quarta-feira, 6 de junho de 2018

Que o Brasil não ganhe a Copa do mundo

Os tentáculos da Globo e os grandes anunciantes fazem de conta que patriotismo e patriotada são a mesma coisa. Em anúncios piegas, ora enaltecem glórias passadas do futebol nacional ora colocam Tite em cena. A competência dele no futebol pode levar a seleção da CBF a ganhar a Copa. Se isso ocorrer, mídia e grandes empresas investirão mais ainda no pseudopatriotismo que propalam. 

A Globo, que prima por moldar a realidade do país à feição de seu projeto maquiado de brasilidade, tem todo interesse em que o Brasil seja campeão na Rússia, o que seria perfeito na tentativa de se criar uma onda “patriota” que seguiria omitindo os esquemas escusos da CBF, o 7 a 1 e os problemas que assolam o futebol nacional. Um deles, o calendário e os horários estúpidos, exigidos pela própria família Marinho.

O título do Brasil seria perfeito para a Globo e para seus poderosos anunciantes. Precisamente pela influência que têm, soprariam sobre o país um bafo de pseudoufanismo e de falsa autoestima. Como são muito poderosos, convenceriam muitos de que somos o tal do país do futebol, embora não sejamos. 

Para eles, que sabem realizar muito bem a mistura entre futebol e política, é boa a ideia de a população supor que, mesmo no governo Temer, ainda somos um país possível, viável. O hexacampeonato seria um afago, uma suspensão do peso do cotidiano. Um olhar um pouco mais cuidadoso, todavia, descortina o nosso futebol chinfrim e a caricatura de país que nos tornamos. Ganhar uma Copa não é atestado de que por trás do título há uma nação.

Não há dúvida de que o futebol pode ser algo mágico, bonito, emocionante. Qualquer pelada entre amigos pode conter elementos épicos ou grandiosos. Podendo o futebol ser tão elevado, o que lamento não é a existência dele em si, mas ele ter se tornado ferramenta política e dispositivo de manipulação nas mãos de empresas como Globo, como seus anunciantes e como a CBF, organizações que não têm o menor interesse no bem do Brasil nem no do futebol aqui praticado.

Se o Brasil ganhar a Copa, vão dizer que o orgulho de ser brasileiro foi resgatado. Jamais vão admitir que é melhor ter um péssimo futebol mas um país decente. A euforia da conquista caso o hexa venha será inflada. O sucesso será garantido, pois eles têm ao seu lado o pessoal que vestiu a camisa da CBF e fez passeata alegando cidadania de 2013 para cá. 

O que vai curar este país doente não é a conquista de um torneio esportivo. Eu gostaria muito que o futebol não fosse usado como instrumento para tapear incautos ou para enriquecer espertalhões, pois ele é maior do que Globo, CBF, patrocinadores e paneleiros. O futebol não deveria ser usado usado como paliativo contra as dores de um país que não consegue se fazer.

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