Há um paralelo, que reconheço ser um tanto ingênuo, que faço entre as obras de Borges e de García Márquez: ambos produziram uma literatura feliz, por mais pobre que esse adjetivo soe.
O argentino, por intermédio de um ludismo nobre e elevado, cheio de referências literárias; o colombiano, por meio de uma prosa fluente, com senso de humor e permeada pelas facetas do sentimento amoroso.
Em García Márquez, a questão política fala mais alto do que em Borges, que, no todo, voltava-se mais para uma literatura que faz de si seu grande tema, bem como para deliciosas questões metafísicas. Já García Márquez, a despeito de magias macondianas, tem, por assim dizer, um enfoque mais terreno.
Ambos, contudo, tanto em suas literaturas quanto em suas entrevistas, apontam para uma felicidade possível, tanto a partir da criação literária quanto a partir das circunstâncias da vida. Parece-me que foram dois felizes.
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