É cedo para saber se as manifestações que estão ocorrendo em algumas capitais brasileiras vão ter como consequência a radical mudança no modo de se fazer política no Brasil. É ingenuidade, pelo menos por enquanto, dizer que os políticos estariam, supostamente, com medo das manifestações. Por outro lado, os protestos são imprescindíveis — não em função de algum medo, seja de quem for, mas em função da conquista de direitos.
Nem preciso dizer que sou contra a depredação de patrimônios, sejam públicos, sejam privados. Contudo, a retórica midiática de que os manifestantes seriam um bando de moleques que não têm mais o que fazer da vida não convence mais. O próprio Arnaldo Jabor, na rádio CBN, admitiu que errou, ao sugerir que as manifestações eram coisa de gente sem causa.
Enquanto escrevo, acompanho notícia de que a Alerj, a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, foi depredada; também no Rio, um carro foi incendiado — não se sabe ainda por quem. A multidão não é homogênea, mas a violência não deveria partir dela. Gente imbecil e desordeira não deveria macular o dia. E não estou dizendo que sou contra manifestantes: sou a favor das manifestações. Sou, sim, contra a violência.
Precisamos ser espertos: não podemos dar aos políticos e à mídia a munição pela qual anseiam, para que depois não digam que tudo não passou de uma baderna coletiva e sem sentido. Ainda acredito na inteligência das pessoas. O dia de hoje foi, até agora, no todo, positivo.
No dia nove de maio, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, disse que o “povo não sabe de um décimo do que se passa contra ele”. Ainda segundo ele, se o povo soubesse, “ia faltar guilhotina para a Bastilha, para cortar a cabeça de tanta gente que explora esse sofrido povo brasileiro”.
Ora, a declaração, vinda de um político, é motivo o bastante para que protestemos, seja nas ruas, seja nas urnas, seja nos textos... Que haja clareza ao se definir os motivos dos protestos, não importa se contra a Copa, se contra o aumento de tarifas ou se contra impostos. O País não é de alguns. E depois de esvaziadas as ruas, que o amanhã não deixe esvaziar as atitudes por mudança.
(Em tempo: em Brasília, até agora, a polícia legislativa “apenas” observa a ação dos manifestantes no Congresso Nacional. Que não haja destempero por parte de alguns cidadãos que lá protestam. Ou onde quer que estejam.)
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