Não acredito numa temática superior a outra. Um poema sobre uma revolução social não vale nem menos nem mais do que um sobre a possibilidade de transcendência do espírito humano ou um sobre uma menina que brinca com uma bola num parque. Nesse fio condutor, o que vale é haver ou não uma boa literatura. Também descreio da ideia de que a literatura engajada seja necessariamente datada e de que a literatura voltada para as coisas do espírito seja consequentemente atemporal. O que faz com que um texto permaneça não é a temática.
Borges foi um brincalhão erudito. Elevou o lúdico a dimensões grandiosas, passou ao largo, em seus livros, das questões políticas de seu tempo. Neruda e Galeano, para ficar em dois sul-americanos, não. O grande tema da literatura de Borges é a própria literatura. É com ela que ele brinca. Por alguns, é criticado precisamente por não ter se engajado.
Ele é pleno em referências, em alusões, reais ou inventadas. Faz da literatura um jogo com que muito parecia se divertir, divertindo a inteligência do leitor, desde que esse leitor não atrele a literatura exclusivamente a um compromisso ideológico, político. O compromisso de Borges era com a literatura e, suspeito, com a diversão.
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