Ainda que sem edição, ainda que não retocada, a fotografia não é a realidade. É um simulacro dela. Além do mais, mesmo em seus primórdios, a fotografia já era manipulada, “maquiada”, o que, por assim dizer, já a distanciava da realidade. Hoje, graças às técnicas e aos recursos de captura na hora do clique, e graças aos programas de edição de imagens, a fotografia pode ficar ainda mais longe daquilo que o fotógrafo enquadrou.
O que há é um certo desejo de perenidade. Em última instância, mesmo que tudo venha a acabar, a fotografia é um registro que pode durar enquanto durar a humanidade (ou durar um pouco mais depois desse seu fim conjectural). O passado vai embora, mas numa fotografia ele é simulacro daquilo que um dia houve; é como se o passado, aparentemente impossível de ser vivido outra vez, assumisse uma forma, um contorno.
É como se um pedaço da vida que houve se tornasse visível. Ainda que o objetivo do fotógrafo seja, digamos, criar a beleza, ao tirar uma foto ele terá criado algo que se parece com o passado, mas que passado não é. Cria-se um saboroso jogo: o clique é no presente, mas o resultado (ainda que visto milésimos de segundos depois, no visor da câmera) é no futuro; quando esse resultado é visto, o que se vê já é um simulacro do passado. Fotografar é brincar com o tempo.
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