terça-feira, 9 de outubro de 2018

O Começo do Sonho

Há alguns dias, assisti ao documentário O Fim do Sonho Americano, que tem uma série de declarações de Noam Chomsky. Conhecido no meio acadêmico como linguista, Chomsky tem outra faceta, que é a de se envolver com questões políticas.

Chomsky inicia o documentário alegando que a desigualdade vem da extrema riqueza nas mãos de alguns. Ainda de acordo com ele, boa parte do tão propalado sonho americano consistia na mobilidade de classe, o que, segundo ele, não é mais como já foi. A seguir, ele passa a falar dos pilares da democracia, para, então, discorrer sobre o círculo vicioso em que o poder gera riqueza e a riqueza gera poder.

Nesse momento, o intelectual faz menção a Adam Smith e seu famoso A riqueza das nações. No livro, Smith menciona os chamados “mestres da humanidade”, cujo lema é simples: “Tudo para nós, e nada para as outras pessoas”. Debruçando-se sobre as consequências desse “mantra”, Chomsky elenca dez princípios que os “mestres da humanidade” adotam para conseguir o que almejam. São estes, os princípios:

1) reduzir a democracia;
2) moldar a ideologia (coibir a rebeldia);
3) redesenhar a economia (aumentar o poder de instituições financeiras — bancos, seguradoras...);
4) deslocar o fardo (diminuir os impostos dos muitos ricos e aumentar os dos pobres);
5) atacar a solidariedade (ela é perigosa porque, segundo “os mestres da sociedade”, “nada para os outros”);
6) controlar os reguladores: o mundo dos negócios controlando a legislação;
7) controlar as eleições (empresas financiando campanhas);
8 - manter a ralé na linha (coibir organizações trabalhistas, sindicatos);
9) consentimento de produção (controlar crenças e atitudes, fabricando consumidores, compelindo-os a coisas fúteis);
10) marginalizar a população: como ela, a população, não tem força política, ela passa, por isso mesmo, a odiar instituições; outro ponto é corroer as relações sociais, de modo que grupos passem a brigar entre si.

Embora lide com a realidade dos Estados Unidos, é impossível não constatar o quanto os dez princípios dos “mestres da humanidade” estão presentes mundo afora e, de modo bem intenso, no Brasil atual. O Fim do Sonho Americano é didático, de linguagem acessível. Uma contribuição formidável dos realizadores a quem busca saber o que algumas pessoas não querem que saibamos. Sonha melhor quem procura se inteirar da realidade. 

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