Um grande livro sempre tem grandes implicações: um grande livro nos torna melhores.
quarta-feira, 31 de dezembro de 2014
DE COR
Tenho dores e cores.
Eu sei de cor.
Eu sei de dor.
Pego dores e cores
e encho de palavras
a pesada madrugada.
Pela manhã, haverá luz.
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JUS
A palavra exata
faz jus.
A palavra exata
faz luz.
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APONTAMENTO 230
Quando a cabeça não é gaiola, o pensamento voa.
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POR AMOR
Claro que, quando se ama, a vontade é a de e-xi-gir do outro que ele também ame. Afinal, como alguém pode não amar um amor tão intenso que é ofertado de modo tão espontâneo e forte? Mas não temos o direito de exigir que a outra pessoa nos ame, por mais que o desejo seja de pegá-la pelo pescoço e fazer com que ela receba o amor que é só dela.
É como se a gente dissesse para a pessoa: “Olha, você nem imagina o quanto sou capaz de fazer você feliz, o quanto quero fazer você feliz”. Se a outra pessoa for madura, ela sabe disso, mas pode não querer receber o amor que a ela é ofertado, seja por que razão for.
“João amava Teresa”. Mas Teresa amava Raimundo... Num certo dia, um João pode amar uma Teresa, e por ela ser amado. Se um amor que não começa já é algo complicado de manejar, um amor que se inicia requer arte para a qual nem todos estão prontos. O amor pode não ter limites; os amantes têm.
Nem sempre o amor é. Em muitas vezes, poderia ter sido; noutras tantas, foi e deixou de ser. Muitos há que só descobrem do que são capazes depois que passam a amar. Amar não é fácil. É difícil saber dar amor; é difícil saber receber amor. Amor chega, amor vai embora. Ou não.
No silêncio noturno e solitário dentro de um ônibus que rasga a madrugada ou sobre cama ruidosa e suada, é o amor que age, que vai fazendo com que vivamos, dos gestos mais simples aos mais retumbantes, por ele. Tudo é por amor. Contudo, posso estar enganado. Talvez nem tudo seja por amor. Mas deveria.
É como se a gente dissesse para a pessoa: “Olha, você nem imagina o quanto sou capaz de fazer você feliz, o quanto quero fazer você feliz”. Se a outra pessoa for madura, ela sabe disso, mas pode não querer receber o amor que a ela é ofertado, seja por que razão for.
“João amava Teresa”. Mas Teresa amava Raimundo... Num certo dia, um João pode amar uma Teresa, e por ela ser amado. Se um amor que não começa já é algo complicado de manejar, um amor que se inicia requer arte para a qual nem todos estão prontos. O amor pode não ter limites; os amantes têm.
Nem sempre o amor é. Em muitas vezes, poderia ter sido; noutras tantas, foi e deixou de ser. Muitos há que só descobrem do que são capazes depois que passam a amar. Amar não é fácil. É difícil saber dar amor; é difícil saber receber amor. Amor chega, amor vai embora. Ou não.
No silêncio noturno e solitário dentro de um ônibus que rasga a madrugada ou sobre cama ruidosa e suada, é o amor que age, que vai fazendo com que vivamos, dos gestos mais simples aos mais retumbantes, por ele. Tudo é por amor. Contudo, posso estar enganado. Talvez nem tudo seja por amor. Mas deveria.
31/12/2014
Bruno Fontoura, compositor patense, canta: “Faça tudo cedo / Deixe todo enredo ficar pra trás”. Amanhece o dia. Nova trama. Novo enredo. Essas letras vão desembocar lá em 2015.
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SIM, NÓS TEMOS HOLOCAUSTO
Uma mulher é internada num hospício depois de ter sido estuprada pelo patrão. Uma outra pessoa é internada por ser tímida. Outra, por ter perdido a carteira... Setenta por cento dos internados não tinham diagnóstico de doença mental.
São histórias que estão em “Holocauto brasileiro” (publicado pela Geração Editorial), de Daniela Arbex. Ela escreveu um livro tão importante, que ele deve ser lido não somente por aqueles que se interessam pelo que se considera a loucura. “Holocausto brasileiro” deve ser lido por quem se interessa por gente. Se não é esse seu caso, insisto: o livro deve ser lido por quem é gente.
Há um dado na capa do livro: “Genocídio: 60 mil mortos no maior hospício do Brasil”. O número se refere aos mortos em Barbacena/MG, no hospício conhecido como Colônia. No auge do extermínio, o lugar chegou a ter dezesseis mortes por dia.
O texto de Daniela Arbex, bem como as fotos de Luiz Alfredo, publicadas originalmente na revista O Cruzeiro, contam uma história sinistra que perpassou boa parte do século XX. Com sensatez e inteligência, Arbex não se rende ao sensacionalismo: em meio a relatos de vidas dilaceradas no hospício, não deixa de trazer à tona a capacidade que o ser humano tem de ser magnânimo — há histórias grandiosas no livro da jornalista.
O genocídio sistematizado em Barbacena revela conivência de médicos, de funcionários da instituição e da população. Ao mesmo tempo, conta-se a atuação de alguns médicos, de alguns funcionários e de quem não gravitava na Colônia para que os pacientes de lá não precisassem nem comer ratos nem beber urina. Algumas mães, a fim de protegerem a gestação, passavam fezes no corpo, para não serem molestadas.
Arguta, Arbex adverte: “Ontem foram os judeus e os loucos, hoje os indesejáveis são os pobres, os negros, os dependentes químicos”. “Holocausto brasileiro” evidencia o que o ser humano é capaz de fazer quando, movido por ódio ou ignorância, sente-se apto a realizar uma limpeza social, decidindo, arbitrariamente, quem pode e quem não pode estar em sociedade. “Holocausto brasileiro” é um livro fundamental. Leia.
terça-feira, 30 de dezembro de 2014
FOTOPOEMA 364
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SINTONIA FINA — EDIÇÃO 30
No ar, mais uma edição do Sintonia Fina, programa musical apresentado por mim. Para escutar, é só dar “play”.
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Snow Patrol — Run
Cynthia Martins — Amanhecer
Moby — The perfect life (ao vivo)
Marisa Monte — Não vá embora
Awolnation — Sail
Tiê — Sweet jardim
Exile — Kiss you all over
Paulinho Pedra Azul — Recado para um amigo solitário
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segunda-feira, 29 de dezembro de 2014
AMANTE
A outra era
a cereja do rolo.
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FOTOPOEMA 363
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NÓ GÓRDIO
Desfaçamos
os nós.
De mim
e de você,
façamos
nós.
No
desenlace,
enlace.
Afinal,
a gente
se amarra.
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DESFECHO
Há quarenta e três dias estou tentando achar um desfecho meu para dois trechos que reuni da Emily Dickinson. Não obtive êxito; esta publicação fica, pois, sem desenlace. Ou as palavras da escritora americana ficam sendo o desfecho.
Num de seus versos, Dickinson escreveu, segundo tradução de José Lira: “Achei palavras para cada ideia”. Num outro verso dela, de outro poema (ainda de acordo com a tradução de Lira), a autora escreveu que “nem todo dia a ideia acha palavras”.
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sábado, 27 de dezembro de 2014
GRUPO CARAMBOLA REALIZA SHOW
Ontem, em mais uma realização da Improviso Produções, ocorreu, no Espaço Tio Patinhas, em Patos de Minas, o show que celebrou os trinta anos do grupo Carambola, banda de Patos de Minas. Além do show deles, houve, a seguir, música ao vivo com Moisés Carvalho e pista de dança animada pelo DJ Tybabas.
O Carambola é formado por Ângelo Costa, Maurício Castro, Vilmar Carvalho e Marcão Vieira. No show de ontem, foram acompanhados por Dell Luiz (baixo), Adriano Alves (guitarra), Alexandre Bomfim (bateria), Márcia Soares (vocal de apoio) e Bruna Alves (vocal de apoio). Além de canções próprias, a banda executou clássicos da MPB (a versão que fizeram para “Rapte-me, camaleoa”, do Caetano, ficou um barato).
Unindo gerações da música local, a banda O Berço, que recentemente lançou CD com músicas próprias, fez participação especial no show do Carambola. Já escrevi que a cidade vive um belo momento musical; foi bonito presenciar duas gerações de artistas locais se apresentando num mesmo palco.
A plateia, composta essencialmente por pessoas acima dos trinta e cinco, relembrou os tempos do Encontrão Cantar na Praça e do Teatro Telhado, como bem lembrou o Carambola durante o espetáculo. Terminado o show do grupo, houve quem tenha conferido a apresentação do Moisés Carvalho, que é filho do Valdir Carvalho, também músico local, e houve quem se esbaldou na pista de dança, ao som de clássicos do pop/rock.
sexta-feira, 26 de dezembro de 2014
A HISTÓRIA POR TRÁS DA FOTO (80)
Ontem à tarde, saí para fotografar. Tendo passado o aterro sanitário, tomei a estrada que dá acesso à esquerda. Depois de dirigir por uns dois quilômetros, eu me deparei com esta cruz sobre o poste de uma cerca de arame.
Tirei a foto. Logo após, percebi que, pendurados numa árvore, havia o que julguei serem espantalhos de mais ou menos meio metro cada um. Se não eram espantalhos, eram bonecos ou algo assim. Aproximei-me de um portão em busca de ângulo ideal para fotografar os supostos espantalhos. Foi quando me dei conta de que havia um cadela cuidando do lugar.
Embora ela não tenha feito menção de atacar, decidi não correr risco. Assim, não fotografei os espantalhos. Quanto à foto da cruz sobre a cerca, tenho impressão de que ela está tombada devido à ação do vento ou da chuva. No mais, nem preciso dizer que, ao postar a foto, não tenho intenção de ser iconoclasta nem algo que o valha. Seria fácil polemizar, mas polêmicas fáceis, em sua maioria, são desonestas, imaturas ou superficiais.
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APONTAMENTO 229
Led Zeppelin tem peso, tem pegada; é visceral, é primitivo, é animalesco, é bestial, é cru, é básico. Led Zeppelin não é para soar limpo: é para ser sujo. É uma das mais fascinantes sujeiras da arte. Obviamente, uma banda com essas características só pode ser indispensável.
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quarta-feira, 24 de dezembro de 2014
MENSAGEM DE NATAL
O Natal não precisa
nem de gorro
nem de chaminé.
Preocupa-te mais com
a presença do que
com o presente.
As roupas se desgastaram.
As palavras se cansaram.
Procura por um Natal inédito.
Faz um Natal
com tua cara,
com tuas cores.
Que haja o rito,
que haja o brinde.
Que teu coração aja.
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terça-feira, 23 de dezembro de 2014
EU SOU VOCÊ
É natural que sejamos influenciados pelas coisas com as quais convivemos. Quanto maior a convivência, maior a influência. Num certo sentido, tornamo-nos as pessoas ou as coisas com as quais convivemos. Passamos, por exemplo, a adotar uma palavra que é usada pela pessoa que amamos. Nesse sentido, tornamo-nos, também, os livros com os quais convivemos (essa ideia está, de modo literal, presente em “Fahrenheit 451”, do Ray Bradbury).
A caminho do cemitério, quando meu pai morreu, pela janela do carro, olhei para o mundo. Nada havia mudado: as pessoas continuavam com sua correria, os carros continuavam com suas buzinas. Foi quando me lembrei do poema “Funeral Blues”, do W.H. Auden. No texto, o eu lírico, lamentando a perda de uma pessoa querida, pede que o mundo dê uma pausa em sua continuidade.
Isso de querer que as coisas se importem conosco devido a uma dor que se tem está num trecho de “Ensaios de amor”, do Alain de Botton. Diz o narrador do livro: “Tal recusa de mudança era um lembrete de que o mundo era uma entidade independente que continuaria a funcionar estando eu apaixonado ou não, feliz ou infeliz, vivo ou morto. Eu não podia esperar que o mundo mudasse sua expressão de acordo com o meu humor, nem que os grandes blocos de pedras que formavam as ruas da cidade dessem a mínima para minha história de amor. Embora eles tivessem ficado felizes em acomodar minha felicidade, tinham coisas melhores a fazer do que caírem aos pedaços agora que Chloe tinha ido embora”.
A letra da canção “Virgem”, sucesso na voz da Marina Lima, diz: “As coisas não precisam de você”. Mesmo assim, talvez por um certo egoísmo ou por uma certa vaidade de que padecemos, parece-me inevitável querermos que o mundo reaja, seja como for, a fim de nos ajudar a suportar nossas dores. Ficamos a desejar que o mundo seja solidário conosco, ainda que estejamos, no fundo, cientes de que não há solidariedade, mas solidão.
Acima, mencionei o Auden. Encerrando esta postagem, compartilho linque que contém cena do filme “Quatro casamentos e um funeral” (1994), do diretor Mike Newell. Na sequência, o ator John Hannah, que interpreta Matthew, declama (legenda em português) a elegia “Funeral Blues”. As coisas não precisam de nós nem se importam com nosso destino. Diante disso, componhamos elegias ou canções.
Abaixo, com legenda em português, o texto do Auden, declamado no filme.
Lívio Soares de Medeiros
_____
W.H. Auden — Funeral Blues
Stop all the clocks, cut off the telephone,
Prevent the dog from barking with a juicy bone,
Silence the pianos and with muffled drum
Bring out the coffin, let the mourners come.
Let aeroplanes circle moaning overhead
Scribbling on the sky the message “He is Dead”.
Put crepe bows round the white necks of the public doves,
Let the traffic policemen wear black cotton gloves.
He was my North, my South, my East and West,
My working week and my Sunday rest,
My noon, my midnight, my talk, my song;
I thought that love would last forever: I was wrong.
The stars are not wanted now; put out every one,
Pack up the moon and dismantle the sun,
Pour away the ocean and sweep up the wood;
For nothing now can ever come to any good.
POR LAS CALLES
Sei que é ser cara de pau escrever um texto num idioma que não se domina. Dando provas de que sou cara de pau, arrisco meu primeiro (e, por certo, o último) texto em espanhol. Muito obrigado à professora Márcia Xavier, do IFTM Patos de Minas, pela revisão do texto.
_____
Tú haces tu camino.
Tu paso liviano es dadivoso.
Las calles están felices:
tú caminas por ellas.
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domingo, 21 de dezembro de 2014
"ENSAIOS DE AMOR"
Penso num Einstein, que aos vinte e seis publicou sua Teoria da Relatividade. Ou num Melville, que também aos vinte e seis, publicou seu “Moby Dick”. Ou num Rimbaud, que, ainda adolescente, já era poeta feito. Desde sexta-feira (19/12), tenho pensando em Alain de Botton, que, aos vinte e três, publicou “Ensaios de amor” (Botton está com quarenta e cinco).
Se você acredita no amor, leia “Ensaios de amor”; se você não acredita, leia. Se você gosta de chocolate com setenta por cento de cacau, leia “Ensaios de amor”; se gosta de chocolate com mais de setenta por cento de cacau, leia; se gosta de chocolate com menos de setenta por cento de cacau, leia. Espanta-me como alguém que tinha na época vinte e três anos escreveu um livro tão primoroso sobre o amor.
A edição que li foi publicada pela L&PM Pocket; a tradução é de Fábio Fernandes. Terminado o primeiro capítulo, na página 15, coisa demais já havia acontecido na história, a ponto de eu me perguntar: “Ei, o que mais há para contar?”. Nas primeiras páginas, o livro já continha humor, filosofia e lirismo. Logo no começo da leitura, eu já estava dando gargalhadas, estava refletindo, estava diante da poesia.
A convivência com o texto fluía tão agradável que antes mesmo de terminar a última página eu já estava louco para escrever esta resenha. À medida que eu ia lendo, eu ficava inebriado com, para me valer de uma expressão do advogado Manoel Almeida, a mão solta do autor. Penso no quanto De Botton se divertiu escrevendo “Ensaios de amor”.
Trata-se de um livro de praticamente dois personagens — o narrador e Chloe. Durante um voo, eles se conhecem. O resto você já sabe: eles se apaixonam, passam a viver juntos. O que você não sabe, caso não tenha lido o livro, é claro, é o monumento que Alain de Botton ergueu ao narrar o amor dos personagens.
“Ensaios de amor” é elegante, engraçado, poético, reflexivo. O amor, com suas dores, alegrias, dúvidas e risadas é descrito em capítulos breves; cada parágrafo de cada capítulo é enumerado, como se cada parágrafo fosse, por assim dizer, um apontamento. Tudo vale para que o narrador dê conta de traduzir o amor: filosofia, literatura, sociologia. O livro é um romance, mas é um tratado; é um tratado, mas é um romance.
É engraçado e é erudito: está cheio de piscadelas literárias; numa delas, por exemplo, num passeio que fazem à Espanha, Chloe passa mal. Ela é atendida por um médico chamado Saavedra.
O livro trata o amor de modo honesto. Não foge de suas agruras, de seus destemperos, de seus desatinos, de suas tristezas, de suas dores. Ao mesmo tempo, não se esquece dos pequenos grandes momentos que só o amor é capaz de propiciar. É um livro humano, densamente humano e... amoroso.
Numa feliz coincidência, li boa parte do livro ontem, dia do aniversário de Alain de Botton (só fiquei sabendo do aniversário dele ontem à noite, em pesquisa na internet). Tendo comprado a obra anteontem, anteontem mesmo iniciei a leitura; deliciei-me com ela ontem e terminei de lê-la em torno de 1h deste domingo. Foi uma surpresa receber um presente tão magistral.
sábado, 20 de dezembro de 2014
APONTAMENTO 228
Falar demais não significa ser eloquente.
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quinta-feira, 18 de dezembro de 2014
GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ, BILL CLINTON, FIDEL CASTRO
Quando Fidel Castro e Bill Clinton ocupavam o poder, Gabriel García Márquez, que era amigo de ambos, disse que a situação entre EUA e Cuba poderia ser melhorada caso os dois comandantes se encontrassem pessoalmente. Não tenho notícia se tal conversa efetivamente ocorreu. À parte isso, García Márquez declarou que os dois entender-se-iam caso conversassem face a face.
A convivência do escritor colombiano com poderosos (em especial com Fidel) era comumente criticada. Havia quem sugerisse que Márquez, nascido em Aracataca, pequena cidade na Colômbia, era apenas um adulto deslumbrado com o poder. Fascinado ou não pelo poder, o escritor atuou informalmente como uma espécie de diplomata, não somente na relação entre EUA e Cuba.
García Márquez não viveu para testemunhar o anúncio de Obama, feito nesta semana. Bill Clinton, em entrevista concedida dias após a morte do escritor, disse que Márquez lhe pedira, enquanto Clinton era presidente, que o embargo a Cuba tivesse fim. Em entrevista, o ex-presidente americano declarou que acreditava desfazer o bloqueio contra Cuba em seu segundo mandato.
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CRONOLOGIA DE UM ÊXTASE
Gosto de músicas e de canções com crescendos. Neste instante, o exemplo que me ocorre é “Talking out of turn”, da banda The Moody Blues. Refiro-me a crescendos a título de pretexto para falar mais uma vez de “Breakthrough”, do Tony Anderson, sobre quem escrevi em postagem de ontem.
Por natureza, trilhas sonoras criam um clima, uma atmosfera. Ainda assim, podem ser escutadas à parte, descontextualizadas dos filmes ou dos documentários para os quais são produzidas. Não conheço “Finding home”, o documentário para o qual “Breakthrough” foi composta; mesmo assim, tenho escutado, sem parar, a música.
Ela começa com um teclado sutil; aos dezessete segundos, vem a primeira nota de um piano (ou de um outro teclado). O teclado inicial continua fazendo o fundo, já dando um certo corpo ao clima. Aos cinquenta e cinco segundos temos o primeiro vocal (masculino). Com um minuto e catorze, um violão se junta ao arranjo; com um e trinta e quatro, vozes (femininas).
Com dois minutos e doze segundos, a bateria chega com peso; ao mesmo tempo, os violoncelos. Aos dois e vinte, o primeiro ataque do baterista. A essa altura, o som já é robusto, tem peso. O crescendo vai se aproximando do auge, que, aos dois e cinquenta, já pulsa forte nas veias. É quando corpo e mente se entregam numa explosão de prazer.
Alucinados e plenos de energia, usufruem dele; saciados, gozam do tempo que resta para que a música termine. Aos três e quarenta e oito, tem início o diminuendo. Corpo e mente descansam, pois não suportariam se o astral durasse demais. Quatro minutos e cinquenta e dois segundos depois, o êxtase está consumado.
APONTAMENTO 227
De vez em quando, sinto uma saudade desgraçada de muitas coisas e de muitas gentes e de muitos lugares. Em ocasiões assim, tenho saudade de tudo e de todos. Vontade de jamais me despedir nem de nada nem de ninguém. Dezembros me trazem essas saudades. São tantas e tão fortes, que até me esqueço de que janeiro está à porta. Volto-me para mim, volto-me para o passado. A saudade vai se ampliando, até o ponto em que tudo o que sou é uma saudade movente.
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quarta-feira, 17 de dezembro de 2014
TONY ANDERSON
A primeira vez em que escutei esta música foi num vídeo institucional de um restaurante local. Mal havia ela começado, eu me arrepiei. Mal tendo ela começado, eu já sabia que teria, de todos os modos, de descobrir o nome da música.
Como não há letra, tive de me valer do Shazam para descobrir o nome. Foi então que surgiram os caracteres: “Tony Anderson — Breakthrough”. A partir daí, o procedimento foi o usual: buscar informações sobre Tony Anderson, pesquisar o contexto em que “Breakthrough” está e tudo o mais.
A faixa é trilha sonora de um documentário chamado “Finding home”, sobre as vidas de três garotas que foram resgatadas da exploração sexual no Camboja. Anderson, que em sua página discorre sobre seu trabalho, comenta a feitura da trilha de “Finding home” neste “link”.
Deve haver uns três dias em que estou escutando a música o dia todo quase sem parar. Depois que ela termina, eu a escuto outra vez; depois, outra vez (enquanto digito estas palavras, eu a escuto)... Paralelamente, tenho navegado pela página de Tony Anderson, de cujos textos e de cuja música me tornei fã.
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terça-feira, 16 de dezembro de 2014
OBRAS-PRIMAS
Escutas a canção.
É tal o arranjo,
tal o tom, que,
em melódico momento,
uma obra-prima
escuta a outra.
Meu corpo se embala.
Entre as estocadas dele
e os gemidos teus,
ele segue o ritmo de
duas obras-primas.
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DEMOGRAFIA
Anita mora em Patos de Minas.
Quer se mudar para Uberlândia.
Paulo mora em Uberlândia.
Quer se mudar para Belo Horizonte.
Ana Cláudia mora em Belo Horizonte.
Quer se mudar para o Rio de Janeiro.
Alan mora no Rio de Janeiro.
Quer se mudar para São Paulo.
Sara mora em São Paulo.
Quer se mudar para Nova Iorque.
Tiago mora em Nova Iorque.
Quer voltar para Concórdia do Pará.
Gabriela mora em Concórdia do Pará.
É feliz onde mora.
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segunda-feira, 15 de dezembro de 2014
CARTA DO SUICIDA DO SÉC. XXI
#Parti
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domingo, 14 de dezembro de 2014
HAICAI 32
Pirilampo, vaga-lume.
Vago lume, facho sutil.
Luz em baixo volume.
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ATO
O que há num sonho?
O que a noite concebe o dia realiza?
Ou é a própria noite que se cuida
do que ela mesma engendra?
Sonhos não vêm com hora marcada.
Mas sonho não é ato.
Este se faz num tempo e num lugar.
Sonho precisa de investidas.
A que horas sairemos?...
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FOTOPOEMA 362
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sexta-feira, 12 de dezembro de 2014
CASA DOS CONTOS
Nunca mais se verão.
Caminhos distintos, distantes.
A vida os uniu num breve encontro.
Foi um só, foi único; não haverá outro.
Ficou uma foto — também única.
O momento foi celebrado.
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quinta-feira, 11 de dezembro de 2014
AMBIENTE
A vestal pode
estar na boate.
A maldade pode
estar no convento.
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VERBO E CARNE
Digo um monte de coisas.
Invento assunto, faço perguntas.
Até arrisco uma piada, um trocadilho.
Tantas e tantas palavras.
Tudo para desconversar o que
eu deveria dizer o tempo todo.
Assunto demais para silenciar
o que em mim é grandiloquente.
A mesma boca que fala o trivial
é a que deseja um beijo forte.
É muita palavra tentando abafar
o que, em chama, o coração quer.
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quarta-feira, 10 de dezembro de 2014
APONTAMENTO 226
As coisas são inefáveis. Mas é preciso escrever como se não fossem.
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SINTONIA FINA — EDIÇÃO 29
No ar, mais uma edição do Sintonia Fina, programa musical. A atração pode ser escutada a qualquer hora — basta dar “play”. Abaixo, a seleção musical desta edição.
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Meghan Trainor — All about that bass
Alceu Valença e Orquestra Ouro Preto — La belle de jour / Girassol
Nando Reis e Marisa Monte — Pra quem não vem
Paloma Faith — Only love can hurt like this
Plebe Rude — Até quando esperar (ao vivo)
O Berço — White winter hymnal
O Berço — Leoa
Pitty — Serpente
Robbie Williams — Go gentle
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terça-feira, 9 de dezembro de 2014
ENTRE OURO PRETO E MARIANA
As imagens desta postagem foram feitas no caminho entre Ouro Preto e Mariana. Não havia nada que eu pudesse usar como escala para que se pudesse ter um parâmetro do tamanho da queda d’água. Houvesse, por exemplo, uma pessoa na foto, poder-se-ia ter uma noção de grandeza; seria possível conceber, se não com exatidão, mas com uma noção mais ampla, a distância percorrida pelas águas desde quando começam a cair. Ainda assim, fiquemos com a imprecisão deste comentário: é uma cachoeira grande.
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IMAGEM E SOM
O trem me move.
Comovido, escuto, olho.
Mariana me recebe.
Sem sair do lugar, viajo.
Vou ficando, vou morando,
querendo namorar no
vagão dos sentidos.
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APONTAMENTO 225
O talento é que escolhe.
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quarta-feira, 3 de dezembro de 2014
APONTAMENTO 224
Dor de amor faz bem para a arte. Mas o artista é capaz de produzir o belo sem dor de amor.
POETA SÁDICO
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