Do ponto de vista estritamente comercial, o anúncio da Gillette estrelado por Neymar é um sucesso. Ainda sob a ótica marqueteira, investir num texto piegas foi a decisão certa, pois a pieguice comove muitos. O tom é de se buscar uma simbiose entre o "herói" e o público. Se os dois estiverem em sintonia, o "herói" erguer-se-á.
Esse é o astral da estratégia. Todavia, nessa vida tão multifacetada, nem tudo é dinheiro. O comercial soa falso não só pela abordagem melosa, mas porque o jogador não caiu num sentido metafórico. As quedas dele em campo, não importa se fingidas, não importa se inevitáveis, compõem o que faz parte da profissão dele: todo jogador de futebol cai. Ao querer transformar as quedas em campo de Neymar em metáfora que simbolizaria o erguer de quem estava arrasado, a peça publicitária parte da premissa de que houve derrocada do jogador fora (e dentro) de campo, o que não ocorreu. Tanto é assim que num evento ocorrido recentemente em São Paulo, o pai do jogador disse que a carreira do filho continuaria sendo gerenciada como vinha sendo. O comercial da Gillette prova que o pai do atleta falou a verdade.
Neymar não é um derrotado, não caiu, não ruiu. Mesmo nunca tendo sido eleito o melhor do mundo (numa premiação em que um sujeito como o ex-técnico Parreira vota) nem nunca tendo ganhado uma Copa do mundo (título que ele ainda pode conquistar), Neymar é um profissional bem-sucedido. O comercial da Gillette é só a mais recente prova disso.
Tudo na produção foi pensado para causar empatia. Em muitos, causou e vai causar. Só que a pieguice destrói o potencial, a eficácia e o efeito de um texto. Claro que o apelo fácil à comoção era um dos objetivos do comercial. Reitero: foram bem-sucedidos. Mas a ideia de fragilidade e de humanidade veiculada num anúncio publicitário não me comove. Neymar continua sendo um eficiente garoto-propaganda e não é ainda o garoto-futebol que mídia e anunciantes insistem em dizer que ele é.
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