domingo, 22 de março de 2020

Por que sou contra os panelaços

O João Doria foi mais um que disse ter se arrependido de seu voto para presidente na última eleição presidencial, como se ele, Doria, fosse um gamo inocente que não sabia o tipo de político que o presidente tem sido ao longo das décadas. Há a história dos ratos, os quais, segundo a alegoria, abandonam o navio ao pressentirem o afundamento. Em breve, Doria vai estar noutro barco, que também vai abandonar.

A cara de pau do Doria é a mesma da Janaina Paschoal, é a mesma do Lobão, é a mesma da Folha de S.Paulo no editorial “Sob ataque, aos 99”, é a mesma dos que bateram panela defendendo golpe, é a mesma dos que votaram no atual presidente por ele defender ditadura, por ele defender milicianos, por ele defender torturadores... Enfim, gente que votou no atual presidente exatamente por ele ser quem é. 

Agora, não me venham com conversinha mole de que estão decepcionados. Conversei com algumas libélulas, aqueles delgados e graciosos insetos. As libélulas me disseram saber há tempos: alguém que não é capaz de se portar como estadista em águas brandas não se comportaria como estadista num mundo povoado por covid-19. Boa parte dos que bateram panela ontem e boa parte dos que estão agendando via internet bater panela hoje à noite, com seu disfarce de cidadania, são uns desavergonhados. 

O presidente está sendo o político que ele sempre foi. Ele pode e deve ser acusado de centenas de atrocidades, mas não pode ser acusado de estar sendo quem ele não era. Os “paneleiros” se fingem surpresos, indignados. Ora, isso é cinismo. O mais expressivo e estrondoso dos atos seria defender a democracia, seria defender a civilidade. Prefiro fazer isso a meu modo a me juntar, seja batendo panela, seja compartilhando chamamentos para outros “paneleiros”, com quem se afina com a ideia de que o erro da ditadura foi não ter matado mais.

Quero dizer com isso que ninguém está sendo genuíno ao bater panela ou ao se dizer arrependido de seu voto para presidente? Não, não quero dizer isso. Em nenhum trecho de meu texto, generalizo. O que quero dizer, é que boa parte dos “paneleiros”, na primeira oportunidade, vai eleger um novo Collor, um novo Bolsonaro. Boa parte dos “paneleiros” é como o dono do posto de gasolina que agora esbraveja contra o valor cobrado pelo álcool em gel, fingindo que não aumentou o valor do combustível quando da greve dos caminhoneiros. Entrementes, vou ali preparar um guisado.
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(Esse texto deveria ter sido publicado no dia 18 de março. Eu o deixei como rascunho e me esqueci de postá-lo aqui. Ainda assim, ei-lo.) 

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