Erudição não gera talento, mas pode robustecê-lo.
quarta-feira, 29 de junho de 2016
terça-feira, 28 de junho de 2016
Em busca da imaginação
Padeço de mania de lógica. Há nisso algo que me parece mais hábito e treino do que essência. No que produzo, insisto na lógica, em as coisas fazerem sentido, em fazer com que sejam inteligíveis. Todavia, exagero. Só que estou acostumado a fazer as coisas com essa abordagem; não consigo dela me desvencilhar quando vou escrever ou quando vou fotografar.
Essa luta excessiva pela inteligibilidade começou na adolescência. Como tenho quarenta e cinco, estou pelo menos há uns trinta anos labutando para inserir sentido, coerência e lógica em tudo que cismo de criar. As vantagens dessa abordagem são evidentes; seria inconsequência entregar-me somente a patuscadas plenamente destituídas de sentido. Em contrapartida, nunca deixei de ter em mim que tenho busca exagerada pelo que faz sentido.
Nem sempre as coisas precisam ter sentido. Nada tira de minha cabeça que acabo tolhendo minha imaginação, de tanto buscar o que é lógico, sensato, calculado, medido, pesado. Peco por exagero de sistematizações. Não consegui achar equilíbrio entre imaginação e rigor mental. Sou seduzido demais pelos dois; acabo me entregando a apenas a um.
Tenho fascínio pelos prodígios que a imaginação é capaz de dar à luz. Sei apreciar o que não faz sentido (ou que pelo menos parece não fazer). O que não sei, talvez devido à minha mania de lógica, é criar o que não faz sentido (ou que pelo menos parece não fazer). Dando a ela tratamento de adulto, como resgatar aquela imaginação tão pródiga que tive na infância?
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segunda-feira, 27 de junho de 2016
O que se planta
A espera aqui fora.
A demora lá dentro.
Vale a pena quando
brota a semente.
Quando não brota,
vale a pena o semeio?
Só se tiver sido feito com amor.
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Quimera
De nada adiantam esses números
a indicar que há novas mensagens
se nenhum deles traz teu nome.
Se um deles trouxesse,
poderia trazer tuas palavras.
Elas poderiam trazer esperança.
Ela poderia te trazer.
O aplicativo exibe mais um número.
Não trouxe teu amado nome.
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Amor-alimento
O ato de cozinhar precisa de
pelo menos um amor:
o amor pela química que é
lidar com alimentos,
condimentos, utensílios.
Amor com tempero é gostoso.
Sem esse amor, cozinha-se.
Só que o amor é ingrediente
que passa de quem cozinha
para o que é cozinhado.
Amor transferido é gostoso.
Pode ser que além do amor
pela alquimia que se dá na cozinha,
cozinha-se para o amor que
se tem no coração.
É quando cozer tem especiaria
que vai de quem ama
para quem é amado.
Amor comido é gostoso.
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quinta-feira, 23 de junho de 2016
Palavras e roupas para um engodo
Quando se apoia uma causa, é preciso haver o exame consciente, maduro e sincero das motivações por trás desse apoio. Nem todo mundo tem consciência, maturidade e sinceridade para uma análise profunda. Além disso, há quem não assuma publicamente que o preconceito contra algo é o que pode levar alguém a defender seja o que for, seja quem for.
Nesse sentido, se uma pessoa é decididamente contra as causas de um candidato, ela apoiará quase qualquer coisa que venha do candidato oposto. Nesse estado de coisas, até os interesses democráticos podem sair de cena. Caso a pessoa não admita isso diretamente, ela pode, consciente ou inconscientemente, inventar pretextos frágeis para justificar sua escolha.
Não raro, essas pessoas alegam que seu candidato ou tem domínio do português ou é bonito. O mesmo discurso está na mídia: pouco depois do que o próprio Michel Temer chamou de golpe, o Noblat escreveu: “Uma coisa que eu jamais observara: como Temer é um senhor elegante. Quase diria bonito. A senhora dele, também”.
Para algumas pessoas, não importa se houve um golpe (repito: palavra que o próprio Temer usou), desde que o político a assumir o cargo seja bonito ou tenha curso superior; se for bonito e se tiver curso superior, melhor ainda. Como se aparência ou estudo fossem garantias de competência ou de espírito democrático.
Nem preciso dizer que este texto não é libelo contra os belos ou contra os que têm curso superior ou contra os que têm bom português. É sempre agradável olhar para uma pessoa bonita, é sempre ótimo quando alguém (não importa quem) tem a oportunidade de fazer faculdade, é sempre louvável o cuidado que se tem com o próprio idioma, seja ao escrever, seja ao falar. Todavia, nada disso pode ser salvo-conduto para que a pessoa empreenda um golpe (reitero: termo de que o próprio Temer se valeu) político.
No mais das vezes, discursos e entrevistas com políticos, no terreno das ideias, independentemente dos partidos a que estejam ligados, são carregados de lugares-comuns, de chavões, de obviedades. A oratória é habilidade das mais difíceis; não é um curso superior que a garante, não é o hábito de falar em público ou de dar entrevistas que a assegura. No todo, ou os políticos não querem se dedicar a ela ou não têm tempo para esse tipo de estudo.
Mesmo assim, a aparência de que se é convence mais do que de fato ser. Ternos caros, algumas sessões com publicitários e com fonoaudiólogo e ensaios de uma retórica salpicada aqui e ali de citações e de palavras “cultas” dão um verniz que pode ser engodo. Para um desavisado, o que fica é um discurso “chique”, coeso, “superior”, quando na verdade o que há é um desfile de clichês. Para o desavisado, trata-se da arte da palavra em sua essência, quando na verdade são apenas alguns truques ensaiados. A oratória depende de treino, mas é mais profunda do que manhas ditadas pelo marketing de algum político.
Não raro, alguns amigos comentam comigo sobre o inglês de alguns locutores de estações de rádio FM as quais se dedicam ao pop/rock. Esses amigos alegam que locutor de FM desse segmento deve ter inglês bom. Sempre digo que não, pois o mais importante na profissão, do modo como a encaro, não é o inglês. Ter carisma e estar bem informado contam muito mais. Se, além disso, o profissional tem o inglês bom, melhor ainda.
De modo análogo, pergunto: estar bem vestido, ter curso superior e parecer falar bem (ou de fato falar bem) são o mais importante para que a pessoa seja um político? Minha resposta: não. Se o sujeito é político em essência, se sabe se vestir bem, se é bonito e se tem curso superior, que ótimo! No mais, prefiro um Mujica andando de Fusca e vestindo roupas simples a um Temer bem vestido articulando o que ele mesmo chamou de golpe.
Nesse sentido, se uma pessoa é decididamente contra as causas de um candidato, ela apoiará quase qualquer coisa que venha do candidato oposto. Nesse estado de coisas, até os interesses democráticos podem sair de cena. Caso a pessoa não admita isso diretamente, ela pode, consciente ou inconscientemente, inventar pretextos frágeis para justificar sua escolha.
Não raro, essas pessoas alegam que seu candidato ou tem domínio do português ou é bonito. O mesmo discurso está na mídia: pouco depois do que o próprio Michel Temer chamou de golpe, o Noblat escreveu: “Uma coisa que eu jamais observara: como Temer é um senhor elegante. Quase diria bonito. A senhora dele, também”.
Para algumas pessoas, não importa se houve um golpe (repito: palavra que o próprio Temer usou), desde que o político a assumir o cargo seja bonito ou tenha curso superior; se for bonito e se tiver curso superior, melhor ainda. Como se aparência ou estudo fossem garantias de competência ou de espírito democrático.
Nem preciso dizer que este texto não é libelo contra os belos ou contra os que têm curso superior ou contra os que têm bom português. É sempre agradável olhar para uma pessoa bonita, é sempre ótimo quando alguém (não importa quem) tem a oportunidade de fazer faculdade, é sempre louvável o cuidado que se tem com o próprio idioma, seja ao escrever, seja ao falar. Todavia, nada disso pode ser salvo-conduto para que a pessoa empreenda um golpe (reitero: termo de que o próprio Temer se valeu) político.
No mais das vezes, discursos e entrevistas com políticos, no terreno das ideias, independentemente dos partidos a que estejam ligados, são carregados de lugares-comuns, de chavões, de obviedades. A oratória é habilidade das mais difíceis; não é um curso superior que a garante, não é o hábito de falar em público ou de dar entrevistas que a assegura. No todo, ou os políticos não querem se dedicar a ela ou não têm tempo para esse tipo de estudo.
Mesmo assim, a aparência de que se é convence mais do que de fato ser. Ternos caros, algumas sessões com publicitários e com fonoaudiólogo e ensaios de uma retórica salpicada aqui e ali de citações e de palavras “cultas” dão um verniz que pode ser engodo. Para um desavisado, o que fica é um discurso “chique”, coeso, “superior”, quando na verdade o que há é um desfile de clichês. Para o desavisado, trata-se da arte da palavra em sua essência, quando na verdade são apenas alguns truques ensaiados. A oratória depende de treino, mas é mais profunda do que manhas ditadas pelo marketing de algum político.
Não raro, alguns amigos comentam comigo sobre o inglês de alguns locutores de estações de rádio FM as quais se dedicam ao pop/rock. Esses amigos alegam que locutor de FM desse segmento deve ter inglês bom. Sempre digo que não, pois o mais importante na profissão, do modo como a encaro, não é o inglês. Ter carisma e estar bem informado contam muito mais. Se, além disso, o profissional tem o inglês bom, melhor ainda.
De modo análogo, pergunto: estar bem vestido, ter curso superior e parecer falar bem (ou de fato falar bem) são o mais importante para que a pessoa seja um político? Minha resposta: não. Se o sujeito é político em essência, se sabe se vestir bem, se é bonito e se tem curso superior, que ótimo! No mais, prefiro um Mujica andando de Fusca e vestindo roupas simples a um Temer bem vestido articulando o que ele mesmo chamou de golpe.
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quarta-feira, 22 de junho de 2016
... Assim falou Temer...
Michel Temer, presidente do Brasil, disse que havia restringido, em entrevista a Roberto D’Ávila, as viagens de Dilma Rousseff com aviões da Força Aérea Brasileira porque ela poderia usar o benefício “para fazer campanha denunciando o golpe”. Não estou usando a palavra “golpe”; ele, Temer, usou o termo. Na mesma entrevista, o presidente do Brasil elogiou Eduardo Cunha, dizendo que ele, Cunha, é um “batalhador no campo político e no campo jurídico”. Não elogiei Cunha; ele, Temer, elogiou.
Apontamento 336
O que escrevo é leitura fermentada.
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terça-feira, 21 de junho de 2016
Por favor, uma dose de nódoa
Estou lendo “La verdad de las mentiras”, do Mario Vargas Llosa. Além de uma bela introdução em que o escritor discorre sobre o paradoxo de que a literatura “mente” para trazer à tona verdades que de outro modo continuariam escondidas, o livro tem vinte e cinco ensaios sobre romances que marcaram o século XX.
Um dos ensaios do livro de Llosa é sobre “Mrs. Dalloway”, da Virginia Woolf. Septimus Warren Smith é nome de personagem criado por ela nesse livro. O enredo, que prima por aquela famosa aparente simplicidade de alguns grandes escritos, narra um dia da senhora Dalloway. A “monotonia” é quebrada por um evento drástico — o suicídio de Septimus Warren Smith.
A partir daí, escreve Llosa: “En alguna parte leí que un célebre calígrafo japonés acostumbraba macular sus escritos con una mancha de tinta. ‘Sin ese contraste no se apreciaría debidamente la perfección de mi trabajo’, explicaba. Sin la pequeña huella de cruda realidad que la historia de Septimus Warren Smith deja en el libro, no sería tan impoluto y espiritual, tan áureo y tan artístico el mundo en el que nació — y contribuye tanto a crear — Clarissa Dalloway”. O suicídio de Septimus Warren Smith “conspurca” a “pureza” da narrativa em “Mrs. Dalloway”. O personagem “estraga” o livro.
Tudo isso me remete ao Manuel Bandeira. Não somente por ele ter a aparente simplicidade a que já fiz referência, mas por ele ter expressado tão bem, com tão poucas palavras, que o espírito da poesia, por mais paradoxal que possa soar, é o de “estragar” as coisas, é o de “incomodar” as coisas. É curioso: a beleza precisa de uma “mancha”. No modo como encaro as coisas, isso vale até para a beleza física das pessoas. É preciso algo que “destoe”. Escreveu o Bandeira: “A poesia é a nódoa no brim”.
A história por trás da foto (92)
O Bruno Fontoura, cantor e compositor local, nos versos iniciais de “Despertar”, canta:
Faça tudo cedo.
Deixe todo enredo ficar pra trás.
O que se faz mais cedo
é muito menos peso pra se deixar.
E tudo que lhe causa medo,
será só mais algum brinquedo
e nunca mais vai causar.
Hoje, seguindo o belo “preceito” do Bruno, comecei a fotografar cedo. Trabalho no IFTM, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Triângulo Mineiro, campus Patos de Minas. Ontem, indo trabalhar, eu me arrependi de não ter levado a câmera comigo, pois o nascimento do dia, próximo ao horizonte, estava muito bonito. Ontem mesmo, eu havia decidido que hoje eu levaria o equipamento fotográfico.
Assim foi. Só que, saindo aqui de casa, mal tendo passado pelo portão que dá acesso à rua, percebi que a Lua estava no céu. Como ainda não estava muito perto do horizonte, eu soube que haveria tempo de eu chegar ao trabalho e fotografá-la de lá.
Assim foi. Próximo ao portão de entrada do IFTM, tirei a foto do Sol nascendo. Já dentro do instituto, minutos depois, tirei a foto da Lua, que, nesse momento, já se aproximava do horizonte.
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segunda-feira, 20 de junho de 2016
domingo, 19 de junho de 2016
O lugar
Em devaneio,
criei para nós um lugar.
Não havia espaço
entre os corpos.
Não era um
lugar geográfico definido.
Havia tu e eu.
Teu corpo é o lugar.
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O ataque ao vendedor de bananas
Em postagem anterior, já fiz referência à falta de capacidade de expressão de parte dos internautas. Incapazes de articular um discurso que tenha civilidade, partem para onomatopeias e memes que, em tese, deveriam substituir as palavras que não são capazes de produzir. No mais das vezes, esses memes e essas onomatopeias reforçam a falta de criatividade e a incapacidade de linguagem articulada e polida.
É claro que cada um posta o que quiser nas contas que mantém em redes sociais. Só que há quem, não satisfeito em exibir sua incapacidade em seus perfis, vai até o perfil do outro, não somente com a inabilidade de se expressar com gentileza, mas também com a intenção de agredir, muitas vezes só pelo outro ter emitido uma opinião discordante da do agressor.
Na falta de tato para o diálogo, parte-se para o ataque pessoal, ainda que esse ataque esteja disfarçado de falsas gentilezas ou de falsas brincadeiras. Desse modo, expressões como “você até que é inteligente” precedem os ataques, como se tais expressões, em si, já não fossem um ataque. Desse “você até que é inteligente”, pode-se deduzir “você não é muito inteligente” ou “minha inteligência é superior à sua, a ponto de eu perceber que você não é muito inteligente”. O emissor se coloca num nível de perspicácia mais elevado do que aquele que “até é inteligente”.
Numa típica construção que tem por objetivo atacar, não argumentar, uma típica frase poderia ser: “Você até que é inteligente, mas não sabe nada de política. Continua vendendo banana na sua feira que dá mais certo”. É claro que, depois de um comentário assim, haverá o retumbante “kkkkkkkk”, talvez numa tentativa de revestir a grosseria com (canhestro) senso de humor, como se o comentário tivesse sido uma brincadeira.
O segmento “você até que é inteligente, mas não sabe nada de política” pode ser interpretado como “eu, sim, tenho capacidade e inteligência para falar de política”. O segmento “continua vendendo banana na sua feira que dá mais certo”, antes de tudo, reforça a suposta incapacidade de ideias por parte de quem vende bananas, como se houvesse algo de inferior nisso; o trecho sugere: aquele que vende bananas não está, pela natureza de seu trabalho, apto a emitir opiniões políticas.
A paráfrase do comentário poderia ficar assim: “Eu sou mais inteligente do que você; por isso, eu, sim, estou apto a opinar sobre política. Você não passa de um vendedor de bananas, e vendedores de banana, exatamente por serem vendedores de banana, já mostraram que não são muito inteligentes. Se fossem, não estariam vendendo bananas”.
Afirmações como “você até que é inteligente, mas não sabe nada de política. Continua vendendo banana na sua feira que dá mais certo” revelam o que é prática diária em redes sociais e em comentários que são deixados em sítios de notícia. O que há é o desejo de agredir. Não há a mínima tentativa de compreensão do outro. Sem ideias, o agressor mostra os dentes, num discurso onomatopaico, preconceituoso, arrogante e animalesco.
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"Chove lá fora"
Até hoje, não sei se chove mais em “Cem anos de solidão”, do García Márquez, ou em “Blade Runner”, do Ridley Scott.
Enquanto isso, na plateia
Num mundo barulhento, perde-se a capacidade de fazer silêncio, de escutar. Num universo em que é cada vez mais fácil dizer, não importa o quê, não importa como, muitos emitem sons, poucos cultivam o silêncio ou a escuta.
No dia quinze de junho, no Teatro Municipal Leão de Formosa, conferi evento promovido pela escola Instituto Presbiteriano de Educação. Era uma apresentação com estudantes do nono ano e do ensino médio. O que me chamou a atenção foi exatamente a capacidade de escuta da plateia.
Não foram poucas as vezes nas quais estive em situações barulhentas quando deveria ter havido silêncio. Certa vez, em Belo Horizonte, em evento promovido por uma escola de lá, eu estava na plateia, com mais uns mil e quinhentos professores. No palco, uma bela e talentosa atriz realizava seu trabalho, atuando, cantando, dançando.
Num determinado momento da apresentação, ela para, encara o público: “Se vocês não fizerem silêncio, não há como eu entregar o texto pra vocês”. Por um lado, chamou minha atenção o uso do verbo “entregar”, que achei bonito na frase; por outro, considerei vexaminoso que se precisasse chamar a atenção de uma plateia composta basicamente por professores.
No dia quinze, no Teatro Municipal, constatei que ainda é possível haver a gentileza de se escutar a mensagem do outro. No caso específico de ontem, essa mensagem eram poemas que fizeram parte da apresentação realizada pelo Instituto Presbiteriano. Foi bonito conferir os alunos no palco, num dia em que a plateia também deu um show.
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domingo, 12 de junho de 2016
Sin gracia
Não falo espanhol, não domino o idioma. Isso não me impede de ser cara de pau. Como nesse caso o que não me faltou foi caradura, escrevi e gravei o texto.
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Cruzeiro derrota o Atlético
Atlético e Cruzeiro fizeram um jogo à altura da grandeza dos dois. Uma partida que daria uma média de gol a cada dezoito minutos. O Atlético começa vencendo, o Cruzeiro vira, o Atlético empata, o Cruzeiro faz. Não é pouco para um clássico, que geralmente se caracteriza por ser um jogo truncado, não raro sem graça. Não foi o que ocorreu há pouco no Independência.
O dado ruim da partida foram as expulsões, de modo que o Atlético terminou com dez jogadores; o Cruzeiro, com oito. Mesmo quando o Cruzeiro tinha nove em campo e o Atlético tinha dez, a partida já havia assumido feição de ataque contra defesa. Todo recuado, o Cruzeiro não conseguiu partir para o contra-ataque; mesmo na pressão, o Atlético não conseguiu ser eficaz. Pelo Atlético, Marcos Rocha foi expulso; pelo Cruzeiro, Bryan, Lucas e Lucas Romero (este, aos quarenta e sete do segundo tempo).
Fred logo deu provas de que é sempre um excelente investimento, fazendo um dos gols do Atlético, mesmo ainda não tendo se entrosado com o time. Do lado cruzeirense, o destaque foi Arrascaeta, que, mesmo não tendo feito gol, fez uma ótima partida, principalmente na jogada que realizou quando a Raposa conseguiu fazer o segundo gol.
As duas equipes não estão bem colocadas no campeonato. O torcedor cruzeirense mais exaltado, pelo menos por hoje, não vai se importar com isso; afinal, o Cruzeiro derrotou o Atlético no Independência e ainda empurrou o Galo para a zona de rebaixamento. O jogo, embora tenha sido bom, não deve deixar apagar a luz de alerta nas duas equipes, que muito precisam melhorar para buscar pelo menos estar entre os quatro primeiros colocados no fim do torneio.
Rafael Carioca, aos treze do primeiro tempo, marcou para o Atlético. Alisson, aos dezoito do primeiro tempo, empatou para o Cruzeiro. Riascos, após bela jogada de Arrascaeta, virou para o Cruzeiro, aos três da segunda etapa; aos dez, Fred empatou a peleja. Aos dezessete, Bruno Rodrigo marcou o terceiro do Cruzeiro.
sábado, 11 de junho de 2016
O selvagem e o civilizado
Há algo que me chama para a escuridão.
Longe dos prédios e das luzes das cidades,
o animal se regozija.
Há algo que me chama para as luzes.
Longe das árvores e do espírito do cerrado,
o cidadão se regozija.
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Florescências 2
Os “frutos” da árvore são os seguintes:
— Cien años de soledad — Gabriel García Márquez
— Obras completas (volume III) — Jorge Luis Borges
— The complete works — William Shakespeare
— Perfume — Patrick Süskind
— O planeta dos macacos — Pierre Boulle
— Dislexias — Lívio Soares de Medeiros
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Um tanto de gente
Somos tantos e somos uma só voz.
A redenção canta em nossas vozes.
Somos todos nós e cada um de nós.
Em permuta, criamos a redenção
e somos por ela criados.
Somos um e somos todos.
Ninguém deixa de ser quem é,
ao mesmo tempo em que
cada um é todos os outros.
É bom olhar para o outro
nesta manhã que (nos) irradia.
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Marília Gabriela no Facebook
Há pessoas que imprimem charme e elegância em tudo o que fazem. A rigor, há pessoas que são charme e elegância. Às vezes, charme, elegância e sensualidade. Essas coisas que ou se tem ou não se tem. É em vão de um momento para outro a pessoa dizer para si mesma “a partir de agora tenho sensualidade”, “a partir de agora sou uma pessoa carismática”. Não que eu duvide do poder do ser humano em modificar a si mesmo; esse poder existe.
Em contrapartida, há coisas que são naturais, natas, espontâneas; coisas que fluem, sem que a pessoa tenha de premeditar como será o próximo gesto, que inflexão dará à voz. Quando a pessoa tenta criar em si algo que não está, pelo menos, latente nela, o esforço é descomunal, a graça e a espontaneidade vão embora, o labor se torna penoso, cansativo. Melhorar aquilo em que temos facilidade já é trabalhoso o bastante. Em vez de passar o tempo tentando burilar o que é recalcitrante, mais prazeroso e compensador é lapidar o que em nós flui.
Tudo isso é para dizer que a Marília Gabriela é uma dessas pessoas que exalam charme, elegância e sensualidade em tudo o que fazem. É uma dessas pessoas que não erram no tom, seja pelo profissionalismo que têm, seja pelo talento imenso. Com a página dela aqui no Facebook não seria diferente. Tudo tem a “cara” dela, a elegância se mostra no cuidado com a estética, com as palavras.
Hoje em dia, isso não está ligado só a dinheiro. Se a pessoa não tem esse cuidado, se não tem esse capricho, não há nem dinheiro nem profusão de recursos técnicos que resolvam desinteresse, desleixo, falta de esmero ou de talento. Com um equipamento razoável são possíveis produções de extremo bom gosto. A popularização da tecnologia ampliou a possibilidade de produções caprichadas que podem ser feitas mesmo quando não se está nos grandes centros.
Se por um lado é verdade que uma pessoa como Marília Gabriela tem acesso aos melhores recursos e aos melhores profissionais, por outro, nada disso reverberaria no que ela exibe não fosse algo de sofisticado, bonito e talentoso que ela tem em si, mesmo antes de ter tido acesso a recursos tecnológicos. A página dela no Facebook é esta.
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"O ameaçado"
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quinta-feira, 9 de junho de 2016
A onda do mutum
Mutum é palavra
que ecoa cerrado afora.
Em certa madrugada,
as vibrações dela fizeram
estremecer a bateria do celular.
Eu digitei o texto.
que ecoa cerrado afora.
Em certa madrugada,
as vibrações dela fizeram
estremecer a bateria do celular.
Eu digitei o texto.
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O 7 a 1 que conta
O 7 a 1 que revela o que é a seleção da CBF é o da Copa do Mundo. O de ontem, contra o Haiti, não é um placar que reflita mudança de postura na entidade que comanda o que ocorre com o time de futebol que disputa competições oficiais. O paradigma que permanece na CBF é o de um modelo arcaico e atrelado a empresas que não se importam nem com o futebol nem com o torcedor.
Os que lucram com o que é a CBF e com o que ela fez do futebol brasileiro vão descontextualizar o 7 a 1 de ontem, fazendo com que ele tenha robustez que não tem. Parte da torcida, influenciada por essas mesmas empresas que lucram a partir do que a CBF produz, vai levar em conta a versão descontextualizada do 7 a 1 contra o Haiti.
Ainda mais que o 7 a 1 que de fato revela o que é a CBF e as empresas que gravitam em torno dela vai se distanciando no tempo. Quanto mais distante ele vai ficando, mais o esquema CBF-empresas-parceiras continuará lucrando a partir do já combalido e defasado futebol nacional.
Sou defensor do boicote dos torcedores quanto aos jogos promovidos pela CBF. Fico pensando em, por exemplo, um Flamengo x Corinthians em que não haja nenhum torcedor — justamente por ela, torcida, ter decidido não ir. Sei que isso nunca ocorrerá.
Pode haver estádios sem torcida; só que isso será decisão da CBF, não dos torcedores. Se a Confederação Brasileira de Futebol e os parceiros dela efetivamente quiserem, farão uma assepsia total; nesse cenário, pode não haver torcedor algum nos estádios durante as partidas.
Se for para haver “torcedores”, que sejam aqueles que não oferecem nem paixão pelo futebol nem críticas contra a CBF e seus parceiros. Num contexto assim, tudo seria reluzentemente limpinho. O mesmo tipo de limpeza pela qual prima a CBF e suas parceiras.
Os que lucram com o que é a CBF e com o que ela fez do futebol brasileiro vão descontextualizar o 7 a 1 de ontem, fazendo com que ele tenha robustez que não tem. Parte da torcida, influenciada por essas mesmas empresas que lucram a partir do que a CBF produz, vai levar em conta a versão descontextualizada do 7 a 1 contra o Haiti.
Ainda mais que o 7 a 1 que de fato revela o que é a CBF e as empresas que gravitam em torno dela vai se distanciando no tempo. Quanto mais distante ele vai ficando, mais o esquema CBF-empresas-parceiras continuará lucrando a partir do já combalido e defasado futebol nacional.
Sou defensor do boicote dos torcedores quanto aos jogos promovidos pela CBF. Fico pensando em, por exemplo, um Flamengo x Corinthians em que não haja nenhum torcedor — justamente por ela, torcida, ter decidido não ir. Sei que isso nunca ocorrerá.
Pode haver estádios sem torcida; só que isso será decisão da CBF, não dos torcedores. Se a Confederação Brasileira de Futebol e os parceiros dela efetivamente quiserem, farão uma assepsia total; nesse cenário, pode não haver torcedor algum nos estádios durante as partidas.
Se for para haver “torcedores”, que sejam aqueles que não oferecem nem paixão pelo futebol nem críticas contra a CBF e seus parceiros. Num contexto assim, tudo seria reluzentemente limpinho. O mesmo tipo de limpeza pela qual prima a CBF e suas parceiras.
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terça-feira, 7 de junho de 2016
Apontamento 335
Nunca em minha vida escrevi um texto longo, de maior fôlego. Mesmo assim, escrever é difícil. Claro que sei que um longo texto não é escrito de uma vez; a gente se serve do bolo quando ele já está pronto, mas, na escrita, as fatias são feitas com disciplina, aos poucos. De qualquer modo, nunca consegui servir um bolo grande. Texto grande ou texto pequeno, escrever é difícil.
Esboço, leio, releio, faço, refaço, corrijo, faço de novo, penso, repenso. A busca é a da excelência. Busca utópica, como muitas das buscas, mas que vale a pena, como algumas das buscas. Há casos em que o texto já vem pronto ou quase; também nessas ocasiões, escrever é difícil.
Nunca é fácil, mesmo quando simples, mesmo quando a temática não demanda análise acurada. Escrever é difícil, não importa o gênero, a ocasião, o astral em que estou. Mesmo quando tudo é favorável, é difícil. Para mim, é muito difícil.
Escrever é meu auge. Por isso, insisto. Pináculo truncado, cheio de regras bobas inventadas por mim e de limitações inevitáveis; existe a sensação de que nunca está como eu quero — paciência. Meu auge é assim, é com palavras, apesar de sempre me sentir aquém de algo que nem precisar ao certo o que é; tenho consciência do absurdo disso.
Batuco no teclado, tento organizar o pensamento num rigor mais idealizado do que atingido. O que fica pronto é o melhor que posso fazer de mim; isso é razão para que, mal acabado um, eu já comece a pensar no próximo, que será feito com dificuldade.
Esboço, leio, releio, faço, refaço, corrijo, faço de novo, penso, repenso. A busca é a da excelência. Busca utópica, como muitas das buscas, mas que vale a pena, como algumas das buscas. Há casos em que o texto já vem pronto ou quase; também nessas ocasiões, escrever é difícil.
Nunca é fácil, mesmo quando simples, mesmo quando a temática não demanda análise acurada. Escrever é difícil, não importa o gênero, a ocasião, o astral em que estou. Mesmo quando tudo é favorável, é difícil. Para mim, é muito difícil.
Escrever é meu auge. Por isso, insisto. Pináculo truncado, cheio de regras bobas inventadas por mim e de limitações inevitáveis; existe a sensação de que nunca está como eu quero — paciência. Meu auge é assim, é com palavras, apesar de sempre me sentir aquém de algo que nem precisar ao certo o que é; tenho consciência do absurdo disso.
Batuco no teclado, tento organizar o pensamento num rigor mais idealizado do que atingido. O que fica pronto é o melhor que posso fazer de mim; isso é razão para que, mal acabado um, eu já comece a pensar no próximo, que será feito com dificuldade.
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Apontamento 334
Há um bem e uma calma advindos da convivência com a natureza. Aves cortam o silêncio de tempos em tempos, um teiú atravessa empoeirada estrada do cerrado, cobras se esgueiram mato afora, um gavião estraçalha a presa; mais tarde, uma revoada de garças aterrissa perto de uma lagoa. Uma vez deixada a civilização, a princípio, repara-se no ambiente. Depois, com o hábito, tem-se uma atenção diferente daquela inicial. Quando isso ocorre, já se está num estágio em que não há a mais a separação ou a distinção entre nós e natureza “lá fora”. Há uma serenidade que é consequência de quando nos apercebemos de que somos, antes de tudo, mais um bicho da natureza.
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Vide o verso
Toda vez em que
não te digo o que
meu coração quer
que eu te diga,
crio em mim
pequenas mortes.
Este versos provam
que não quero
mais me matar.
não te digo o que
meu coração quer
que eu te diga,
crio em mim
pequenas mortes.
Este versos provam
que não quero
mais me matar.
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Poesia
sábado, 4 de junho de 2016
Apontamento 333
Ter razão sozinho, dependendo do ambiente em que a pessoa esteja, pode fazer com que ela se volte contra todos. É preciso saber ter razão, o que é difícil. Em muitas situações, é melhor calar a razão que se tem, o que não é o mesmo que comodismo nem subserviência. Todavia, há algo pior do que ter razão sozinho, que é se voltar contra todos mesmo quando se está errado sozinho.
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sexta-feira, 3 de junho de 2016
Apontamento 332
O arrebatamento pode nos levar à convivência. Por si, embora o arrebatamento possa dizer muito no momento em que ocorre, isso não quer dizer que ele vá reverberar no futuro ou que nos levará a mudança significativa.
Mudanças importantes são trazidas pela convivência. O arrebatamento pode causar a vontade de convivência, mas, sem ela, coisas transformadoras não frutificam. A emoção produzida pelo arrebatamento fica na memória. Por mais significativa que seja essa memória, é a convivência que solidifica o que o arrebatamento causa.
Além do mais, a convivência tem um poder — ela pode fazer com que, mesmo sem ter havido um arrebatamento inicial, algo sólido e crucial seja edificado. Basta dizer que não há amor sem convivência. É ela que leva ao amor ou ao prazer do exercício de uma profissão... É notório que ela pode desaguar em desgaste, mas não há como haver plenitude sem haver convivência.
Mudanças importantes são trazidas pela convivência. O arrebatamento pode causar a vontade de convivência, mas, sem ela, coisas transformadoras não frutificam. A emoção produzida pelo arrebatamento fica na memória. Por mais significativa que seja essa memória, é a convivência que solidifica o que o arrebatamento causa.
Além do mais, a convivência tem um poder — ela pode fazer com que, mesmo sem ter havido um arrebatamento inicial, algo sólido e crucial seja edificado. Basta dizer que não há amor sem convivência. É ela que leva ao amor ou ao prazer do exercício de uma profissão... É notório que ela pode desaguar em desgaste, mas não há como haver plenitude sem haver convivência.
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