O Brasil tem provas retumbantes de que a burocracia não funciona. Durante a ditadura militar, criaram o ministério da desburocratização. Claro que a ideia, uma contradição em si, não deu certo. A burocracia escolhe suas vítimas: o alto escalão não precisa bater continência para ela, que atravanca somente a vida de nós, habitantes do baixo escalão. A burocracia engessa quem deveria estar livre e libera quem deveria estar na teia dela.
O fetiche por excesso de papéis ou de documentos eletrônicos nada resolve. Se burocracia coibisse corrupção, o Brasil não a teria; se burocracia indicasse brilhantismo intelectual, seríamos uma nação de gênios; se burocracia assegurasse transparência, não haveria tanta coisa nublada; se burocracia implicasse produtividade, não haveria tanta coisa parada. A burocracia é a arte de tomar tempo e de nada resolver de modo inútil. Ela tira a possibilidade do ócio ou da criação, do descanso ou do trabalho útil.
Estéril, a burocracia é aquilo que quer tirar de nós o espírito criador que podemos ter. A burocracia não tem graça, não tem humor. Caso se arvore a ter, terá de ser em três vias, assinadas datadas e carimbadas, as quais ninguém lê e que serão deixadas num calabouço imbecil. A burocracia quer pompa e ares de correção onde só há perda de tempo, burrice e crueldade.
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