São poucas as pessoas que têm a oportunidade de realizar no trabalho o que têm de melhor. Não bastasse isso, e já é grave o bastante tantas pessoas não terem a oportunidade de serem o melhor que são em seu trabalho, há uma teia burocrática e um arranjo pseudossofisticado que pode deixar a impressão, em alguns, de que o trabalho é intelectual, criativo, quando, na verdade, é braçal; é uma espécie de linha de produção em que se trocaram esteiras e bigornas por papéis e carimbos.
É triste que muitos passem uma vida toda mergulhados num trabalho que nada lhes acrescenta; quando muito, recebem pouco dinheiro, não raro iludidos de que estão recebendo mais do que o bastante pelo que fazem. Dizem com orgulho que estão trabalhando muito, sentem-se úteis para seus chefes, para sua comunidade, sem ter a noção de que estão é matando o que têm de melhor em nome de uma causa que pouco se importa com o modo como alguém pode ser uma pessoa melhor, mais ampla, mais capaz, mais inteligente. A melhor maneira de contribuirmos para a sociedade é termos a oportunidade sermos o que podemos ser.
Engravatados e com ternos de preciso corte, muitos se emaranham no jogo, desperdiçando energia física e intelectual em ilusões que minam o poder criativo. Lamentável não ocorrer a muitos a ideia de que podem se despojar de parte do trabalho que têm de executar. Se fizessem isso, teriam mais tempo para si; tendo mais tempo para si, poderiam descobrir recantos inexplorados e ricos no próprio terreno, no próprio quintal. Mas é tarde de sábado. O chefe está ligando. O estudo de astronomia pode ficar para outra hora.
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