domingo, 30 de julho de 2017

A história por trás da foto (107)


Hoje pela manhã, fui acordado por estas duas maritacas, quando pousaram na antena de TV que fica no quintal do vizinho. A princípio, pensei que logo fossem embora. Durante algum tempo, ainda deitado na cama, fiquei escutando o que diziam uma para a outra.

Curioso para saber como eram as criaturas que diziam aquelas palavras, abri a janela do quarto. As maritacas me olharam, continuaram conversando. Fechei a janela, voltei para a cama. O bate-papo delas prosseguiu animado.

Enquanto conversavam, eu ficava pensando se haveria tempo de eu fotografá-las. Em vez de pensar, eu deveria logo ter ido pegar a câmera. Ao pegá-la, eu teria de retirar a lente que estava nela e de nela acoplar a lente própria para registros de aves e de pássaros.

Como o diálogo das maritacas seguia animado, eu me levantei, peguei a câmera, troquei a lente e fui para o quintal, fingindo displicência, a fim de não espantá-las. Pode ser que esse cuidado nem tivesse sido necessário; queriam é ser fotografadas. Tanto que, antes de voarem, agradeceram-me. 

Com gosto

Gostou; passou a se envolver. 
Envolveu-se; passou a gostar. 
Pode se envolver e gostar; 
pode gostar e se envolver. 
Gosta (de si) quando há gosto.
Quando há envolvimento, gosta (de si).
Gosto e envolvimento; 
envolvimento e gosto.
Gostando, fica envolvente; 
envolvendo-se, torna-se gostosa. 

sábado, 29 de julho de 2017

A história por trás da foto (106)




Ontem, graças aos amigos Roney, Vicente e Clarindo, que trabalham no mesmo lugar em que eu, pude fotografar pela primeira vez um filhote de urubu. Roney é que sabia onde o ninho está. Prestativo, me levou até o local, que fica ao lado de onde trabalho.

Quando nós quatro chegamos lá, o que suponho ser a mãe (pai?), que estava por perto, deixou o ninho, que fica no chão, e voou para uma árvore próxima. De lá, ficou nos olhando. Depois, eu a fotografei durante seu voo. Nesta postagem, duas fotos do filhote e duas da mãe (ou do pai). 

quarta-feira, 26 de julho de 2017

Releituras

A releitura é o desejo de que o livro tivesse continuado. Ela ensina que certos livros não terminam, que sempre podemos ser inéditos para nós mesmos. 

“Caderno de Poesias”

Certas leituras fazem com que eu faça sentido, com que eu faça sentindo. Foi assim com a leitura de “Caderno de Poesias”, coletânea de textos escolhidos pela cantora Maria Bethânia. Além do livro, há um DVD, em que os textos selecionados por Bethânia são ora declamados ora cantados por ela. Livro e DVD, que não são vendidos separadamente, foram lançados em 2015 pela editora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Tudo é bonito no trabalho. O livro tem diagramação sóbria e artística. Além dos textos, há reproduções de trabalhos realizados por artistas plásticos brasileiros; pinturas, gravuras ou desenhos dialogam com os textos escolhidos por Bethânia. Não bastasse esse diálogo intertextual entre diferentes linguagens, há ainda um diálogo de textos escritos com outros textos escritos, pois a cantora une diferentes autores num só registro declamado.

Não somente a estética do livro é apurada. O DVD, gravado em Diamantina/MG, tem, além da beleza do canto de Bethânia, a imensa habilidade dela na arte da declamação. Dizendo de outro modo, Bethânia é também atriz. Há uma comovente beleza tanto no livro quanto no DVD, uma sofisticação que nada tem de afetada. No registro em DVD, Bethânia foi acompanhada por um percussionista e por um violonista.

Um bom livro sempre nos torna belos e lúcidos. Hoje, apreciei o livro e o DVD. Estou lucidamente belo. Ou belamente lúcido. Não bastasse a confluência de artes que há em “Caderno de Poesias”, o trabalho é uma aula de história, a história do Brasil ou a de traços do caráter do brasileiro, a partir do olhar artístico, seja de letristas, de escritores, de artistas plásticos. O que emerge do caderno de poesia que Bethânia nos oferta é um Brasil talentoso, rico, multifacetado, eclético.

Todavia, não há ingenuidades. A exaltação do país em “Caderno de Poesias” não diz respeito a pseudoufanismos, a patriotadas. Os problemas sociais do Brasil convivem, no livro e no DVD, tanto em textos quanto em trabalhos plásticos, com o amor, a saudade, a reflexão sobre o que somos, a política, a exaltação da natureza e a preocupação ecológica. O que surge é uma parte do que somos, de nosso caráter, de nossa arte.

Para Bethânia, não há hierarquia de gêneros nem separação entre o erudito e o popular. Na força de sua declamação, há Patativa do Assaré e Fernando Pessoa, Fausto Fawcett e Guimarães Rosa. O talento de Bethânia faz com que o poder do texto, não importa se sua matriz tenha sido um livro ou um disco, venha à tona, numa interpretação contida, mas comovente e poderosa.

“Caderno de Poesia” é alento, alívio, tributo ao que o espírito humano pode criar. Um show de brasilidade, de confluências artísticas, de espírito gregário. É incrível o quanto o trabalho é, ao mesmo tempo, visceralmente brasileiro e cosmopolita. 

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Gerenciamento de pessoal

Rádio CBN e portal Yahoo informaram hoje que a prefeitura de São Paulo, encabeçada por João Doria, contratou empresa para acordar, na madrugada de quarta-feira (19/07), moradores de rua com água fria. Quando foram acordados, a temperatura estava em torno de oito graus; a sensação térmica era de haver mais frio.

Esse é o decantado “gestor” Doria. 

Fotopoema 407

terça-feira, 18 de julho de 2017

Marcus Vinitius da Cruz de Melo Moraes

Sou muito ruim para me lembrar de datas. Tenho um amigo que é capaz de se lembrar de como foi, por exemplo, o ano de 1992 na vida dele. Eu não me lembro nem de como foi minha semana passada (sic). De qualquer modo, houve um ano de que não me esqueço. Para ser mais preciso, houve um mês que não esqueço. O ano é o de 1980; julho é o mês.

Sou de um tempo em que não íamos para a escola mal tendo saído da barriga da mãe. Hoje em dia, qualquer criança com dois dias de vida já frequenta bancos escolares há tempos, faz aula de xadrez, de idiomas e de karatê. Eu somente soube o que era um banco de escola quando eu tinha sete anos. Nesse tempo, não havia aulas em julho, e quando o fim do ano ia se aproximando, o ano letivo se encerrava. A impressão que eu tinha era a de que ficávamos décadas sem voltarmos para a escola. Eu chegava a sentir saudade do ambiente escolar.

Não me lembro do que eu estava fazendo naquele julho de 1980. Todavia, lembro-me especificamente de uma ocasião. Uma olhadela na internet me diz que essa ocasião ocorreu em nove de julho de 1980. Assim que fiquei sabendo do fato, lamentei demais estar em férias, pois eu queria muito contar para a professora, dona Vitória, e para os colegas de sala a informação de que eu havia tomado conhecimento.

Assim foi. Passei o resto das férias de julho de 1980 contando os dias que faltavam para que eu tivesse a oportunidade de compartilhar com a professora e com os colegas o que foi, para mim, o grande acontecimento (ruim) daquele mês. Houvesse redes sociais naquela época, talvez eu tivesse feito uma postagem marcando os amigos e a dona Vitória. Como não era o caso, o jeito foi aguardar com ânsia o recomeço das aulas.

Quando recomeçaram, não fui logo desvendando para os colegas a informação, embora doido para contá-la para todo mundo. Cumprimentos de praxe, todo mundo perguntando para todo mundo como haviam sido as férias. Quando já estávamos todos em sala de aula, mal tendo a dona Vitória nos cumprimentado, levantei o dedo, pedindo autorização para dizer algo. Assim que ela ma concedeu, o coração disparou. Criei coragem. Eu disse: “Dona Vitória, o poeta Vinicius de Moraes morreu no dia nove deste mês”. 

sexta-feira, 14 de julho de 2017

Gotas e pétalas

Recebi no celular uma mensagem com palavras atribuídas ao Neruda: “Poderão cortar todas as flores, mas não poderão deter a primavera”. Embora o tom seja nerudiano, não sei dizer se a citação é mesmo dele. Uma rápida pesquisa na internet mostra que a autoria é também atribuída a Lino J. Somavilla. Caso alguém saiba quem é mesmo o autor, gentileza me dizer.

À parte isso, a essência das palavras é a mesma de pichação que li na parede de uma loja que ficava na rua Dona Luíza, aqui em Patos de Minas. Penso ter sido na década de 80; talvez, na de 90. Picharam: “Eles destruíram nossas vidas, mas não as nossas ondas. Assinado: Os Surfistas”.

Com frequência, em companhia de amigos, cito a pichação. Ela é afronta, acinte inteligente e poderoso, não por ter sido pichada. Ela é lema e leme, é convite à poesia, à esperança, à utopia. Há um senso rebelde que não me abandona, que não é só meu. Com gotas e pétalas, faremos ondas e primaveras. 

terça-feira, 11 de julho de 2017

HDR

Mais HDR

Plataforma L

Manuel Bandeira e
Machado de Assis
estiveram num 
mesmo bonde.

Fernando Sabino e
Manuel Bandeira 
estiveram num
mesmo ônibus.

Leio e viajo. 

Chama que eu vou


Já leu?

Amor de Palavra, meu livro mais recente, está à venda na Livraria Nobel, no Pátio Central Shopping. Há também exemplares do Dislexias, meu livro anterior. 

Liviano

Meu primeiro livro se chama Leve Poesia. Se um dia ele fosse vertido para o espanhol, a versão literal do título seria Liviana Poesía. “Liviano”, em português, é aquilo relativo a Lívio. No dicionário da Real Academia Española, curti duas definições para “liviano”: “De poco peso” e “de poca importancia”. 

domingo, 2 de julho de 2017

Atlético vence o Cruzeiro no Independência

Sempre digo que uma partida de futebol é uma bela metáfora do que é a vida, por mais sem graça que seja a partida. Mesmo em casos assim, qualquer jogo de futebol é um microcosmo do que é a vida, das circunstâncias dela. Reflexo da vida, futebol é movimento, imprevisibilidade, feiura, beleza, emoção.

Há pouco, no Independência, em Belo Horizonte, Atlético e Cruzeiro realizaram um bom jogo de futebol, principalmente no primeiro tempo. A primeira metade da primeira metade da partida foi dominada pelo Cruzeiro; pouco a pouco, o Atlético caiu nos eixos, a ponto de terminar o primeiro tempo já em vantagem, mesmo tendo começado perdendo.

O destaque do jogo foi Casares, não só pelo belo gol marcado em cobrança de falta. Já Fred fez o que desde tempos sabe fazer muito bem: gols (fez dois hoje). O de cabeça, após receber cruzamento de Casares.

Foi um típico atlético versus Cruzeiro. Houve momentos truncados, discussões, provocações. Mesmo o segundo tempo não tendo sido tão bom quanto o primeiro, o jogo, no todo, foi muito bom. A despeito dos três gols que levou, dos quais não teve culpa, Fábio, mais uma vez, teve bela atuação.

Com a vitória, o Atlético não somente ultrapassou o Cruzeiro na tabela, mas galgou vários degraus em relação à posição em que estava antes do início da rodada. Da parte do Cruzeiro, o técnico Mano Menezes precisa dar um jeito na zaga, que continua levando muitos gols. Foi assim no jogo do meio da semana contra o Palmeiras, foi assim hoje; tem sido assim.

É curioso: mesmo não tendo obtido sucesso, o Cruzeiro tem sido coprotagonista de belas partidas. Recentemente, foi assim contra o Grêmio (pelo campeonato brasileiro) e contra o Palmeiras (pela Copa do Brasil); hoje, foi assim contra o Atlético. É claro que o torcedor cruzeirense trocaria os empates contra aqueles e a derrota contra este por vitórias, ainda que em partidas ruins. Mas esse é outro dado não somente do futebol, mas da vida: um belo todo nem sempre implica vitória. Por outro lado, se o time não ganha em partidas assim, ganha quem gosta de futebol.