sábado, 25 de maio de 2019

“O que há num nome?” ou O fetiche onomástico

A pergunta do título está na peça Romeu e Julieta, de William Shakespeare. A digressão de Julieta me veio à tona recentemente por eu ter feito, a princípio, sem querer — e depois, de propósito —, um “experimento” em minhas postagens no Facebook, que nem sempre são postadas neste blogue. Desde quando Bolsonaro surgiu como possível candidato a presidente da república, eu o tenho criticado. Nessas críticas, tenho percebido o seguinte padrão: se o nome dele é diretamente mencionado, os que apoiam o governo dele reservam um tempo para comentar as postagens; se não menciono o nome dele, geralmente não reservam esse tempo.

Esse padrão não é regra absoluta, mas é uma tendência que venho percebendo. Sem eu saber o motivo pelo qual isso ocorre, os que defendem o atual governo parecem não encarar a crítica contra ministros, por exemplo, como metonímia em que o criticado é, em última análise, o chefe do executivo federal. Isso me fez cunhar a expressão fetiche onomástico. A menção ao nome de Jair Bolsonaro desengatilha algo nos apoiadores dele que os leva a interagir com minhas publicações; a menção a ministros, no todo, não aciona esse gatilho. (Essa tendência, seja por que motivo for, pode mudar. Minhas postagens no Facebook não são públicas; junte-se a isso o fato de serem pouco lidas; esse contexto, suponho, anularia ou quase anularia a atuação de “robôs” comentando o que escrevo.)

Não há pretensão de análise sociológica nisso que afirmo. Sou apenas um sujeito incrustado no cerrado, que mora no interior, numa cidade desconhecida no cenário nacional. Eu poderia morar aqui e ter grande influência Brasil afora, mas, é evidente, não é esse o caso; poucos me conhecem, poucos leem o que escrevo. Não sou famoso, não sou lido por milhares de pessoas, não influencio centenas com o que publico. Além do mais, pode ser apenas coincidência o fato de o nome do presidente levar os apoiadores a se posicionarem; pode ser que essas pessoas nem tenham lido as postagens em que ministros ou políticas governamentais sejam criticados. Mesmo assim, não deixa de ser curioso o fato de que, coincidência ou não, defensores do atual governo, em minhas postagens, no geral, não saem em defesa de Bolsonaro quando o nome dele não é mencionado diretamente.

Que não haja dúvida: estou apenas constatando tendência que ocorre no que publico; não estou advogando a favor de números absolutos nem a favor de estudo sociológico-comportamental. Não faço a menor ideia de como se dá com outras pessoas que produzem textos próprios contra o atual governo. Não postulo conclusões nem generalizações, não estou adentrando o reino de suposições baseadas apenas no que ocorre em minhas postagens. Isso seria leviano, nada científico. O que relato não passa de curiosidade com que me deparei.

Outro padrão que tenho percebido nos comentários discordantes do que penso é a negação e o desmerecimento das fontes e das pesquisas que divulgo. Sejam pesquisas, sejam fontes, o que predomina dentre os que discordam é a asseveração de que tudo é mentira, tudo é notícia falsa, tudo é complô para que o presidente seja derrubado. Mesmo aqueles que já divulgaram pesquisas em suas postagens já se mostraram, em minhas publicações, contra... pesquisas, sugerindo que só têm valor as pesquisas divulgadas por eles. Já publiquei pesquisas de pelo menos quatro diferentes fontes; foram taxadas de mentirosas ou de falsas ou de interesseiras. Já mencionei fontes diversas; foram colocadas em xeque. Assim como não faz sentido confiar de modo pleno em tudo o que é divulgado, também não faz o menor sentido só confiar no que está de acordo com nossa opinião.

Tivesse eu tempo e fosse eu sociólogo, usaria, dentre outros, meus próprios textos a fim de concluir algo científico a partir de como os apoiadores de Bolsonaro reagem às (minhas) postagens contra ele, também analisando com cuidado publicações alheias. Como não tenho tempo para uma pesquisa dessa, como eu nem saberia como realizá-la, além do que ela demandaria um fôlego que não tenho, e como não sou sociólogo, que fique o registro de algo que julgo curioso. No mais, uma paródia: what’s in a name? that which we call a Bolsonaro / By any other name would not smell as sweet. 

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