O essencial W. H. Auden, numa de suas tiradas, escreveu num de seus ensaios que “algumas pessoas são inteligentes demais para se tornarem escritores”. Quando leio ou releio Wisława Szymborska (1923-2012), expressões como “que inteligência espantosa” sempre me ocorrem. A impressão que ela me passa é a de que tem uma inteligência inesgotável, por mais generalizado ou impreciso que algo assim possa soar.
Com a tradução de Regina Przybycien, a piauí deste setembro publicou alguns breves textos da autora polonesa. São eles respostas dadas por Szymborska a leitores que queriam seus textos publicados numa revista para a qual a escritora trabalhava. As respostas de Szymborska revelam mais uma vez brilhantismo e humor.
Um exemplo: “Não, não temos manuais de escrita de romances. Parece que nos Estados Unidos se publicam coisas assim, mas nos permitimos duvidar de seu valor, isso porque o autor que conhecesse uma receita infalível para o sucesso literário preferiria ele próprio se valer dela em vez de ganhar a vida escrevendo manuais. Simples, não é? Simples”.
Outro: “A falta de talento literário não é nenhuma desgraça. Pode acontecer a pessoas inteligentes, esclarecidas, nobres e extremamente talentosas em outras áreas. Quando dizemos que um texto é pobre, não pretendemos ofender ninguém nem lhe tirar a fé no sentido da existência. Mas, de fato, nem sempre proferimos o nosso julgamento com uma cortesia chinesa. Ah, os chineses. Esses sabiam, em tempos idos, antes da Revolução Cultural, responder aos poetas pouco afortunados. A resposta era mais ou menos assim: ‘Os seus poemas superam tudo que já foi e que ainda será escrito. Se fossem publicados, sob sua luz ofuscante empalideceria toda a literatura, e os outros autores que dela se ocupam sentiriam dolorosamente o seu próprio nada...’”.
O humor e a inteligência de Wisława Szymborska me deixam com vontade de ter sido amigo dela, ou de, pelo menos, ter tido a oportunidade de conviver com ela. Ao interagir com pessoas, ela era tão adorável quanto é no que escreveu? Nunca terei resposta para isso, mas a pergunta me ocorre. Algumas pessoas são inteligentes demais.
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