Assisti ao filme Hair (1979) quando eu tinha oito ou nove anos. Não entendi o enredo, não entendi a proposta, não entendi o contexto, não entendi a linguagem, não entendi nada. Depois, no fim da adolescência, fui trabalhar em rádio; a emissora tinha o álbum (salvo engano, LP duplo) com a trilha sonora do filme. Com frequência, eu executava “Aquarius”, cantada pela Melba Moore. Quando eu levava ao ar a canção, eu prometia a mim mesmo que assistiria novamente a Hair. Há pouco, quase quarenta anos depois do lançamento do filme, conferi novamente o musical. Que filmão! O diretor é Milos Forman; o roteiro ficou por conta de Gerome Ragni, James Rado e Michael Weller.
Toda obra de arte é fruto do período em que foi produzida. Hair, além de ser consequência do espírito de fim da década de 70, teve a intenção de levar às telas um retrato do que era esse mesmo período. Focando na crítica contra a guerra que os EUA deflagraram no Vietnã, Hair tem a intenção de se voltar para a mesma época que o produziu, desnudando-a. Conseguiu.
A cultura rebelde do período está no filme. Jovens se voltando contra a insana guerra no Vietnã se veem obrigados a embarcar para o conflito, de onde nem sabem se voltarão vivos. Foi natural que o cinema dos EUA voltasse suas lentes para o evento. Nessa visita, muita bobagem foi feita, mas Hair faz parte das obras-primas que abordaram o que ocorreu no Vietnã.
Numa época como a de agora, em que a caretice dá berros e se excita com o uso de cassetetes, Hair prova que envelheceu bem, mostrando-se necessário quando de seu lançamento e na atualidade. O libelo pacifista, com sua ode ao corpo, à música e à juventude, é um manifesto libertário conclamando ao amor. É tudo a que, por exemplo, um defensor de torturadores não quer assistir.
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