Investe-se demais na informalidade. Isso, em si, não é o problemático. O problema, todavia, ocorre quando se apoia na informalidade excessiva para não se assumir aquilo que daria trabalho para ser levado a cabo. Seguindo essa linha, ancora-se na informalidade para não ter de se entregar a um aprendizado ou a um dever.
Qualquer pessoa que tenha algum domínio da língua portuguesa e que use esse conhecimento em suas relações é, com frequência, considerada pedante, chata, careta. Pode haver pedantismo, chatice ou caretice no modo como uma pessoa usa o idioma, mas o cuidado com ele não é necessariamente sintoma de algo negativo.
O excesso de informalidade acabou criando a cultura do descompromisso, do estranhamento quando alguém opta pelo uso esmerado das palavras. Nesse quadro, alimenta-se a ideia de que o uso com capricho da língua está, pela existência dele em si, ligado a algo formal. Tal ideia não se sustenta. Na descontração, no carisma e no humor pode haver o cuidado com o modo como nos expressamos.
Caretas são o machismo, a xenofobia, o racismo, a intolerância, a prepotência. Buscar a excelência ao escrever e ao falar não impede adequação da linguagem nem transforma de modo compulsório um indivíduo num chato. Muitos nem se dão conta de que o excesso de informalidade pode ser invasivo, constrangedor, perturbatório.
É mais fácil dizer que o outro é formal ou é empolado do que assumir a tarefa de tentar soar bonito, grandioso, respeitoso. Ancorados em seu comodismo, muitos preferem enxergar formalidade ou chatice em quem muitas vezes tem, sim, respeito pelo outro e amor pelo idioma.
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