As empresas donas de redes sociais sabem muita coisa de nossas vidas por intermédio dos dados que nós mesmos fornecemos a elas. A partir daí, chegam até nós os anúncios que em tese vão nos seduzir, de acordo com as informações que passamos para os que gerenciam tais redes. Nesse jogo, todos se divulgam, divulgam sua visão de mundo, sejam indivíduos, sejam empresas.
Quanto à interação entre os indivíduos, a ideia que é vendida é a de que as redes sociais existem para divertir, para nos conectar, para que tenhamos acesso, ainda que virtual, ao outro, embora, na prática, a rusga, no mais das vezes, seja mais real do que a divulgada sintonia. O que supostamente é congraçamento torna-se, na verdade, invasão ou ausência de privacidade; com frequência, opiniões são substituídas por bate-bocas.
No caso dos aplicativos de mensagens, passamos quase a não ter a opção de não estarmos neles. Os aparelhos eletrônicos recentes os permitem; a sociedade nos “obriga” a fazer parte da “comunidade”, seja por causa da família, dos amigos, do trabalho. Intensificando o que dizem ser intercâmbio, surgem os grupos, que, não raro, levam a desentendimentos. Aqueles que não aderem a esses grupos seriam os turrões, os que têm pouca habilidade de interação.
Tanto em redes sociais quanto em aplicativos para mensagens, a fronteira que separa o público do privado vai se esmaecendo, de modo que, espontaneamente, as pessoas passam a expor a intimidade, seja a do corpo, seja a do pensamento, seja a do outro. Se não houver curtidas ou se a postagem não reverberar num grupo, a pessoa se sente ultrajada, não valorizada, ignorada.
Dependente da curtida ou do comentário do outro, o que se divulga é a ideia de felicidade e de exercício do instinto gregário, num universo de que nem ensimesmamento nem tristeza nem solidão fazem parte; todos estão vivendo a melhor das vidas. Quando não é assim, muitos partem para o oposto, que é expor as mazelas psicológicas em confissões públicas, fazendo de redes sociais um perigoso e falso consultório terapêutico, lotado de espectadores, desnudando para muitos os fantasmas da alma.
Não seria razoável dizer que redes sociais não possam ser prazenteiras para o indivíduo; não faria sentido negar as vantagens comerciais que podem ser alcançadas por intermédio delas. Até recentemente, emissoras de rádio e de TV, bem como periódicos, eram os meios pelos quais se divulgavam marcas, eventos, espetáculos, carreiras artísticas... Hoje, há quem invista apenas em redes sociais para divulgar o próprio trabalho ou a empresa.
O problema surge é no indivíduo, que, muitas vezes, em suas carências ou fraquezas, torna-se refém de aplausos virtuais, de glórias tênues, passageiras e ilusórias. Ou quando torna públicas suas facetas mais obscuras e bizarras.
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