Esta é minha tia Olinda; ela é irmã de meu pai (ele morreu há vinte anos). Olinda tem oitenta, é viúva há sessenta. Se não me engano, um trem de ferro passou por cima do ex-marido dela numa visita que ele fez a um parente em Barbacena. Viúva aos vinte anos, Olinda nunca se casou novamente. Ela e o ex-marido tiveram três filhos.
Há um tempão era ideia minha fotografar a tia Olinda, que é uma senhora simples e que mora no mesmo lugar, uma casa também simples, desde que tenho memória. Durante a sessão de fotos, ela disse que a casa estava desarrumada, mas comentei com ela que minha intenção era buscar certa espontaneidade não só no lugar, mas também em minha tia.
Para isso, nada de poses mirabolantes; ademais, não faria sentido pedir isso a uma senhora. Procurei apenas pedir a ela que se virasse e que ora encarasse a lente, ora não a encarasse. O ensaio foi breve e frutífero. A tia Olinda não ficou sem jeito diante da lente, para a qual ofereceu expressão e olhar fortes.
Enquanto eu tirava as fotos, ela ficou rememorando as histórias da família, em especial, as ligadas a mim e a meus irmãos. Num certo momento, disse-me que quando eu era pequeno, eu dizia que queria ser escritor quando eu crescesse. Eu jamais me lembraria disso.
A rigor, mesmo depois de a tia Olinda ter mencionado a pequena história, não consigo me lembrar de alguma vez ter dito que eu queria ser escritor. Mesmo assim, fiquei contente em saber que na infância eu expressava esse desejo, que, afinal, concretizou-se.
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