Ir a um show do Roger Waters e esperar que ele não critique o neofascismo é o mesmo que ir a um show do Slipknot e esperar que cantem canções de ninar. Parte dos “fãs” do Pink Floyd provaram que só sabem o basiquinho sobre a banda.
Ainda na primeira metade da década de 70, quando meu pai colocava os discos do Pink Floyd para tocar aqui em casa, não tínhamos entendimento das letras; nem eu nem meu pai sabíamos inglês. Se, por um lado, pode-se argumentar que a letra não seja a coisa mais importante numa canção, por outro, a letra pode conter uma visão de mundo, uma mensagem política, humanitária.
Na minha infância, Patos de Minas era uma cidade menor ainda do que é. O acesso à informação era restrito. Minha família não conhecia nenhum gringo que pudesse esclarecer para mim ou para meu pai o significado das letras, o sentido da obra do Pink Floyd, a ideologia, as críticas politizadas. Só mais tarde, quando adolescente, é que comecei a ter uma visão mais ampla do que era a banda.
Hoje em dia não há pretexto para não se conhecer do modo apropriado o trabalho de um artista. “Fãs” que se irritaram com o Roger Waters por causa do show ontem em São Paulo provaram que nunca se deram nem o trabalho de irem ao Google para conferir algumas traduções de algumas pérolas da banda.
Eu não iria hoje, por exemplo, nem a um show do Ultraje a Rigor nem a um do Lobão, a despeito de considerar o Roger Moreira e o Lobão talentosos artistas. De quebra, gosto demais do modo como o Lobão canta. Só que ir a um show deles hoje é escutar o tipo de discurso que o Roger Waters criticou ontem em São Paulo.
Quem está criticando o ex-integrante do Pink Floyd prova que não entendeu a proposta da banda, por mais que se declarasse fã. São como pessoas que leram literatura mas encararam o texto como mero trabalho intelectual, sem entender que a literatura sou eu, é você, é seu vizinho, somos nós. O trabalho do Pink Floyd é mais do que som ambiente para viagens psicodélicas. Só ontem alguns brasileiros se deram conta disso. Eles ouviam Pink Floyd, mas nunca haviam escutado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário