sábado, 29 de junho de 2013

O INDIVIDUAL E O COLETIVO

Terminado o protesto na rua, o Brasil ocorre é em sua casa, em seu ambiente de trabalho. É contraprodutivo ir à manifestação e continuar achando que você vale mais como pessoa do que a empregada que trabalha para você. É contraproducente ir à manifestação e continuar dando um jeito de furar a fila. É hipocrisia ir à manifestação pensando intimamente em privilégios para sua classe social. É cinismo ir à manifestação e continuar desrespeitando seu professor.

Bobagem demonizar em frases cheias de ódio ou de preconceito este ou aquele partido — todos eles têm culpa e merecem punição. Libelos cheios de ódio, de preconceito ou de ignorância sobre noções básicas de como funcionam as instituições não levam a nada.

Ingenuidade crer em um salvador da Pátria — não há salvador da Pátria; cada um deve ser o salvador de si mesmo. Não há nisso egoísmo. Não há nisso declaração contra manifestações — eu já disse que sou a favor delas; afinal, seria tolice afirmar que todo mundo que participa delas é cínico ou hipócrita. Não há soluções fáceis — fáceis são os paliativos. Paliativos têm duração histórica de um piscar de olhos. Soluções convincentes passam, também, pela reforma do indivíduo.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

PERIGEU

Ontem, houve o perigeu, dia em que a Lua está mais próxima da Terra. Quando isso se dá durante a lua cheia, o espetáculo é brilhante e vistoso.

Com o objetivo de fotografar a Lua despontando no horizonte, eu e o Nivaldo, meu irmão, que muito me ajuda nos momentos em que tenho de sair da cidade para fotografar, fomos até os arredores de Patos de Minas.

O céu estava nublado próximo ao horizonte, de modo que não houve como eu fazer as imagens conforme o que eu tinha em mente. Ora, na fotografia, como na vida, o lance é a gente tentar fazer o melhor com o que nós temos à disposição...

A despeito do céu nublado, fotografei. Tive de usar ISO alto, a fim de aumentar a sensibilidade do sensor à luz; isso faz com que a imagem fique com textura “granulada”, como se houvesse areia sobre a imagem.

O ISO teve de ser alto para que as imagens não ficassem tremidas, uma vez que não levei tripé para os registros; logo, não havia como apoiar a câmera. No mais, apesar do céu nublado e do ISO alto, eis as fotos.








sábado, 22 de junho de 2013

CONTO 65

Amâncio deixara a Praça Bandeirantes; entrou na Marechal Floriano. À direita, perto do meio-fio, uma moça pelejava com uma moto, que não pegava. Ele passou, olhou... Seguiu o percurso, mesmo com algo na cabeça sussurrando que ele deveria voltar e ajudar a moça. Os segundos se passavam. Pelo retrovisor, observou que ela continuava parada, tentando fazer a moto pegar. Ele cruza a Barão do Rio Branco, indeciso: volta ou não? Sabe que se não voltar, vai se arrepender depois. Ao mesmo tempo, não age. Uma multidão de pensamentos se manifestam. Não pode continuar se afastando, na certeza de que se a próxima esquina vier, não voltará. Diminui drasticamente a velocidade, sem, contudo, dar meia-volta. Pensa em acelerar; não o faz. Pensa em voltar; não volta. Dá uma última olhada no retrovisor. Já não consegue divisar nem a moça nem a moto. Num gesto definitivo, volta.

LUAU

Ontem à noite, mal tendo a Lua surgido, tive vontade de fotografá-la. A intenção não era “simplesmente” fotografar o satélite: eu queria que algo mais compusesse o quadro — mas que fosse algo que não denotasse urbanidade, mesmo a foto sendo tirada nas ruas.

A pouco mais de uma esquina de distância daqui de casa vislumbrei a possibilidade de uma composição. Parei a moto, desci e comecei a fotografar, usando uma lente 100-400 e um “flash”.

A “névoa” que compõe as duas primeiras imagens é “desvendada” na terceira. Para realizar as fotos, usei o foco manual. Ao focar a Lua, a “névoa” era produzida. Na última foto, em vez de focar a Lua, foquei o que é de fato essa “névoa”.

Para conseguir o “efeito” verde sobre a Lua, a lente estava com o zum máximo. Além disso, usei também a máxima abertura, precisamente para conseguir o máximo desfoque possibilitado pela lente. O “flash” foi disparado.


quarta-feira, 19 de junho de 2013

CONTO 64

Teodoro tinha consigo que não tinha mulher alguma porque não tinha dinheiro algum. Num dia belo, ganhou muito dinheiro. Muito tempo depois, ainda continuava sem ninguém. Refugiou-se por fim na convicção de que o problema era com as mulheres.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

MANIFESTAÇÕES DE 17/06/2013

É cedo para saber se as manifestações que estão ocorrendo em algumas capitais brasileiras vão ter como consequência a radical mudança no modo de se fazer política no Brasil. É ingenuidade, pelo menos por enquanto, dizer que os políticos estariam, supostamente, com medo das manifestações. Por outro lado, os protestos são imprescindíveis — não em função de algum medo, seja de quem for, mas em função da conquista de direitos.

Nem preciso dizer que sou contra a depredação de patrimônios, sejam públicos, sejam privados. Contudo, a retórica midiática de que os manifestantes seriam um bando de moleques que não têm mais o que fazer da vida não convence mais. O próprio Arnaldo Jabor, na rádio CBN, admitiu que errou, ao sugerir que as manifestações eram coisa de gente sem causa.

Enquanto escrevo, acompanho notícia de que a Alerj, a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, foi depredada; também no Rio, um carro foi incendiado — não se sabe ainda por quem. A multidão não é homogênea, mas a violência não deveria partir dela. Gente imbecil e desordeira não deveria macular o dia. E não estou dizendo que sou contra manifestantes: sou a favor das manifestações. Sou, sim, contra a violência.

Precisamos ser espertos: não podemos dar aos políticos e à mídia a munição pela qual anseiam, para que depois não digam que tudo não passou de uma baderna coletiva e sem sentido. Ainda acredito na inteligência das pessoas. O dia de hoje foi, até agora, no todo, positivo. 

No dia nove de maio, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, disse que o “povo não sabe de um décimo do que se passa contra ele”. Ainda segundo ele, se o povo soubesse, “ia faltar guilhotina para a Bastilha, para cortar a cabeça de tanta gente que explora esse sofrido povo brasileiro”.

Ora, a declaração, vinda de um político, é motivo o bastante para que protestemos, seja nas ruas, seja nas urnas, seja nos textos... Que haja clareza ao se definir os motivos dos protestos, não importa se contra a Copa, se contra o aumento de tarifas ou se contra impostos. O País não é de alguns. E depois de esvaziadas as ruas, que o amanhã não deixe esvaziar as atitudes por mudança.

(Em tempo: em Brasília, até agora, a polícia legislativa “apenas” observa a ação dos manifestantes no Congresso Nacional. Que não haja destempero por parte de alguns cidadãos que lá protestam. Ou onde quer que estejam.)

domingo, 16 de junho de 2013

OS OUTROS LADOS DA MOEDA

Escrever bobagens não é característica somente dos grandes meios de comunicação. Ademais, quando escrevem disparates, estão interessados em seu próprio benefício. O mesmo fato é noticiado diferentemente por diferentes meios, cada um voltado para seu próprio interesse.

Nesse sentido, é difícil haver algo que se pareça com jornalismo. Entretanto, a tecnologia possibilitou a desconhecidos divulgarem seu ponto de vista (escrevendo, filmando, fotografando...) sobre os mesmos fatos analisados pelos grandes conglomerados midiáticos; devido à tecnologia, o mesmo fato é fotografado e filmado não somente pelas grandes corporações.

Esses desconhecidos, sejam eles blogueiros, sejam atuantes em redes sociais, também podem escrever bobagens. Seus disparates podem ser fruto de seus preconceitos ou de sua falta de conhecimento ao julgar determinado fato. Ainda assim, é alentador perceber que, a despeito da poderosa influência dos conglomerados, há pessoas nos mostrando outras possíveis interpretações.

Seria ingenuidade supor que blogueiros e frequentadores de redes sociais sejam capazes de influenciar tanto quanto poderosos meios de comunicação. Ainda que a maioria de tais blogueiros e frequentadores detivessem as mesmas técnicas de persuasão da grande mídia (alguns detêm), a atuação deles é pulverizada.

Mesmo assim, os relatos deles são mais ricos, necessários e úteis exatamente porque não são maquiados, não atendem a interesses econômicos de megacorporações nem a pressões de patrocinadores. Esse é um dos lados benéficos da tecnologia. É um alento saber que há pessoas antenadas e oferecendo uma visão não atrelada a questões empresariais.

Os grandes e poderosos meios de comunicação devem ser acompanhados. Não devemos ignorá-los, mas devemos, sim, desconfiar da visão que divulgam. Se por um lado há indivíduos disseminando ódio, preconceito e ignorância, por outro, existe hoje a possibilidade de se ter acesso a pensamentos individuais ricos e inteligentemente rebeldes.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

ESTELAR


Esta é a primeira foto de longa exposição que faço na tentativa de retratar o facho das estrelas. O tempo de exposição desta foto foi de uma hora, trinta e quatro minutos e quinze segundos. O tempo de exposição é a “duração” da foto; é o tempo em que a câmera ficou fotografando.

Como o que eu queria era precisamente captar o facho que as estrelas deixam, eu já sabia, de antemão, que precisaria de uma longa exposição. Para realizá-la, eu me vali de um cabo disparador acoplado à câmera.

A princípio, supus que um pouco mais de uma hora e meia de exposição não seria o bastante para produzir fachos com a extensão dos que estão na imagem. Quando vi a foto ainda no monitor da câmera, eu me surpreendi, pois eu havia suposto que noventa minutos de exposição produziriam “apenas” pequenos riscos no céu.

A foto foi tirada na fazenda da família do amigo Aldo Fernandes. Mais uma vez, obrigado a ele pela presteza em me levar até lá. Obrigado também à família do Aldo, sempre gentil ao me receber. Finalmente, obrigado ao Gabriel CZ, que me emprestou o tripé para que a imagem fosse realizada.

domingo, 2 de junho de 2013

INCURSÃO

“Fui para a floresta porque eu desejava viver deliberadamente, para me defrontar apenas com os fatos essenciais da vida, e ver se eu não poderia aprender o que ela tinha para ensinar, e não, quando eu morresse, descobrir que eu não tinha vivido”. O trecho é do imprescindível Thoreau. Tornou-se conhecido depois de uma paráfrase dele aparecer no filme “Sociedade dos poetas mortos”.

Vou para o Cerrado. Não há um lugar melhor do que o outro: há o lugar onde queremos estar. O Cerrado é onde quero estar para exercer a fotografia e para melhorar minha vida. À medida que vou deixando para trás a cidade, o Cerrado vai cada vez mais se insinuando, ofertando suas detalhadas belezas. Respiro, inspiro-me, fotografo.















APONTAMENTO 181

Essencialmente, é curiosidade, fascínio, espanto, vontade de entender. É desejo de interpretar, de iluminar. É senso de beleza... 

É minha definição para ciência. Mas poderia ser minha definição para arte.

sábado, 1 de junho de 2013

ENTREVISTA COM FÊ LEMOS, BATERISTA DO CAPITAL INICIAL

Ontem (31/05), na Livraria Nobel, aqui em Patos de Minas, Fê Lemos, baterista do Capital Inicial, esteve presente em seção de autógrafo de seu livro “Levadas e quebradas” (2012), lançado pelo selo Pedra na Mão.

Extremamente gentil e solícito, Fê Lemos me concedeu esta entrevista enquanto autografava seu livro para os fãs que estiveram presentes na livraria. Ele falou de “Levadas e quebradas”, de seu trabalho como letrista e de seu projeto solo, chamado Hotel Básico.