terça-feira, 30 de setembro de 2014

O "FILÓSOFO" E O PALHAÇO

Em tempos de Levy Fidelix, Tiririca escreve: “Dizem que sou burro mais [sic] pelo menos não falo bobagem que nem certos candidatos… sou a favor do amor e cada um deve viver feliz!!! Triste em saber q sou do mesmo país d quem tem ódio quando fala dos gay.. já dizia mamonas assassinas abra sua mente gay também é gente!!!!”. Comparando-se o que disse na Record o Fidelix com o que divulgou no Twitter o Tiririca, teríamos então a situação em que Tiririca foi, sem ironia, o pensador; Fidelix, no sentido pejorativo do termo, o palhaço.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

SHOW COM A BANDA BENDZ EM PATOS DE MINAS

A banda Bendz, que é de Araxá/MG, esteve novamente aqui em Patos de Minas no sábado (27/09). Não há como ficar indiferente a eles. Ainda que por ventura não se goste do trabalho deles, não há como não perceber a atmosfera que criam em seus shows — é a segunda apresentação da banda que confiro aqui em Patos. Eles se se divertem enquanto tocam. Gostam de rock, e o executam com energia. Bendz é entrega; a entrega deles contagia. A curtição começa neles e desemboca na plateia. A banda Bendz nos deixa, sobretudo, com a certeza de que viver sem rock é muito chato.










AMBIDESTRO

Na esquerda, 
a ternura; 
na direita, 
a força.

Na esquerda, 
a pegada; 
na direita, 
a delicadeza.

Inteiro, 
completo-te. 

domingo, 28 de setembro de 2014

CEM ANOS DE VICENTE NEPOMUCENO

Vicente Nepomuceno completou cem anos. A esposa dele, Maria de Lourdes Nepomuceno, tem oitenta e oito. Estão juntos há setenta anos. Alguns instantes das celebrações de ontem e de hoje estão nesta postagem.

























sábado, 27 de setembro de 2014

CERRADO AFORA

A banda O Berço, na faixa “Leoa”, canta: “Sei que é longo o caminho pro cerrado afora”. Sim, é. Também por isso, merece ser percorrido. 

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

PREFIXO

Político.
Apolítico.

Típico.
Atípico.

Teu.
Ateu.

Não.
Anão.

Sentir.
Assentir.

Lívio.
Alívio. 

ESTILO

Sim, companheiros,
é a luta de classes.
Lutemos com classe. 

CORPORAL

Uma ideia 
precisa de 
um corpo. 
Meu corpo 
abriga uma ideia. 

Um corpo 
precisa de 
uma ideia. 
Minha ideia 
habita um corpo.

A caneta deixa fluir uma ideia.
O papel a torna corpo. 

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

APONTAMENTO 218

Transmissão do SporTV comentou que jogadores do futebol brasileiro usam GPS, para que dados sobre os atletas sejam coletados e analisados depois. Não há tecnologia que dê conta do engessamento a que os “doutores” submeteram o futebol nacional. 

ESTIAGEM

Não é Deus que faz chover: 
talvez sejam os homens
que façam não chover. 

APONTAMENTO 217

Não há um só segundo de minha vida em que minha timidez desapareça. Ainda assim, há momentos em que ela parece não existir. Nessas ocasiões, estou escrevendo. 

FOTOPOEMA 357

Danilo Mota tirou a foto desta postagem. Quando vi o registro, postado pelo amigo Ciro no Facebook, achei a imagem sugestiva demais. De imediato, senti vontade de escrever algo, deixando-me levar pela cena. A garota, Líris, é filha do Ciro. 

INCISIVO

A mula.
A bula.
A sula.
A fula.
A gula.

Anula
tudo:
rasga
a bula,
deixa 
a sula,
larga
a fula,
mata
a gula.

E pica
a mula. 

terça-feira, 23 de setembro de 2014

PONTUAÇÃO

Tenho perguntas. 
Só perguntas. 
Para não cair 
em mesmice, 
insiro 
ponto de interrogação 
em algumas. 

APONTAMENTO 216

É melhor uma inquietude estática do que uma pasmaceira ambulante.

"DEMISSÃO"

O que eu acho mesmo 
é que o amor deveria ir 
para o olho da rua.

Não te alcança 
este meu amor que 
se cala entre paredes. 

DE OLHO

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

O LACAIO DA GLOBO

Caio Ribeiro é um bibelozinho da Globo. Esse rapaz já foi longe; com seu bom-mocismo asséptico, monótono e servil, tem tudo o que é necessário para ir mais longe ainda. Sobre o berro do Sheik de que a CBF é “uma vergonha”, o comentarista global disse que é preciso “ter respeito à hierarquia, por mais que você não concorde”. Caio sabe não somente o que é o respeito: ele sabe também o que é a vassalagem. O Cazuza cantou: “Na moda da nova idade média / Na mídia da novidade média”. 

UM LUGAR

“Como todo possuidor de uma biblioteca, Aureliano se sabia culpado de não conhecê-la até o fim”. Esse Aureliano não pertence à estirpe dos Buendía, mas à imaginação do Borges. Ademais, não importa se é Macondo, não importa se é um ponto numa casa em Buenos Aires ou se é uma calçada em Joinville. São lugares. E o que há num lugar? “O que há num nome?”. 

CONTO 70

Pedro Martins havia chamado Lauro Silva para um duelo. Mal acabara de dizer as palavras desafiadoras, arrependera-se. Enquanto a vida de Lauro ia embora no sangue que lhe saía farto da garganta, Pedro pediu desculpas para o oponente, não pelo balaço desferido, mas pelo medo que tinha em si quando pressionara o gatilho. 

"COMPRE! COMPRE! COMPRE!"

Sempre digo que o H.G. Wells foi o inventor da publicidade e da propaganda. Digo isso por causa do livro “Tono-Bungay”, que é de 1909. Nele, Wells narra maracutaias de um comerciante na divulgação de elixir que não passa de panaceia. Há diálogos do livro que poderiam estar na boca de qualquer publicitário dos dias de hoje.

Questões políticas são discutidas, bem como os hábitos da sociedade inglesa da época. Mesmo assim, principalmente no primeiro terço do livro, é muito bom acompanhar Edward Ponderevo, o fabricante do Tono-Bungay, expressando a falta de escrúpulos quando se trata de divulgar seu “remédio”.

É óbvio que a publicidade e a propaganda estavam, quando o livro foi publicado, longe dos recursos técnicos de que dispõem hoje; incipientes, não tinham ainda a nomenclatura atual. “Tono Bungay” é rico por mostrar que há cem anos a mentira e o dolo já estavam presentes na imagem que se divulgava de um produto. Não é de hoje que vendem para nós a ideia de que comprar é a redenção para as tragédias que continuam inventando para nós. A cura está sempre numa mercadoria ou num serviço.

A edição que tenho foi publicada pela Francisco Alves; é de 1990. A tradução é de Maria Elizabeth Padilha; Gian Calvi foi o responsável pela capa, que, em bela ideia, foi concebida como se ela, a capa, já fosse um anúncio do Tono-Bungay. 

domingo, 21 de setembro de 2014

SOBRE UMA FOTO

Nem sempre é possível precisar os motivos pelos quais se gosta de um trabalho. Quando alguém gosta do próprio trabalho, é mais difícil ainda desvendar os mecanismos dessa preferência, pois é possível haver uma série de razões pessoais, que podem ser conscientes ou inconscientes. É melindroso analisar o próprio trabalho, ainda que haja tentativa de critérios objetivos.

Em virtude disso, não gosto de emitir preferência acerca do que fotografo; além do mais, isso poderia soar como cabotinice. Gosto, sim, de escrever ou de teorizar sobre a fotografia como um todo. Ainda assim, permito-me um instante de condescendência em relação a mim mesmo para afirmar que gosto desta foto. Está dentre as imagens que mais gostei de ter feito.

O registro foi feito no dia vinte e sete de dezembro de 2006. Lembro-me de onde eu estava e da árvore em que o pássaro estava. Houve um único disparo. Quando tirei a foto, o fotografado pareceu se assustar com o barulho do obturador, indo embora logo após. Já no visor da câmera, uma Canon EOS 20D que tive, gostei da imagem.

P.S.: o nome do pássaro é saíra-de-chapéu-preto. O nome científico: nemosia pileaTA. 

ATLÉTICO/MG VENCE O CRUZEIRO

O Cruzeiro teve mais posse de bola, criou mais, acertou a trave... Como o que conta é a bola na rede, nesse critério, o Atlético foi melhor. Após o novo Mineirão, e após o Atlético passar a jogar no Independência, é a primeira vez que o visitante vence o anfitrião. 

No time do Cruzeiro, alguém precisa dizer para o Éverton Ribeiro que futebol é esporte coletivo. Até as traves sabem que ele sabe jogar bola, mas o jogador tem sido muito individualista. Não raro, tem perdido a bola e deixado a equipe encrencada. 

A tarde cruzeirense só não foi pior em virtude de o Corinthians ter vencido o São Paulo por três a dois, o mesmo placar pelo qual o Cruzeiro foi derrotado. A diferença entre o líder e o segundo colocado continua sendo de sete pontos. Com o resultado de hoje no Mineirão, o Atlético está na quinta posição. 

sábado, 20 de setembro de 2014

LOA

Escrevo-te não só para louvar tua beleza. 
De algum modo, quero ficar em tua vida. 
Escrevendo, penso ficar. 
Se não fico, terei escrito. 
Se escrevi, louvei tua beleza. 

RECÍPROCO

Cheguei a pensar que eu era egoísta 
por te amar em virtude de saberes o que sou. 
Mas me disseste que me amas 
por eu saber o que és. 
Queres saber?: 
sei o que és, 
sabes o que sou. 
Amemo-nos. 

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

CIVIL

Foi-se o
súdito.
Como que
súbito,
surgiu o
cidadão. 

UMA BARATA!

Todo mundo sabe que baratas têm o dom do voo. Não sei se o passeio delas pelos ares é gracioso. Sei que sabem voar. Do que não sei também, é do motivo que as fazem voar tão pouco. Eu, por exemplo, se tivesse asas, pouco ia querer saber de chão. Quanto às baratas, talvez a autonomia de voo com que a natureza as fez permita com que elas fiquem apenas alguns segundos no ar.

Já observei que quando está fazendo calor elas aparecem em maior número e saem voando por aí. Pouco depois da meia-noite desta quinta-feira, enquanto eu assistia a um filme, uma barata entrou voando pela janela. A princípio, nem me dei conta de que fosse um dos integrantes da família dos blatídeos. Só depois de ela pousar no sofá em que eu estava deitado é que percebi ser mesmo uma barata.

Levantei-me correndo (eu estava deitado no sofá) e já fui pegando o chinelo para matá-la. Só que ela continuou passeando por onde eu estava deitado. Desse eu uma chinelada no inseto enquanto ele ainda estava no móvel, eu teria de limpar a meleca depois. O jeito foi me aproximar, na esperança de afugentar a barata para um lugar em que eu pudesse esmagá-la com o chinelo.

A danadinha, sacando minha intenção, só deu uma piscadinha e se esgueirou literalmente para dentro do sofá, usando uma fresta disponível entre o encosto e o local em que a gente se senta. Confesso que ela me deixou desconsertado, pois tão logo se escondeu, eu soube que eu não voltaria a me deitar no sofá enquanto de dentro dele ela não saísse.

Já irritado com o joguinho proposto por ela e com o “calor ensurdecedor”, conforme disse no Linha de Passe, na segunda-feira, o Mauro Cezar Pereira, citando alguém de que não me lembro, fiquei alguns segundos parado, na esperança de a barata sair do esconderijo. Isso ocorreu; contudo, mal dei alguns passos, ela voltou para dentro do sofá.

Houve um tempo em que existia inseticida aqui em casa; de olho na entrada da toca em que a barata estava, afastei-me um pouco e olhei para a direção em que antigamente ficava o frasco de inseticida. Nem sinal dele. Já um tanto conformado, comecei a recolher os itens de que eu precisaria pela manhã, quando saísse para o trabalho; resignado, já havia decidido que terminaria de assistir ao filme, que estava sendo executado por intermédio de um “notebook” conectado à TV, numa outra ocasião.

Foi quando nossa amiga deu as caras outra vez. Fiquei então imóvel, sem respirar, na esperança de que ela saísse do sofá — o que ocorreu. Tendo ela começado a percorrer a parede, agi rápido e dei uma chinelada... Não acertei em cheio; a barata caiu no chão, só que atrás do sofá, que fica encostado na parede. Fiquei com a impressão de ter atingido parcialmente o inseto voador, embora sem a certeza de que havia sido mesmo assim.

Aguardei alguns minutos; a barata não aparecia. Decidi então recolher uma camisa, que estava sobre um sofá menor, e o “notebook”. Foi quando a barata, toda buliçosa, começou a desfilar outra vez pela parede. Tinha um aspecto ótimo. Parecia não ter sido parcialmente atingida minutos atrás. Mas se não havia sido, por que caiu? Seria manha dela?

À parte cogitações inúteis, fiquei quieto, a fim de assuntar para onde ela iria. Foi até o teto, aproximou-se do canto da parede e começou a descer. Agi rápido. Antes que ela pudesse pensar em algo, apliquei impiedosa chinelada: foi tão eficaz que foi como se a barata nunca tivesse existido. 

terça-feira, 16 de setembro de 2014

ALGUMAS RAZÕES PELAS QUAIS VOTO EM DILMA

(Os dados abaixo foram extraídos de um texto escrito por Pablo Villaça.)

 • PIB (em bilhões de reais)
2002 — 1.477
2013 — 4.837
Fonte: Ipea

• Falências requeridas
2002 — 19.891
2013 — 1.758
Fonte: Ipea

• Inflação
2002 — 12,53%
2013 — 5,91%
Fonte: Ipea

• Desemprego (percentual) no mês dezembro
2002 — 10,5
2013 — 4,3
Fonte: Ipea

• Salário mínimo (em reais)
2002 — 364,84
2014 — 724,00
Fonte: Ipea

• Taxa de pobreza (percentual)
2002 — 34%
2012 — 15%
Fonte: Ipea

• IDH
2000 — 0,669 
2005 — 0,699
2012 — 0,730
Fonte: jornal O Estado de São Paulo

• Gastos públicos com saúde (em reais)
2002 — 28 bilhões
2013 — 106 bilhões
Fonte: orçamento federal

• Gastos públicos com educação (em reais)
2002 — 17 bilhões
2013 — 94 bilhões
Fonte: orçamento federal

• Entre 1994 e 2002, houve 48 operações da Polícia Federal; entre 2003 e 2012, houve 1.273 operações.

(A seguir, mais alguns motivos pelos quais voto em Dilma; as razões abaixo não foram extraídas do texto de Pablo Villaça.)

• “O brasileiro vai melhor do que antes, há mais empregos, seu salário melhorou, as políticas sociais melhoraram. O motor da economia é, e sempre foi, o mercado interno. A novidade não está no andar de cima, com seu consumo de elite. A novidade está no ingresso de dezenas de milhões de brasileiros no mundo do consumo, alimentando um mercado de produtos de massa (...), gerando emprego”.
Fonte: Silvio Caccia Bava, em editorial do Le Monde Diplomatique de julho de 2014.

• “O aumento de renda nos estratos mais pobres melhora radicalmente o progresso social em geral. Em outras palavras, o dinheiro que vai para a base da sociedade é muito mais produtivo em relação aos resultados para a sociedade, o que bate plenamente com as pesquisas do Ipea sobre a produtividade dos recursos”.
Fonte: Ladislau Dowbor, em texto no Le Monde Diplomatique de julho de 2014.

• Pela redução em 50% do número de pessoas que sofrem fome.
Fonte: UOL — 16/09/2014

• Pela continuidade do Mais Médicos.

• Pela continuidade das cotas em universidades.

• Pela continuidade do Bolsa Família.

• Pela continuidade do Ciência sem Fronteiras.

• Pelo fato de o Brasil, há doze anos, não mais pedir socorro ao FMI.

• Pelo não abandono do pré-sal.

• Pelo Marco Civil da Internet.

• Por acreditar que, com Dilma, não haverá fundamentalismo religioso no poder. 

domingo, 14 de setembro de 2014

MALOGRO

Deu com
os churros n'água. 

DICIONÁRIO (39)

quiromancia. O destino na alma da mão. 

COM SAL

Isso ainda vai dar
pane pra manga. 

AINDA SOBRE O RACISMO

Há uma crônica que li há algum tempo (acho que é do Verissimo); ela tem um diálogo mais ou menos assim:

— Ei, cara, há um tempão a gente não se vê. E a sua mãe, ainda trabalha na zona?
— Sim, ela ainda está lá, aprendendo com a sua.

Depois do breve diálogo, os dois amigos se abraçam e se despedem um do outro.

O que um amigo diz para outro ou o que um casal diz durante diálogo não é encarado seja como preconceito seja como xingamento por se levar em conta o contexto em que o “xingamento” é feito. Não faria sentido acusar a namorada de um negro de racismo se a ouvissem dizendo para ele, de modo insinuante, algo assim: “Gorila, vamos sair daqui agora?...”.

O que difere o xingamento de torcedores racistas do diálogo entre um casal ou do diálogo entre amigos é o contexto; as palavras podem até ser exatamente as mesmas. O tom, o contexto e as intenções são, todavia, diferentes. Atitudes como a dos torcedores que xingaram o goleiro Aranha, do Santos, desmascaram o mito da tão propalada democracia racial no Brasil, escancarando algo que o discurso nega: em palavras, divulga-se que o Brasil não é racista; em atos, o racismo viceja.

No imbróglio com Patrícia Moreira, a torcedora do Grêmio que xingou goleiro do Santos, quem se portou com dignidade foi ele. Não somente por ter denunciado Patrícia e outros torcedores ainda durante a partida, mas também por ter se negado a participar de circo midiático em que Aranha e Patrícia estariam juntos, numa armação hipócrita que por certo teria um discurso politicamente correto de que não há racismo no Brasil.

Em desdobramento recente, um eletricista chamado Elton Grais tentou incendiar a casa de Patrícia (não havia ninguém no local no momento da tentativa, pois a torcedora está em casa de familiares). Chamado, o corpo de bombeiros domou as chamas antes que tomassem conta do local. Grais, que declarou ter se sentido “ofendido” com o xingamento de Patrícia, caiu em desatino ao tentar justiçar o desatino da torcedora gremista. 

(DES)APONTAMENTO 11

Acho que foi o Mark Twain quem declarou que a gente pode escrever de graça por até dois anos. Terminado esse tempo, caso ninguém tenha se predisposto a pagar pelos textos, deve-se parar de escrever. 

Então eu deveria ter parado de escrever há vinte e três anos! 

sábado, 13 de setembro de 2014

ASSERTIVO

Fazer justiça
com os próprios nãos. 

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

(DES)APONTAMENTO 10

Algumas questões dispensam menores comentários.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

CALA A BOCA, PELÉ!

O que se passa na cabeça do Pelé?! Hoje, a mais recente declaração “genial” dele foi a de que o Aranha (goleiro do Santos), que sofreu ofensas racistas lá em Porto Alegre, durante uma partida contra o Grêmio, “se precipitou” ao reagir contra quem o chamou de macaco. Edson Arantes do Nascimento disse ainda que cansou de ser tratado assim e que nunca reclamou.

A burrice pode estar num jogador de futebol ou em alguém com pós-doutorado. Isso, compreendo. O que não entendo é: será que o Pelé não tem ninguém que lhe diga que ele deveria calar a boca?! Vá lá que o amigo ou o assessor de imprensa ficasse sem jeito de dizer a Pelé para calar a boca... Que se valesse então de um eufemismo, dizendo algo do tipo “Pelé, acho que você deveria guardar suas opiniões para si”. Ou então: “Pelé, vamos analisar com calma o problema?”...

Ou será que o Pelé é turrão? De repente, não escuta aqueles que querem o bem dele (suponho que muita gente queira o bem do falastrão). Se Pelé não for cabeça-dura, será ele uma daquelas pessoas que se sobressaem gigantescamente em uma atividade mas não têm o menor senso para os demais afluentes das relações humanas?... Será que a natureza “obrigou” Pelé a saber fazer somente uma coisa na vida?... Será que ele não é capaz de se calar?... 

BRONZEADO

Tapou o sol
com a peneira.

RECIPROCIDADE

Sou teu fã.
Sou teu afã. 

terça-feira, 9 de setembro de 2014

FIM DE SEMANA

A vida traz o encontro.
O encontro pode trazer o amor.
O amor pode trazer a união.

Vamos nos encontrar hoje à noite?... 

CASA

Em mãos,
um livro:
ler é lar. 

APERTO

O sapato é novo.
Vinda do pé castigado, 
brada a voz insistente: 
“Não me calo”. 

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

O TUCANO É UM ANIMAL POLÍTICO

Tenho fotografado a fauna e a flora do Cerrado desde 2004. De algumas espécies, aprendi, mediante observação, alguns hábitos. O fotógrafo de natureza acaba se tornando uma espécie de etólogo amador; a etologia estuda o comportamento dos animais.

A vida dos tucanos não é fácil. Algumas pessoas matam essas aves, sob a justificativa de que elas se alimentam de ovos e de filhotes de outras espécies. Se por um lado isso é verdade, por outro, deveria haver a compreensão de que os tucanos não comem os filhotes de outras aves por maldade; eles não deveriam ser mortos por obedecerem ao ciclo da natureza.

Nesse caso, a maldade atribuída a eles é, na verdade, de quem os mata. Além do mais, conforme o que tenho observado ao longo dos anos, os tucanos sofrem perseguições severas de tesourinhas e de bem-te-vis. Repare no voo dos tucanos; você perceberá que muito frequentemente são acossados por outras aves, as quais, por certo, estão preocupadas com suas crias.

Não bastassem esses certames por que passam os tucanos, há uma espécie em Minas Gerais que padece de outros problemas. A ave não foi ainda devidamente catalogada por cientistas; sabe-se, em contrapartida, que o espécime mineiro tem por hábito censurar e atacar quem dele discorda.

Pesquisadores já entenderam que um dos estratagemas da espécie é se fazer de vítima. Diz que é atacado; a seguir, ataca. Os que estudam esse tipo de tucano afirmam que essa retórica passou a ser adotada quando a ave percebeu que nem todo mundo em Minas Gerais (e no Brasil) é lacaio de seus caprichos e pitis. 

Há uma reação que não presenciei, mas é algo que já me foi relatado por colegas fotógrafos: quando confrontado ou criticado, a ave, em vez de argumentar, eriça as penas, arvora-se, infla-se de aparente senso de justiça e processa quem dele discorda. Depois, segundo colunistas sociais cariocas, o tucano vai para o Rio de Janeiro. De acordo com biólogos, esse comportamento deve ocorrer pelo fato de o tucano não se adaptar bem com a suposta pacatez das noites mineiras.

Há estudiosos que não descartam a possibilidade de que a espécie tem agido com estardalhaço por se sentir ameaçada nos combates em que depende da aprovação de terceiros. Seria, ainda de acordo com os eruditos, uma cartada desesperada para não ser preterido de vez. Nada disso, contudo, está provado.

Enquanto isso, cientistas e fotógrafos continuam observando a criatura. Trabalhando em conjunto, vão, aos poucos, organizando os dados. Os profissionais concordam que em breve ter-se-á uma noção mais ampla da espécie. Do que foi analisado até agora, já foi deduzido que o tucano pesquisado abomina sobrevoar trechos de Serra. 

BICHO DO MATO

Acabei indo parar no asfalto.
Minha civilidade é torta.
Tem cheiro de poeira.
Tem jeito de Cerrado.
Não me acostumo com gente.
Sempre volto para o mato.
A saudade é da mata. 

domingo, 7 de setembro de 2014

sábado, 6 de setembro de 2014

"MISSISSIPPI"

A canção vem de longe, mas não de longe o bastante a ponto de ser impossível distingui-la. Depois de pular o muro e passar pela porta da sala, a melodia chega ao cômodo em que estou. Chega quase inaudível, quase como se estivesse em um sonho; chega um tanto imprecisa. Sei que há acordes, mas não presto atenção neles. De repente, minha atenção se volta para os sons que já duravam um minuto ou dois: a canção que me visitou foi “Mississippi”, com a banda holandesa Pussycat. Tendo-me entusiasmado, procurei pela faixa em meus arquivos de música; estou agora berrando para todo o planeta escutar: “Miiiiiiiiiiiiiiiiiiiissiissiiiiiiiippiiii”... 

O RACISMO E O POLITICAMENTE CORRETO

Casos como o de Patrícia Moreira trazem à tona o debate sobre o racismo no Brasil. Ela xingou o Aranha, goleiro do Santos, de “macaco”. Em depoimento à polícia, Patrícia admitiu o xingamento, mas alegou que não teve a intenção de ser racista; ontem, durante declaração para a imprensa, em “choro” sem lágrima, voltou a dizer que não era racista. Patrícia pode responder por injúria racial; além dos xingamentos dela, há fotos antigas nas quais ela aparece em atitude preconceituosa, segurando um macaco de pelúcia vestido com a camisa do Internacional, e fazendo cara de nojo, segundo o divulgado pelo UOL.

O Grêmio foi excluído da Copa do Brasil em virtude do “espetáculo” estrelado por Patrícia e por outros gremistas. Mesmo o clube tendo colaborado com a polícia, está fora do torneio (é possível haver recurso contra a decisão). O caso, melindroso por si, ganhou mais um elemento: um dos auditores do caso que excluiu o time gaúcho é investigado pelo STJD, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva, de ter sido racista no Facebook. O nome dele é Ricardo Graiche. Em 2012, Graiche teria realizado postagens em que havia preconceito contra negros. Ele deletou a conta no Facebook depois da repercussão do caso, também informa o UOL.

À parte o que fizeram Patrícia e outros gremistas no estádio, e à parte o que foi noticiado sobre Ricardo Graiche, escutei um conhecido meu dizendo, sobre o caso ocorrido lá em Porto Alegre, no jogo em que o Aranha foi xingado de “macaco”: “Essa patrulha do politicamente correto... Nem se pode mais xingar o sujeito de macaco”. De fato, existe por aí o patrulhamento do politicamente correto, e que é de fato muito chato; às vezes, é até hipócrita — a pessoa canta o hino nacional com aparente fervor (atitude politicamente correta), mas, na surdina, locupleta-se com dinheiro público.

O politicamente correto é aparência, não  é  essência.  Fantasiado  de bom--mocismo, passa ideia de correição. Ele sabe fazer pose e sabe iludir desavisados. É cheio de lugares-comuns, adora uma retórica cheia de clichês e adora poses de rapaz trabalhador e de moça casadoira. Embora eu já tenha dito, reitero: abomino o politicamente correto. Em contrapartida, xingar uma pessoa de “macaco” não é se rebelar contra o politicamente correto (rebelar-se contra ele é necessário); xingar alguém de “macaco” é atitude de quem quer ofender e é revelador do que uma pessoa pode estar pensando sobre alguém que é preto; o calor de uma partida de futebol não é pretexto capaz de dissimular a atitude de Patrícia e demais torcedores. 

OS GATOS

Quem vê a fleuma 
nem suspeita da flama. 

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

O GRITO

A saudade falou mais alto.
Eu então falei mais alto ainda.
Desemboquei teu nome: gritei.
Aves se debandaram,
plantas foram despertas.
Por sessenta quilômetros, 
minha voz reverberou Cerrado afora. 

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

TAMBÉM À ESQUERDA

QUEBRANDO TUDO

Em conversa que mantive com um amigo, colega de trabalho, ele me disse que, para ele, as duas melhores canções do mundo são “Breaking all the rules”, sucesso do Peter Frampton, e “Chão de giz”, do Zé Ramalho. Terminada a conversa, fui escutar “Breaking all the rules”. Uma quarta-feira que começava com malemolência de repente pegou fogo e me encheu de entusiasmo. Rock ‘n’ roll rocks! 

terça-feira, 2 de setembro de 2014

ARI PESSOA FRANCO

Cogitação “inútil”: suspeito de que, com exceção das duplicadas, a Ari Pessoa Franco seja, pelo menos em alguns trechos — se não em toda sua extensão —, a rua mais larga de Patos de Minas. 

OS CROODS

Tenho certa ojeriza a atrações em que inserem rótulos como “diversão para toda a família”, “indicado para toda a família” ou “infantil e família”. Com muita frequência não passam de filmes, desenhos ou animações com excesso do que é politicamente correto, chegando a ter um pé na hipocrisia. Não é o caso de “Os Croods”, criação de 2013 da DreamWorks.

A animação é dirigida por Kirk De Micco e Chris Sanders, que também escreveram o roteiro, o qual conta ainda com a autoria de John Cleese. Os Croods são uma família; vivem sob a proteção do pai numa caverna. Ficam encrencados quando um terremoto destrói o lar que têm.

Grug, o patriarca, delega a si a missão única de manter vivos seus protegidos. Em nome disso, exerce vigília pesada, não permitindo que os integrantes da família se extraviem em caminhos desconhecidos, alegando que o mundo lá fora é farto em perigos. Por outro lado, Eep, sua filha, tem um aflorado instinto de curiosidade; está louca para pisar terras inéditas.

As crianças que conferirem a animação podem se divertir com as trapalhadas que os Croods aprontam (exatamente por isso eu me diverti muito). Já as metáforas, alusões e alegorias da animação convidam os adultos a reflexões que vão da filosofia à antropologia. É difícil achar essa mistura que diverte e que faz refletir; os diretores conseguiram isso.

Devido ao sucesso da animação, li que uma sequência está a caminho. As vozes originais também estariam confirmadas: Nicolas Cage é Grug; Emma Stone, Eep; e Ryan Reynolds, Guy. Enquanto a anunciada sequência não vem, divirta-se e visite-se assistindo aos Croods. É diversão para toda a família.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

DOIS PESOS

Tu te queixas do 
peso de andar. 
Esquece-o. 
Voar é peso maior. 
Voa.