Renato Russo já havia morrido. Durante a aula, pedi a eles que me dissessem o nome de uma canção cuja letra curtem. Dois deles mencionaram “‘Índios’”.
segunda-feira, 10 de outubro de 2016
A inteligente professora de olhos azuis
Tive uma professora que usava óculos.
Eu a achava inteligente porque ela usava óculos.
Depois descobri que ela era inteligente não por causa dos óculos.
Ela tinha olhos azuis.
Inteligentes olhos azuis.
Não eram por causa dos óculos
nem o azul dos olhos nem a inteligência do cérebro.
Eu a achava inteligente porque ela usava óculos.
Depois descobri que ela era inteligente não por causa dos óculos.
Ela tinha olhos azuis.
Inteligentes olhos azuis.
Não eram por causa dos óculos
nem o azul dos olhos nem a inteligência do cérebro.
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domingo, 9 de outubro de 2016
“O amor, as mulheres e a vida”
O que eu conhecia do escritor uruguaio Mario Benedetti (1920-2009) era um poema ou outro. Há pouco, terminei de ler “O amor, as mulheres e a vida”, coletânea publicada pela Verus editora (braço editorial da Record), e traduzida por Julio Luis Gehlen. Como o título já antecipa, o amor é a temática dos poemas selecionados pelo próprio autor.
Benedetti abraça as conquistas do Modernismo em poemas curtos, de lirismo bem-humorado. Não raro, há espaço para questionamentos sociais: no poema “Acorda amor”, lê-se “os fundamentalistas degolam estrangeiros / prega o papa contra a camisinha / havelange estrangula maradona / (...) acorda amor / que o horror amanhece”.
Do que surge da coletânea, é o amor como possibilidade enriquecedora em meio a um mundo doido, e o humor como tempero do sentimento amoroso. No poema “Vice-versa”, o poeta escreve (com versos em minúsculas):
tenho urgência de te ouvir
alegria de te ouvir
boa estrela de te ouvir
e temores de te ouvir
ou seja
resumindo
estou ferrado
e radiante
talvez mais o primeiro
que o segundo
e também
vice-versa
Benedetti, no prólogo da coletânea, escreve que “o amor é um apogeu nas relações humanas”. O autor nos dá um belo testemunho do que é o amor na contemporaneidade. O velho amor, mudado em costumes, renovado na linguagem, mas amor. Os poemas de “O amor, as mulheres e vida” são um convite não só ao amor, mas à obra do escritor como um todo. Convite aceito.
Amor único
É único,
o meu amor.
Não só por
não haver outra.
É único porque
não há em outra
o que há em ti.
Outra não tem
tua pele,
teu sorriso,
tua voz,
teu beijo.
Tu és única.
Logo, meu amor
é único.
Amo-te como és.
Não há outra como és.
O que há em ti é só teu.
Por isso,
meu amor
é único.
É único porque,
amando algo único,
não há como
não ser único,
o amor.
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Fotopoema 398
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Pablo Villaça — o Poeta
O Pablo Villaça é genial crítico de cinema. Sou fã. Mas ele é também poeta (ainda que não escreva versos); ao discorrer sobre o filme “A chegada”, evidencia que a análise não impede o lirismo. No texto, Villaça criou algo que eu gostaria de ter escrito: “Há amores tão imensos que insistimos em vivê-los mesmo sabendo que a experiência resultará inevitavelmente em dor. Não há razão que explique nossa decisão de abraçá-los e o fascinante é que, mesmo que houvesse, não a ouviríamos. São amores tão fortes que parecem existir fora do tempo: não nos lembramos de como éramos antes deles e nem conseguimos nos imaginar como seríamos (ou seremos) depois”.
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quinta-feira, 6 de outubro de 2016
Fotopoema 397
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Os institutos federais e o Enem
O governo de Temer havia optado por não tornar público o desempenho dos institutos federais no Enem de 2015. Na noite de ontem, a IstoÉ, pró-Temer, divulgou em seu site que o desempenho dos institutos será divulgado.
Ainda de acordo com a IstoÉ, houve, por parte do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), “equívoco na interpretação da legislação por parte da equipe técnica que fez os cálculos para a divulgação dos resultados do Enem 2015 por escola e, por isso, os institutos federais não foram incluídos”. Segundo a revista, os resultados dos institutos federais no Enem serão divulgados “tão logo seja possível”, seja lá quando for isso.
Nos institutos federais, o estudante que faz um curso técnico integrado ao ensino médio está apto a prestar o Enem. Só que além do ensino médio, esse estudante, ao mesmo tempo, faz um curso técnico. Aqui em Patos de Minas, por exemplo, há dois cursos técnicos integrados ao ensino médio: o de eletrotécnica e o de logística; a cidade tem campus do IFTM — Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Triângulo Mineiro.
Embora não seja, a rigor, obrigação dos institutos federais preparar os estudantes para o Enem, eles têm se saído bem no exame e em vestibulares. Alguns alunos do campus Patos de Minas, a fim de treinarem, já prestaram vestibular em universidades federais, tendo obtido sucesso. No ano que vem é que as primeiras turmas (duas) completarão o ensino médio.
Causa estranheza a recusa inicial do governo em não divulgar os resultados dos institutos federais no Enem do ano passado. Esse tipo de informação está longe de ser segredo de Estado. O que diz respeito à educação deve, sim, ser transparente, seja o desempenho ridículo ou excelente. É direito da população ter acesso a esses dados.
Há quem tenha aventado a possibilidade de que a decisão inicial de não divulgar o desempenho dos institutos federais no Enem tenha ocorrido a fim de que o resultado das escolas particulares ficasse em evidência, para que o governo, posteriormente, alegasse que a educação pública está de mal a pior, e precisaria, por isso mesmo, de passar por mudanças. Claro que não sei se a intenção real do governo é essa; seja ela qual for, se a decisão inicial havia sido a de não divulgar o desempenho dos institutos, isso é, para dizer pouco, estranho. A educação precisa de melhoras, mas esconder dados está longe de ser estratégia de incremento.
Sou professor do IFTM. Se, por um lado, sempre é preciso debater, desde que consultada a população, o que pode ser feito para que a educação melhore, por outro, sou testemunha de que, no todo, a situação dos institutos federais, antes de Temer, estava longe de ser periclitante. Se o atual governo federal, com intenções espúrias, vai fazer com que os institutos fiquem sucateados, ainda não há como saber.
O governo em si é o dado negativo nesse cenário; o dado positivo diz respeito ao protesto que alguns institutos federais realizaram, com a participação de servidores e de alunos. Há dias, o ministério da educação anunciara que não haveria nem filosofia nem educação física no ensino médio; depois, voltou atrás, dizendo que a divulgação havia ocorrido devido a engano. Agora, volta atrás quanto à não divulgação do desempenho dos institutos federais no Enem. Não sei se de fato o governo reconsiderou as decisões devido à pressão de parte da população. Independentemente disso, não nos calemos.
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quarta-feira, 5 de outubro de 2016
Luís André Nepomuceno em entrevista sobre Cyro dos Anjos
Neste “link”, áudio de entrevista que o escritor e professor Luís André Nepomuceno, do Unipam, o Centro Universitário de Patos de Minas, concedeu hoje para a Rádio UFMG.
No bate-papo, Luís André fala sobre Cyro dos Anjos, escritor de Montes Claros. Cyro morreu em 1994. Se vivo estivesse, faria aniversário hoje.
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terça-feira, 4 de outubro de 2016
A história por trás da foto (95)
Muito infelizmente, não me lembro de quem tirou esta foto. Além disso, não tenho a menor ideia de quando ela foi tirada. Deparei-me com o registro no sábado à tarde, num momento em que a intenção era revisitar palavras, não imagens.
Nessa intenção, saquei da estante o “Crônica de uma morte anunciada”, do García Márquez. Enquanto eu o folheava, percebi que havia uma foto dentro do livro. Também não faço a menor ideia de como a fotografia foi parar dentro do destino de Santiago Nasar. Do que sei, é que ela, por questões óbvias, é do tempo em que trabalhei em rádio.
O da esquerda é o Rubinho, que foi vocalista da banda O Gabba, grupo local que tinha como integrantes além dele, Rubinho (vocal), Bruno Fontoura (teclado), Moisés Martins (guitarra), Dell Luiz (baixo) e Cleanto Braz (bateria). Em 2002, lançaram o CD “Alerta”.
O Rubinho e o guitarrista Márcio Lopes, que posteriormente seria integrante da banda O Gabba, com a saída de Moisés Martins, fizeram, certa vez, um show no teatro municipal Leão de Formosa. De última hora, o Rubinho me ligou, convidando-me para participar da atração.
Fiz o papel de um locutor de rádio que estava entrevistando Rubinho e Márcio. Não houve roteiro, tudo foi improvisado. O fio condutor foi o de que, num misto de apresentação musical e teatral, eu entrevistei, para um fictício programa de rádio, os dois dos integrantes da banda O Gabba, que, no tempo vivido no palco, já era uma banda consagrada. A foto da postagem não foi tirada no mesmo dia da performance no teatro. Isso foi em vinte e um de agosto de 2004.
A atriz Maria Célia Costa Santos também participou, no papel de uma ouvinte que ligava para a estação de rádio a fim de tietar os integrantes da banda. Também muito infelizmente, não me lembro de quando essa apresentação foi realizada.
A fábula dos ratos
Era uma vez, há muito tempo, um rei que decidiu visitar o reino vizinho, onde alguns habitantes o receberam com ratos falsos. Sabiam que se os roedores fossem verdadeiros, assim que se deparassem com o rei, fugiriam dele.
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A história por trás da foto (94)
Há pouco eu estava brincando com o Tito, meu cachorro, quando um casal de maritacas pousou na antena de TV do vizinho. Para desalento dele, Tito, sem avisar, eu o abandonei, saindo correndo para dentro de casa, a fim de pegar a câmera.
Enquanto eu encaixava a lente no equipamento, eu podia escutar as vozes das maritacas. Pensei que o Tito fosse ficar bravo com elas, o que não ocorreu. De volta ao quintal, pude fotografar uma delas.
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Gradação
Em cada
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sílaba
e letra
que escrevi
para ti,
havia a
intenção
do ato.
O resto
são palavras.
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A história por trás da(s) foto(s) 93
No momento em que ela é tirada, há um quê de imprevisibilidade em toda foto. Ainda que haja manejo profissional da técnica e mesmo que se trate de fotógrafo experiente, não existe domínio absoluto sobre o registro que está prestes a ser feito.
Há contextos em que esse não domínio é maior ainda. É o caso das duas imagens desta postagem. Foram feitas com um celular que não tem possibilidade de exposição manual para fotos. Além disso, eu estava dentro de um ônibus em movimento, numa rodovia, enquanto uma chuvinha fina caía.
Nesse cenário, o controle sobre a imagem que virá fica restrito à composição. Mesmo assim, foi difícil conseguir o enquadramento que eu desejava; quando eu ia clicar, algum solavanco fazia com que eu tivesse de mexer os braços.
As fotos foram tiradas em 31 de agosto deste ano. Eram 6h12. No momento dos cliques, o ônibus estava próximo a Perdizes/MG.
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segunda-feira, 3 de outubro de 2016
A lenda de Corações Celestiais
Era uma vez uma pequena aldeia chamada Corações Celestiais. Ela tinha dois caciques. O nome de um era Zápite. O nome do outro era Zápete. Muitos antes de os dois nascerem, as famílias deles já disputavam o comando daquelas terras amplas, férteis e longínquas. Depois de milênios de querelas, os dois caciques, herdeiros de uma sangrenta tradição, selaram acordo de paz. Por todos os rincões daquelas intermináveis pradarias, houve júbilo, durante o qual cada líder enviou para a choupana do outro encomiásticos sinais de fumaça, que, de tão nobres, mais se pareciam com nuvens. Nesse tempo distante, a morte do curandeiro do lugar ocorreu enquanto os caciques ainda trocavam cantos de louvor. Como era tradição milenar, o corpo do curandeiro seria queimado e ofertado aos deuses. Durante a cerimônia, um índio de sete anos perguntou à sua mãe, com medo dos caciques, se eles começariam a brigar, pois o pequeno tinha visto que os dois gigantes líderes não olhavam para a cara um do outro enquanto as chamas consumiam a carne do curandeiro.
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domingo, 2 de outubro de 2016
Sentidos
Não quero
só flerte,
não quero
só ver-te.
Eu quero
sorvete,
sorver-te.
Solerte,
ler-te.
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Contato
Leitura labial:
minha boca
escrevendo
em tua pele.
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sábado, 1 de outubro de 2016
O riso triste de Viagens de Gulliver
Causa espanto o quanto Viagens de Gulliver (1726), de Jonathan Swift (1667-1745) é lúdico e demolidor. Na obra, acompanhamos as peripécias por que passa Lemuel Gulliver, que é o narrador. Tendo realizado quatro viagens, o que lemos são as notícias que Gulliver nos dá dos lugares em que esteve: nas três primeiras jornadas, em Lilipute, Brobdingnag, Laputa, Balnibarbi, Glubbdubdrib, Luggnagg e no Japão; na quarta, vai ao País dos Houyhnhnms.
Ainda que se alegue que a quarta viagem não tenha o humor das anteriores, isso não é o mesmo que dizer que ela não tenha humor algum. De qualquer modo, mesmo havendo a insistência de que não há nada de engraçado na última jornada do narrador, por ela ter um tom mais filosófico, soturno e reflexivo, isso não anula a graça e a graciosidade do livro. Ao mesmo tempo em que diverte, o artifício de Swift, ao criar o crédulo e ingênuo narrador Gulliver, criou um ataque corrosivo contra o homem e contra as nações, num tom que mistura galhofa e contundência.
Susan Sontag, no livro Sobre Fotografia, escreveu: “A operação balzaquiana consistia em ampliar pequenos detalhes, como numa ampliação fotográfica” (1). Essa ampliação tem a capacidade de fazer com que nossa “cegueira” seja diminuída. O exagero faz com que olhemos de outro modo coisas que estão diante de nós; por estarmos acostumados a elas, geralmente não as observamos, mas se observarmos, constatamos que tudo pode ser mais estranho do que o que nos revela nossa vista cansada e saturada. A ampliação ou o exagero tornam inéditos um mundo que nos parecia não ter mais novidade. Súbito, damo-nos conta de que há um modo de olhar, seja literalmente, seja metaforicamente, que banha de novidade algo em que não mais prestávamos atenção ou em que nunca havíamos prestado.
Essa ampliação pode trazer à tona a beleza ou a feiura. O que temos de repugnante pode se tornar mais evidente quando observado com olhar de lupa. Gulliver, em sua segunda jornada, está em Brobdingnag; nessa terra, ele convive com gigantes, diferentemente da primeira viagem, em que ele convivera com criaturas minúsculas. Em Brobdingnag, Gulliver é encarado como “lusus naturae” [divertimento da natureza] (2). Na estratégia de Swift, em que o narrador é agora minúsculo, o viajante tem diante de si seres gigantes, o que amplia as imperfeições de seus corpos. Encarado como brinquedo pelas mulheres de Brobdingnag, Gulliver é colocado no seio de uma delas. Diz ele:
“Devo confessar que nada me repugnou tanto como a vista do seu seio monstruoso, que não sei a que posso comparar, a fim de dar ao leitor uma idéia do seu tamanho, da sua forma e da sua cor. Mediria uns 6 pés de comprimento e nunca menos de 16 de circunferência. O bico teria, no mínimo, a metade do tamanho de minha cabeça, e ostentava tão grande variedade de manchas, borbulhas e sardas, que não se poderia imaginar espetáculo mais nauseoso” (3).
Em outro momento, em que também narra a convivência que teve com as mulheres de Brobdingnag, Gulliver diz: “Frequentemente me despiam, da cabeça aos pés, e me colocavam deitado a fio comprido sobre os seus ventres; o que sobremodo me repugnava; porque, para dizer a verdade, a pele delas soltava um cheiro nauseabundo” (4).
No universo criado por Swift, se na primeira viagem o narrador é a criatura que foi observada em detalhes pelos habitantes de Lilipute, que eram minúsculos em relação a Gulliver, na segunda viagem, ele é quem padece por causa do cheiro exalado pelos habitantes de Brobdingnag. Todavia, reitero, Swift zomba não só da soberba dos indivíduos, mas também da soberba das nações, com seus sistemas políticos e seu ufanismo. Em documento divulgado por Gulliver, consta que Lilipute é “delícia e terror do universo” (5); a metrópole de Brobdingnag tem a alcunha de “Orgulho do Universo” (6).
Swift, ao criar um narrador quase isento ao narrar o que havia testemunhado, mofa ainda das propaladas conquistas da racionalidade. O século XX, muito em virtude do morticínio que foi capaz de produzir, graças ao avanço da ciência, continuou pondo em xeque a supremacia da razão como sendo capaz de nos tornar mais plenos. Jung (1875-1961), no ensaio “Chegando ao inconsciente”, escreveu:
“O lema ‘querer é poder’ é a superstição do homem moderno. Para sustentar essa crença, no entanto, o homem contemporâneo paga o preço de uma incrível falta de introspecção. Não consegue perceber que, apesar de toda a sua racionalização e eficiência, continua à mercê de ‘forças’ fora de seu controle. Seus deuses e demônios absolutamente não despareceram” (7).
Jogando sobre sua época um olhar zombeteiro e impiedoso, Viagens de Gulliver, já no século XVIII, o século do Iluminismo, movimento intelectual que advogou o poder da razão, demole a crença na capacidade que essa mesma razão tem de explicar o que somos ou de ser nossa redentora. Na primeira viagem, Gulliver dá notícia de uma guerra que ocorrera porque os habitantes não conseguem chegar a um consenso sobre se o ovo deve ser quebrado a partir da ponta mais grossa ou da mais fina; na terceira, um homem estava estudando há oito anos um modo de extrair raios de sol dos pepinos, enquanto outro se esforçava para transformar o gelo em pólvora; na quarta, a despeito da aparente perfeição da sociedade dos Houyhnhnms, em que os cavalos é que são racionais, ao passo que os homens nem são capazes de articular linguagem, a razão dos equinos os conduziu ao embotamento da capacidade de compaixão e a uma hierarquia em que um cavalo é segregado por causa de seu aspecto físico, numa sinistra eugenia:
(...) “Entre os Houyhnhnms, o branco, o alazão e o castanho-escuro não tinham exatamente o formato do baio, do ruço rodado e do preto; não haviam nascido com as mesmas aptidões intelectuais, nem com capacidade para aprimorá-las, e continuavam sempre, portanto, na condição de criados, sem aspirar jamais a elevar-se acima da própria raça” (8).
Em Viagens de Gulliver, indivíduo e sociedade são doentes e dignos de pena e de riso — um riso que, no leitor adulto, já tendo em si a malícia e já sendo apto a compreender ironias amargas, nunca é pueril, nunca deixa esquecer que estamos rindo de algo lamentável. O corpo social e o corpo individual se refletem. O homem, microcosmo, é tão conspurcado quanto a coletividade, macrocosmo. O livro pode ser lido como uma espécie de rol das corrupções do caráter dos indivíduos e do espírito das nações.
_____
(1) SONTAG, Susan. Sobre Fotografia. Tradução Rubens Figueiredo. 1ª edição. São Paulo. Companhia das Letras. 2004. Pág. 175.
(2) SWIFT, Jonathan. Viagens de Gulliver. Tradução Octavio Mendes Cajado. São Paulo. Círculo
do Livro. [19--]. Pág. 92.
(3) Idem. Pág. 79.
(4) Ibidem. Pág. 103.
(5) Ibidem. Pág. 37.
(6) Ibidem. Pág. 86.
(7) JUNG, Carl Gustav [et al.]. O homem e seus símbolos [concepção e organização Carl G. Jung]. Tradução Maria Lúcia Pinho. 3ª edição especial. Rio de Janeiro. HarperCollins Brasil. 2016. Pág. 103.
(8) SWIFT, Jonathan. Viagens de Gulliver. Tradução Octavio Mendes Cajado. São Paulo. Círculo
do Livro. [19--]. Pág. 235.
Ainda que se alegue que a quarta viagem não tenha o humor das anteriores, isso não é o mesmo que dizer que ela não tenha humor algum. De qualquer modo, mesmo havendo a insistência de que não há nada de engraçado na última jornada do narrador, por ela ter um tom mais filosófico, soturno e reflexivo, isso não anula a graça e a graciosidade do livro. Ao mesmo tempo em que diverte, o artifício de Swift, ao criar o crédulo e ingênuo narrador Gulliver, criou um ataque corrosivo contra o homem e contra as nações, num tom que mistura galhofa e contundência.
Susan Sontag, no livro Sobre Fotografia, escreveu: “A operação balzaquiana consistia em ampliar pequenos detalhes, como numa ampliação fotográfica” (1). Essa ampliação tem a capacidade de fazer com que nossa “cegueira” seja diminuída. O exagero faz com que olhemos de outro modo coisas que estão diante de nós; por estarmos acostumados a elas, geralmente não as observamos, mas se observarmos, constatamos que tudo pode ser mais estranho do que o que nos revela nossa vista cansada e saturada. A ampliação ou o exagero tornam inéditos um mundo que nos parecia não ter mais novidade. Súbito, damo-nos conta de que há um modo de olhar, seja literalmente, seja metaforicamente, que banha de novidade algo em que não mais prestávamos atenção ou em que nunca havíamos prestado.
Essa ampliação pode trazer à tona a beleza ou a feiura. O que temos de repugnante pode se tornar mais evidente quando observado com olhar de lupa. Gulliver, em sua segunda jornada, está em Brobdingnag; nessa terra, ele convive com gigantes, diferentemente da primeira viagem, em que ele convivera com criaturas minúsculas. Em Brobdingnag, Gulliver é encarado como “lusus naturae” [divertimento da natureza] (2). Na estratégia de Swift, em que o narrador é agora minúsculo, o viajante tem diante de si seres gigantes, o que amplia as imperfeições de seus corpos. Encarado como brinquedo pelas mulheres de Brobdingnag, Gulliver é colocado no seio de uma delas. Diz ele:
“Devo confessar que nada me repugnou tanto como a vista do seu seio monstruoso, que não sei a que posso comparar, a fim de dar ao leitor uma idéia do seu tamanho, da sua forma e da sua cor. Mediria uns 6 pés de comprimento e nunca menos de 16 de circunferência. O bico teria, no mínimo, a metade do tamanho de minha cabeça, e ostentava tão grande variedade de manchas, borbulhas e sardas, que não se poderia imaginar espetáculo mais nauseoso” (3).
Em outro momento, em que também narra a convivência que teve com as mulheres de Brobdingnag, Gulliver diz: “Frequentemente me despiam, da cabeça aos pés, e me colocavam deitado a fio comprido sobre os seus ventres; o que sobremodo me repugnava; porque, para dizer a verdade, a pele delas soltava um cheiro nauseabundo” (4).
No universo criado por Swift, se na primeira viagem o narrador é a criatura que foi observada em detalhes pelos habitantes de Lilipute, que eram minúsculos em relação a Gulliver, na segunda viagem, ele é quem padece por causa do cheiro exalado pelos habitantes de Brobdingnag. Todavia, reitero, Swift zomba não só da soberba dos indivíduos, mas também da soberba das nações, com seus sistemas políticos e seu ufanismo. Em documento divulgado por Gulliver, consta que Lilipute é “delícia e terror do universo” (5); a metrópole de Brobdingnag tem a alcunha de “Orgulho do Universo” (6).
Swift, ao criar um narrador quase isento ao narrar o que havia testemunhado, mofa ainda das propaladas conquistas da racionalidade. O século XX, muito em virtude do morticínio que foi capaz de produzir, graças ao avanço da ciência, continuou pondo em xeque a supremacia da razão como sendo capaz de nos tornar mais plenos. Jung (1875-1961), no ensaio “Chegando ao inconsciente”, escreveu:
“O lema ‘querer é poder’ é a superstição do homem moderno. Para sustentar essa crença, no entanto, o homem contemporâneo paga o preço de uma incrível falta de introspecção. Não consegue perceber que, apesar de toda a sua racionalização e eficiência, continua à mercê de ‘forças’ fora de seu controle. Seus deuses e demônios absolutamente não despareceram” (7).
Jogando sobre sua época um olhar zombeteiro e impiedoso, Viagens de Gulliver, já no século XVIII, o século do Iluminismo, movimento intelectual que advogou o poder da razão, demole a crença na capacidade que essa mesma razão tem de explicar o que somos ou de ser nossa redentora. Na primeira viagem, Gulliver dá notícia de uma guerra que ocorrera porque os habitantes não conseguem chegar a um consenso sobre se o ovo deve ser quebrado a partir da ponta mais grossa ou da mais fina; na terceira, um homem estava estudando há oito anos um modo de extrair raios de sol dos pepinos, enquanto outro se esforçava para transformar o gelo em pólvora; na quarta, a despeito da aparente perfeição da sociedade dos Houyhnhnms, em que os cavalos é que são racionais, ao passo que os homens nem são capazes de articular linguagem, a razão dos equinos os conduziu ao embotamento da capacidade de compaixão e a uma hierarquia em que um cavalo é segregado por causa de seu aspecto físico, numa sinistra eugenia:
(...) “Entre os Houyhnhnms, o branco, o alazão e o castanho-escuro não tinham exatamente o formato do baio, do ruço rodado e do preto; não haviam nascido com as mesmas aptidões intelectuais, nem com capacidade para aprimorá-las, e continuavam sempre, portanto, na condição de criados, sem aspirar jamais a elevar-se acima da própria raça” (8).
Em Viagens de Gulliver, indivíduo e sociedade são doentes e dignos de pena e de riso — um riso que, no leitor adulto, já tendo em si a malícia e já sendo apto a compreender ironias amargas, nunca é pueril, nunca deixa esquecer que estamos rindo de algo lamentável. O corpo social e o corpo individual se refletem. O homem, microcosmo, é tão conspurcado quanto a coletividade, macrocosmo. O livro pode ser lido como uma espécie de rol das corrupções do caráter dos indivíduos e do espírito das nações.
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(1) SONTAG, Susan. Sobre Fotografia. Tradução Rubens Figueiredo. 1ª edição. São Paulo. Companhia das Letras. 2004. Pág. 175.
(2) SWIFT, Jonathan. Viagens de Gulliver. Tradução Octavio Mendes Cajado. São Paulo. Círculo
do Livro. [19--]. Pág. 92.
(3) Idem. Pág. 79.
(4) Ibidem. Pág. 103.
(5) Ibidem. Pág. 37.
(6) Ibidem. Pág. 86.
(7) JUNG, Carl Gustav [et al.]. O homem e seus símbolos [concepção e organização Carl G. Jung]. Tradução Maria Lúcia Pinho. 3ª edição especial. Rio de Janeiro. HarperCollins Brasil. 2016. Pág. 103.
(8) SWIFT, Jonathan. Viagens de Gulliver. Tradução Octavio Mendes Cajado. São Paulo. Círculo
do Livro. [19--]. Pág. 235.
Do que não se vê
Eu abro a janela do quarto.
A natureza me sopra um segredo.
Dentre as coisas que não vemos,
mas sabemos que existem,
dá-me vento em tarde quente.
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