Um intelectual pode saber mais sobre determinado aspecto de um país do que um cidadão desse mesmo país, não importa qual ele seja. Assim, um italiano pode saber mais sobre Shakespeare do que um inglês, um austríaco pode saber mais sobre Machado de Assis do que um brasileiro.
Todavia, espera-se que a embaixada de determinado país saiba algo do território que representa. Mesmo assim, quando a embaixada da Alemanha no Brasil postou vídeo sobre o nazismo, os comentários de alguns brasileiros foram sintoma do que parte da população se tornou: um grupo que não se informa e que, em consequência, nega qualquer ciência ou qualquer evidência.
Houve brasileiros que, no perfil do Facebook da embaixada alemã, disseram que o holocausto... não existiu. Comentários desse naipe revelam a cegueira que a falta de conhecimento pode causar. O correspondente, fosse na física, seria dizer que a Terra não é redonda, o que muitos dizem, não só no Brasil. O problema é que a ignorância é raivosa; a mordida dela pode matar.
Casos como esse revelam um dos problemas do excesso de ignorância: ele atravanca o desenvolvimento por se agarrar a noções primárias, pueris. Uma coisa é uma criança de cinco anos se surpreender ao saber que o planeta que habita é redondo; outra é um adulto esbravejar e brigar por causa disso.
A ignorância torna-se inimiga da história, do óbvio, do outro. A ignorância é confortável, fugir dela dá trabalho. Ela não atrapalha somente os que a escolhem. A falta de sutileza quer que o Sol gire em torno da Terra ou que a história seja apagada e reescrita em caixa alta, com grunhidos, muitas onomatopeias e uma profusão de xingamentos, preconceitos e pontos de exclamação.
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