Havia sido divulgado que o exército dera oitenta tiros e matou Evaldo Rosa dos Santos, no dia sete de abril deste ano, no Rio de Janeiro. Evaldo morreu no mesmo dia; Luciano Macedo morreria onze dias depois, em decorrência dos tiros dados pelo exército. Oitenta e três disparos acertaram o carro em que Evaldo e Luciano estavam.
Todavia, laudo divulgado anteontem revela que houve mais de duzentos disparos contra o carro em que os assassinados estavam. “Mais de duzentos” é um número muito impreciso; o laudo, ou pelo menos o que foi divulgado dele, dirime um pouco dessa imprecisão:
• um tenente disparou 77 vezes (há registros de mais 11 tiros dados pela arma dele no mesmo dia, mas não há confirmação de que teriam sido dados na ação que matou Evaldo Rosa dos Santos e Luciano Macedo);
• outro militar disparou 54 vezes;
• três soldados atiraram 20 vezes cada um;
• outro disparou 14 vezes;
• os demais atiraram de 1 a 9 vezes.
A despeito dos dados acima, a imprecisão permanece no trecho “os demais atiraram de 1 a 9 vezes”. Desconsiderada essa imprecisão, tem-se a seguinte conta:
77 + 54 + 60 + 14 = 205
Sem se levar em conta “os demais”, que atiraram de 1 a 9 vezes, houve 205 disparos. Para efeitos matemáticos e históricos, caso se faça um contingenciamento no número de disparos, tem-se que, por exemplo, 30% de 205 equivalem a 61,5, o que já é um número exorbitante, levando-se em conta que o assunto são disparos contra um carro de civis que estavam indo a uma festa.
Ainda assim, bem sabemos que não haveria problema para o ministro da educação, se fosse o caso, transformar 61,5 em 6,15, valendo-se de barras de chocolate. Também sabemos que, para o presidente, não importa o número de disparos, “o exército não matou ninguém”.
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