sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

DOSSIÊ NOVA YORK

Quem já foi locutor de estação FM sabe que às vezes a gente sente falta não é nem da locução em si, mas de anunciar uma canção específica de que gostamos muito. É meu caso com “Ziriguidum Tchan”, do Sá & Guarabyra. A canção é uma de minhas preferidas. Aos sábados à noite, num programa em que eu tocava só MPB e Pop/Rock nacionais, “Ziriguidum Tchan” era frequentemente executada.


Há uns cinco ou seis anos estou sem trabalhar em rádio. Desde que parei, não mais havia escutado a canção. A saudade já era muita; hoje, finalmente, eu a consegui. Estou há um tempão a escutando sem parar. Quando ela termina, eu a escuto de novo. Apesar de muito desafinado, gosto de cantá-la aos berros, o que faço agora, sozinho em casa, enquanto digito.

A canção está num LP (há o CD, lançado pela Eldorado) chamado “Vamos por aí”, que ainda tem “Meu lar é onde estão meus sapatos” e “Estrela natureza” (que chegou a ser trilha sonora de alguma novela). O trabalho é de 1990. Na época, lendo o encarte do disco, surpresa agradável: quem toca guitarra em “Ziriguidum Tchan” é o cantor e compositor Tavito – aquele do sucesso “Rua Ramalhete”.

“Ziriguidum Tchan” é sobre Nova York. Isso me fez lembrar de “A fogueira das vaidades”, de Tom Wolfe, publicado pela Rocco. O prefácio é de Paulo Francis, que escreveu: “Wolfe disse que ninguém mora em Nova York pelo clima ou pela qualidade de vida. (...) Pode-se ir a museus em outras cidades e ouvir música (bem melhor) na Europa. Em Nova York se vive pela ambição de ser número um no que se faz e não se poupa esforços, às vezes com resultados cruéis, para derrubar quem nos tolhe o caminho” (...).

Indico a leitura do livro de Tom Wolfe. “A fogueira das vaidades” foi seu romance de estréia. Estupendo debute. Em 1991, a obra foi transformada em filme homônimo por Hollywood, com Tom Hanks no papel principal. A direção é de Brian de Palma.

A foto a seguir é de Thomas Hoepker, da agência Magnum, tirada no histórico 11 de setembro de 2001. Na imagem de Hoepker, enquanto as torres gêmeas deixam escapar espessa fumaça, o primeiro plano mostra um grupo de jovens conversando. Discute-se muito se a foto revela inércia, atitude alienada ou incapacidade de comoção. Sabedor da polêmica que o registro causaria, Hoepker somente o divulgaria em 2005. Abaixo da foto, a letra de “Ziriguidum tchan”.
Nova York é ali
Tão perto daqui
O piloto sorri
Lá se vai o avião

Eles são o que rola
Eles fazem a moda
Nova York é mais perto
Que o sertão

Nova York é ali
Tão perto daqui
Oito horas de vôo
E ilusão

Nós pisamos na bola
Eles ganham em dólar
Nova York é mais perto
Que o sertão

Crack, rap, hip-hop, rock
Walk, don't walk now
Ziriguidum tchan

Se a viagem nos faz
Brasileiros demais
Cucarachas gerais
Na multidão

Essa ilha sem paz
Não se importa jamais
Nova York é mais perto
Que o sertão

Escondidos no fundo
Do umbigo do mundo
Joe nunca se encontra
Com João

Eles não se interessam
Eles não se conversam
Nova York é mais perto
Que o sertão

6 comentários:

Nélio Lobo disse...

Master, não se discute que a foto de Hoepker possa ser uma montagem ou encenada, forjada? Não que eu duvide da capacidade de alienação dos jovens, nem porque achei a situação improvável, mas porque pareceu-me demasiado artificial. Abraços!

Lívio Soares de Medeiros disse...

Manoel, nunca fiquei sabendo se há a discussão de uma possível encenação. Caso eu saiba de algo a respeito, digo.

Nélio Lobo disse...

OK, master. Quanto ao FOGUEIRA, de Wolfe, há muito eu gostaria de relê-lo. Quem aprecia o chamado "novo jornalismo" creio que iria gostar também de A SANGUE FRIO, romance de Capote que teria inaugurado esse estilo.

Lívio Soares de Medeiros disse...

Obrigado pela indicação, Manoel.

José Resende disse...

Muito bom seu blog. Vc escreve muito bem. Bom encontrar escritos inteligentes na net. E bons e velhos tempos também aqueles da "Voz do Brasil" quando vc apresentava aos sábados e não só tocava as músicas como também falava sobre elas. Lembro até hj da gravação q vc passou do Renato Russo falando do show que fizeram em Patos de Minas no começo da Legião. Uma verdadeira relíquia. Parabéns pelo blog.

José Maria de Resende.
jmrhevolution@gmail.com

Lívio Soares de Medeiros disse...

Caro José Maria, obrigado mesmo pelos elogios. Quanto à "Voz do Brasil", era um programa que eu gostava muito de fazer. Legal demais você se lembrar de quando passei a gravação do Renato Russo.

Obrigado mesmo pela força.