Graças a financiamento coletivo, a cantora Lizandra está lançando o EP Guia prático para amar de novo — Parte 1. O trabalho vai estar disponível em todas as plataformas digitais daqui a algumas horas, à meia-noite.
São quatro, as faixas, todas acústicas: “Te Amo Tanto”, “Só por Você”, “Varanda” e “Entardeceu”. Emerge delas a tradição lírico-amorosa da MPB; cenas do cotidiano são o cenário para as afetuosas letras das canções. “Logo de manhã cedinho / Eu paro pra te ver acordar”, diz a letra de “Te Amo Tanto”; já a de “Varanda” tem o seguinte trecho: “Eu largaria tudo por você / Uma rede, uma varanda / Amor simples de viver”.
Tem-se então que Lizandra celebra o amor, o amor do dia a dia, um amor prático, palpável. Um amor que não vem carregado de tintas melancólicas, seja pela delicadeza das interpretações, seja pelas letras em si. Fosse eu definir de modo muito breve o EP de Lizandra, eu diria se tratar de um trabalho terno e delicado. Nas quatro canções, a expressão de uma cantora que se entrega ao pop, com melodias agradavelmente cantáveis, sem deixar de fazer MPB. Longe de querer delimitar e longe de querer esgotar o trabalho da artista num gênero ou num rótulo, Lizandra faz MPB.
O Artur da Távola escreveu, salvo engano, em Do Amor, Ensaio de Enigma, que uma pessoa pronta para o amor é perigosa para qualquer “status quo”. Nesse sentido, Lizandra é muito perigosa, pois se lança mais uma vez em público e ao público para falar de amor ou do amor em forma de canções. Num Brasil em que parte da população, adoecida, orgulha-se da ignorância, Lizandra oferta para nós canções com roupagem simples e que têm a coragem e a rebeldia de cantarem o amor.
Sim, falar de amor é um ato de coragem e um ato de rebeldia num contexto em que coisas como ternura, delicadeza e conhecimento se ausentam. Em tempos assim, falar de amor é compor um libelo; o de Lizandra tem essa audácia de falar de amor em meio a gritos de ódio e atos de desrespeito. Guia prático para amar de novo — Parte 1 é alento por nos lembrar de que há uma humanidade bonita e viável.
Nas quatro faixas, a cantora tem interpretações delicadas, que estão em sintonia com a temática das letras e que evidenciam uma faceta que me soa nova: uma interpretação mais intimista e ao mesmo tempo mais à vontade, em que o lirismo se mistura com uma pitada de terna malícia. Em entrevista que realizei ontem com a cantora e compositora, ela disse estar mais madura como pessoa e como artista do que há cinco anos, quando lançou seu primeiro trabalho musical. Agora, com Guia prático para amar de novo — Parte 1 (em breve, haverá a Parte 2), Lizandra dá mais um passo a fim de mergulhar de vez em sua arte, corajosa para falar de amor, artista para nos tornar melhores.