domingo, 30 de novembro de 2008

A DANÇARINA

A arte que ela tem mora no corpo dela.
A arte dela é o movimento dela.
Quem a vê quieta, nem imagina
que a arte é o que nos dança.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

"O PRESIDENTE NEGRO"

Terminei de ler ontem “O presidente negro”, romance de Monteiro Lobato. O livro defende a eugenia, alegando a supremacia da etnia branca.

Vladimir Nabokov disse certa vez que definitivamente não concordava com o comportamento de seu personagem Humbert, sujeito de meia-idade que se envolve com Lolita, uma ninfeta. Não conheço a biografia de Lobato, de modo que seria um tanto inconseqüente de minha parte ir logo misturando homem e obra. Ainda assim, é digno de nota que o próprio Lobato escreveu: “O Brasil, filho de pais inferiores… destituídos desses caracteres fortíssimos que imprimem… um cunho inconfundível em certos indivíduos, como acontece com o alemão, com o inglês, cresceu tristemente… dando como resultado um tipo imprestável, incapaz de continuar a se desenvolver sem o concurso vivificador do sangue de alguma raça original”. [Aqui, link para que você confira de onde extraí a citação.] Marcia Camargos e Vladimir Sacchetta, autores do prefácio de “O presidente negro”, mencionam a longa correspondência mantida entre Lobato e Renato Kehl, defensor de teorias de purificação étnica. Este chegou a prefaciar um livro de Lobato.

Camargos e Sacchetta preferem não se alongar sobre o suposto racismo de Monteiro Lobato. Afirmam que “O presidente negro” revela “as profundas contradições da sociedade norte-americana” do começo do século XX.

A obra foi publicada primeiramente em 1926, de setembro a outubro, no jornal carioca A Manhã. Na ocasião, saiu com o título de “O choque”. Duas décadas depois receberia o título que tem hoje.

Ayrton Lobo é o narrador da história. Após sofrer um acidente em seu Ford então recentemente adquirido, Lobo é ajudado pelo professor Benson. O senhor o leva para casa, onde Lobo tem contato com Jane, filha única de Benson.

Desnecessário dizer que Lobo logo se apaixona por Jane. Benson, por sua vez, permite a aproximação. Decidido estava o professor a revelar sua grande invenção, o porviroscópio – máquina que permitia a visualização do futuro até o ano de 3527. Benson, para assombro de Lobo, vai detalhando como funciona a máquina. Ainda envolvido com os relatos, morre. Jane naturalmente assume a continuidade do que o pai começara, em entrevistas semanais que passou a ter com Ayrton Lobo. Este, por sua vez, vai cada vez se apaixonando mais por ela.

A história que Jane escolhe narrar em detalhes se passa nos EUA, no ano de 2228, quando um negro é eleito para a presidência do país. Em “O presidente negro”, os EUA do século XXIII são “a feliz zona que desde o início atraiu os elementos mais eugênicos das melhores raças européias”. Na ótica do livro, o atraso de gente como o brasileiro, por exemplo, deve-se à mistura de raças: “O amor matou no Brasil a possibilidade de uma suprema expressão biológica. O ódio criou na América a glória do eugenismo humano”.

A sociedade de que trata a obra é divida em homens brancos, feministas radicais brancas e homens e mulheres negros. Brancos e feministas se surpreendem quando um candidato negro decide concorrer ao cargo de presidente. A briga das feministas contra os homens brancos acaba dividindo os votos da etnia branca, o que propicia a eleição de Jim Roy, o candidato dos negros. No texto de Lobato, os negros do futuro haviam se submetido a um processo pelo qual suas peles haviam sido clareadas. A despeito desse clareamento, não são, em essência, brancos. A eleição de Jim Roy fará com que o definitivo e fatal golpe eugênico seja aplicado contra os negros.

Ayrton Lobo é um personagem ingênuo, funcionário da firma Sá, Pato & Cia. Embora seja o narrador da história, a notícia que recebemos do futuro nos é dada por intermédio, a princípio, do professor Benson; depois, por Jane. Tanto filha quanto pai são sofisticados, requintados. Pouco antes de morrer, Benson destruíra o porviroscópio, temendo o estrago que a invenção poderia causar se em mãos erradas. O futuro que Jane vai descortinando para Lobo faz parte de sua memória, do que ela observou enquanto teve à disposição a máquina do pai.

O leitor não ri do que apresenta o livro. Não é, por exemplo, como um “Viagens de Gulliver”. O narrador de Swift, ao relatar ingenuamente suas histórias, faz com que nós, leitores, achemos graça do que nos conta o narrador. Não há ironia em “O presidente negro”. Com calma, inteligência e feminilidade, Jane vai conduzindo Lobo, que passa a admirar o futuro eugênico, passando a desprezar o presente limitado e aquém. O narrador Lobo reproduz as palavras de Jane, sempre conscienciosa e certa do que diz. Fossem de Lobo as palavras, talvez o efeito pudesse ser similar ao que sentimos quando lemos o que nos conta Gulliver. Jane, sobre os EUA, declara: “Onde há força vital da raça branca senão lá? Já a origem do americano entusiasma”. Jane não é nem ingênua nem risível. O livro de Monteiro Lobato não está mofando do racismo, mas o endossando. Lamentável.

“O presidente negro” foi relançado recentemente a toque de caixa, quando Barack Obama ainda disputava com Hillary Clinton uma vaga democrata nas eleições presidenciais norte-americanas. Sem saber do que se tratava, gulliverianamente comprei o livro, pensando que ele era uma espécie de ataque contra o racismo...

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

FOTOPOEMA 37

A SEPARAÇÃO

Já assisti a “Separados pelo casamento” (The Break-Up), do diretor Peyton Reed, diversas vezes. Foi veiculado como sendo comédia. Não penso ser o caso. Em minha opinião, o filme é um baita drama – com boa dose de humor, por paradoxal que isso possa parecer. As doses de humor do filme não me parecem fazer dele uma comédia, ao mesmo tempo em que lhe conferem verossimilhança e familiaridade. Ademais, bah, a vida mistura drama e humor.

Certo dia, Gary Grobowski (Vince Vaughn) e Brooke Meyers (Jennifer Aniston), casados e prestes a receber integrantes das famílias de ambos, começam a discutir porque ele chegara em casa com três limões – em vez dos doze pedidos por ela. Brooke quer a ajuda e a compreensão dele, pois muita coisa teria de ser feita na cozinha; Gary alega que trabalhou duro o dia todo. A discussão é interrompida com a chegada dos familiares. Embora o casal quase protagonize uma cena durante o jantar, em virtude de uma mesa de sinuca que Gary gostaria de ter no apartamento, terminam a refeição sem maiores solavancos. Quando as famílias vão embora o quebra-pau começa pra valer. Gary e Brooke se ofendem. Tem início a partir daí um cabo-de-guerra; vão tornando a vida a dois cada vez mais insuportável. A separação, já anunciada no título, vem de fato.

Gary e Brooke se querem. “Apenas” erraram no relacionamento. Da parte dela, faltou clareza ao dizer o que esperava de Gary; da parte dele, faltou abrir mão do egoísmo. À medida que o filme prossegue, aumentam as ofensas e a infantilidade de ambos, num joguinho bobo pra ver quem consegue magoar mais o outro. Conhecendo-se bem, sabem o que fazer a fim de que a ofensa seja incisiva.

O clima pesado e tenso não afugenta, contudo, o humor. A cena em que Richard (John Michael Higgins), irmão de Brooke, canta um trecho de “Owner of a lonely heart”, do Yes, é um barato. Há ainda cenas comoventes – sem pieguice: quando Brooke pede demissão a Marilyn Dean (Judy Davis), sua patroa e dona de uma galeria de arte, Marilyn, a despeito de toda a empáfia que faz questão de ostentar, dá a Brooke uma prova de amizade, confiança e compreensão, dizendo, em belas e poucas palavras, que as portas da galeria continuarão sempre abertas.

Quando digo que acho a Jennifer Aniston bonita, muita gente diz que não vê nada demais nela. Quando digo que a considero uma ótima atriz, já me perguntaram se eu estava brincando. Não estava – além de achá-la muito bonita, eu a considero mesmo uma ótima atriz. Não consigo imaginar uma outra pessoa na pele de Brooke Meyers.

Caso você alugue o DVD, não deixe de assistir, nos extras, a um fim alternativo para o filme...

domingo, 16 de novembro de 2008

"O OBSERVADOR NO ESCRITÓRIO"

Terminei de reler “O observador no escritório”, livro de notas e apontamentos de Carlos Drummond de Andrade.

As notas são datadas. Vão de 15 de maio de 1943 a 18 de setembro de 1977. Nelas, emerge o funcionário público às voltas com seu trabalho burocrático, duvidoso quanto a seu papel político: “Sou um animal político ou apenas gostaria de ser? (...) Como posso convencer a outros, se não me convenço a mim mesmo? Se a inexorabilidade, a malícia, a crueza, o oportunismo da ação política me desagradam, eu, no fundo, quero ser um intelectual político sem experimentar as impurezas da ação política?”.

Aqui e ali, alude o poeta a fatos corriqueiros, desde o comportamento de um gato, louco para saciar seu apetite sexual, a conversas com os grandes intelectuais e artistas do Rio de Janeiro de então. Há momentos engraçados, reflexivos, tristes... Amigos, impressões, arranjos de bastidores para disputa de vaga na Academia Brasileira de Letras, morte de amigos...

O registro de um tempo pelo olhar do poeta. Em meio às notas, o que emergiu para mim (talvez injustamente) foi um Drummond um tanto misantropo. Ele própria cita, sem comentar, opinião de Lúcio Cardoso, numa entrevista:

“– Qual o maior poema que leu em sua vida?
“– “’Os bens e o sangue’”, desse raro exemplar de falta de calor humano que se chama Carlos Drummond de Andrade”.

Num outro trecho, Drummond diz que um verso de Mário de Sá-Carneiro parece definir o poeta de Itabira: “Fartam-me até as coisas que não tive”.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

APONTAMENTO 40

Sabe... Às vezes é melhor mesmo que eu não saiba mesmo de toda a beleza que há por aí. Seu eu soubesse, sei que não suportaria.

RETÓRICA

Tudo deveria acabar numa obra de arte.
Ou começar numa obra de arte.
Ou ser uma obra de arte.

Hora de me calar.
Nem sei definir
se me silencio feliz
ou se me silencio triste.
Sei que a única obra de arte
que produzi foi o silêncio de agora.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

CAMINHO DE SANGUE

Todo esse sangue bombardeado.
Todo esse sangue inocente.
Todo esse sangue poluído.
Todo esse sangue perverso.

Não no chão, mas nas veias,
deveriam estar todos
esses sangues correndo.

“DECAMERÃO – O SANTO MILAGREIRO”

Ontem, a partir de 19h15, no Teatro Municipal Leão de Formosa, aqui em Patos de Minas, ocorreu o espetáculo teatral “Decamerão – o santo milagreiro”.

A peça é uma adaptação da primeira das cem histórias que compõem o livro “Decamerão”, de Giovanni Boccaccio (1313-1375). A direção foi de Consuelo Nepomuceno (Unipam), coordenadora do grupo Tupam (Teatro Universitário de Patos de Minas).

A história de Boccaccio narra o ocorrido com o senhor Ciappelletto. Em tom de galhofa e prestes a morrer, ele decide se “confessar” a um bondoso frade. Tendo sido cafajeste a vida toda (“era o pior homem que viera à luz, em qualquer época” – tradução de Torrieri Guimarães), o próprio Ciappelletto argumenta, no leito de morte, que uma ofensa a mais, numa vida tão plena delas, não fará nenhuma diferença. Para o frade, narra pecadilhos infantis, ninharias, a despeito da vida nada virtuosa que levara.

Impressionado com o suposto caráter elevado de Ciappelletto, o frade cuida rápido de dizer a todos que tão nobre conduta durante toda uma vida só podia indicar santidade. Dá a “boa nova” a seus colegas, que contam para outros, que contam para outros. Ciappelletto é enterrado com honrarias, é sepultado como santo. Rapidamente, fiéis passam a procurar o túmulo do “santo” em busca de milagres, numa amarga ironia de Boccaccio.

A peça contou ainda com música, sob o comando do professor de música e percussionista Castor. Após o espetáculo, o professor Luís André Nepomuceno, coordenador do curso de Letras do Unipam, contextualizou Boccaccio e sua obra numa Idade Média que assistia então ao surgimento do Humanismo. Infelizmente, devido a compromisso de trabalho, não pude acompanhar toda a fala do professor. Entretanto, ele próprio me disse posteriormente que houve uma interação proveitosa, a partir do momento em que o público se sentiu à vontade para opinar e fazer perguntas.

“No teatro, mudar uma peça de maneira radical muitas vezes é – por mais contraditório que possa parecer – a melhor maneira de ser fiel a um dramaturgo”. Esse trecho é de Gabriela Mellão, em crítica sobre montagem da peça “O Quarto”, de Harold Pinter, sob a direção de Roberto Alvim. Gabriela Mellão ressalta que as liberdades de Roberto Alvim, paradoxalmente, não deturparam o trabalho de Harold Pinter.

Comento isso pelo seguinte: o “Decamerão” não é texto escrito originalmente para o teatro. Ainda assim, o grupo Tupam foi feliz na adaptação que fez. As liberdades (sem radicalismos) tomadas quanto ao original e quanto a recursos cênicos mantiveram o saboroso humor de Boccaccio. Aqueles que têm familiaridade com o "Decamerão" reconhecem de imediato a atmosfera da história de Ciappelletto, a despeito das mudanças. Ao mesmo tempo, o espectador não deixa de presenciar a corrosiva ironia. Em suma: a trupe acertou no tom.

Não sei se há a intenção de se reapresentar a peça. Caso isso ocorra, esteja lá. E em tempo: é um espetáculo que eu gostaria de fotografar.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

DONA ISOLETA

Adão, quarenta e dois anos, comprou a passagem. O ônibus embarcaria às 22h15. Sua poltrona era a de número quatro. No veículo, Arlete, uma jovem de vinte e cinco, estava sentada na três – com os pés na quatro. Adão colocou sua mala no compartimento acima das poltronas e olhou para a jovem. Ela deu um levíssimo sorriso, arredou os pés e Adão se sentou.

Segundos depois, Arlete se levanta e passa para o outro lado do corredor do ônibus, ocupando a poltrona de número um – com os pés sobre a dois. Adão pensou que logo ela teria de voltar para o lugar dela, pois ele tinha quase certeza de que o passageiro da poltrona um estava prestes a surgir. É que no guichê Adão chegara a pedir a poltrona três e depois a um. Ambas já haviam sido vendidas.

Minutos depois, duas mulheres entram no ônibus. Uma delas, Ana Maria, de trinta e sete, carregava Clara, bebê de três anos. A outra, Isoleta, de setenta e dois, uma pequena sacola vermelha. Ana Maria foi para a parte de trás do ônibus. Isoleta havia comprado passagem para a poltrona um, que estava ocupada por Arlete.

Antes de se sentar, a senhora olhou para as poltronas um e três. Leu pausadamente para si mesma: "Pol-tro-na um". Quando a jovem já ia se levantar a fim de voltar para seu lugar, Isoleta conversou com Adão:

– Se você não se importar, eu queria ficar na sua poltrona. Fico enjoada se viajar no canto.

Adão achou estranho esse negócio de ficar enjoada somente quando se viaja no canto. Contudo, ficou sem jeito de dizer não; cedeu o lugar para a senhora. Enquanto mexiam os corpos no pequeno espaço, Isoleta quase caiu. Justificou-se:

– Às vezes caio; é por causa da minha coluna.

Isoleta se alojou na poltrona quatro. Só que Adão teria de ir para o lugar destinado a ela, que era a poltrona um, onde estava Arlete. Esta esboçou novamente o leve sorriso de há pouco. Tirou os pés da poltrona dois e se encolheu no canto. Adão ocupou a dois. Se alguém chegasse para ocupá-la, Adão teria de ir para a três, o que não ocorreu. Arlete não voltaria para a três, seu lugar de origem. Minutos depois, a viagem teria início.

Durante o percurso, Isoleta, pequena que é, deitou-se sobre as duas poltronas, com a cabeça virada para a janela; dormiu e roncou. De vez em quando, num sacolejo maior, um de seus pés chegava a esbarrar na perna de Adão, esticada para fora, ocupando parte do corredor. Incomodado pelo ronco de Isoleta, Adão não dormiu nada durante a viagem de sete horas.

No desembarque, enquanto se afastava do ônibus, Adão pôde ouvir Isoleta, toda risonha, comentar com Ana Maria:

– Inventei uma balela qualquer pros dois que estavam lá na frente; acabei ficando com duas poltronas só pra mim...

UNÍSSONO

Num coral é assim:
cada um em seu canto.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

A HISTÓRIA POR TRÁS DA FOTO (42)

No último dia 29 ministrei minha primeira aula de fotografia. É que Ivanilda, uma amiga, e dois alunos meus de inglês e literatura, Breno e Marcela, estiveram comigo às margens da Lagoa Grande, aqui em Patos de Minas, para fotografar e ter algumas dicas teóricas.

Falei brevemente sobre abertura, velocidade e composição. Depois, colocaram a mão na massa. Olhei as fotos e sugeri algumas mudanças, principalmente de enquadramento. A seguir, fotografaram mais.

Apesar do calor intenso, foi uma tarde muito agradável. Foi um prazer conversar sobre fotografia e ensinar os princípios básicos dessa fascinante atividade. Além de agradecer à Ivanilda, ao Breno e à Marcela pela oportunidade, agradeço também ao fotógrafo Jhereh, que me emprestou a câmera dele – a minha está estragada.

A foto acima foi uma das que tirei.

HAICAI 13

O professor ensina.
A aluna aprende, olha.
Amorosa sina.

APONTAMENTO 39

Minha mãe é o mundo. O universo é meu pai. Não passo de um interiorano com mentalidade cosmopolita. O que já é melhor do que ser um morador de um grande centro com mente bitolada.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

ELEIÇÕES NOS EUA

Hoje à tarde assisti a imagens que mostravam celebrações ocorridas no planeta por causa da vitória de Obama.

Os vídeos o mostravam sendo ovacionado. Claro que muita dessa alegria era pelo fato de Bush estar saindo; contudo, em vez de ataques a Bush, o que vi foram loas a Obama. Pode até ser que os elogios a Obama tenham sido um modo tergiversado de atacar Bush. Contudo, o que me pareceu foi que houve mesmo um entusiasmo imenso quanto ao candidato recentemente eleito.

O próprio Obama empunhou a bandeira da chamada “mudança”, uma das palavras mais usadas por ele em seus discursos. As manifestações ao redor do mundo pareciam ser o reflexo da crença nessa mudança; todos se mostraram aliviados por se verem livres do desastrado Bush.

Se as festas ocorreram para celebrar a saída de Bush, ótimo. Se não, ainda é cedo, cedo demais. O apito final está longe de soar para Obama. Já o final para Bush soou tarde demais; talvez nem devesse ter havido o inicial. As imagens a que assisti me deixaram com a impressão de haver uma confiança extrema em Obama. Pode ser que a festa termine mal. Ou que talvez as imagens sejam apenas rompantes de quem não agüentava mais ver a cara do Bush.

Torço muito para que Obama realize um bom trabalho. Quando ele terminar, que as comemorações vindouras sejam para celebrar seu legado.

A JOÃO GILBERTO

A THE ROLLING STONES


A JANIS JOPLIN


terça-feira, 4 de novembro de 2008

A HITCHCOCK

APONTAMENTO 38

Amanheço pleno de madrugada. O amplo alvorecer me deixa pleno de imensidão. Cato nos restos da noite que ainda pairam no leste o equinócio, o equilíbrio. Em vez da paz do sono, escolho a correria das ruas. Quando a consciência pesa, a gente acha que todo mundo sabe, só de olhar para nós. O povo que passa por mim vê a consciência tranqüila? Será que todo mundo está vendo que carrego a madrugada?