segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

TIÃO NO MUNDO

“Senti-os possuidores de um segredo que não compartilhariam” (Borges).
“Vivo no mundo, mas não faço parte dele” (frase atribuída a J.D. Salinger).

Tião conhece clubes, 
tem emprego, 
percorre corredores.

Um demiurgo cochicha a seu ouvido
que o mundo esconde algo dele.
Tião nunca saberá do que se trata.

A humanidade tem escondido dele 
algo que é partilhado com todos.
Não com ele.
Para ele, é segredo.
Hermético será.

Um truque,
uma artimanha,
um jeito de ser,
uma solução.
A chave não será dele.

Tivesse coragem,
perguntaria aos passantes,
aos amigos
ou à esposa.
Mas não tem.
No Google,
não achou resposta.

Frequenta multidões,
festas, simpósios.
Dirige pela cidade imensa,
joga bola com os amigos,
põe gelo no uísque.

Não adianta.
Ele sabe que
há um jogo 
do qual não faz parte.
Algo que é corriqueiro
e fácil para os outros.

Tião se sente numa festa para a qual 
parece não ter sido convidado.
Sente-se numa festa
para a qual parece 
ter sido convidado. 

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